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Recife é tech. Tudo começou com 3 professores no Cesar

A história do Cesar, polo pernambucano de tecnologia, mostra que o investimento em pesquisa pode gerar emprego e inovação

Marília Lima, da SiliconReef (Lia Lubambo/EXAME.com)

Marília Lima, da SiliconReef (Lia Lubambo/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2013 às 16h41.

São Paulo - Recife, a capital pernambucana, emprega atualmente 5 000 profissionais em cerca de 300 empresas de tecnologia da informação criadas por cérebros locais. A cidade nordestina foi eleita recentemente a quarta metrópole mais criativa do país pela Federação do Comércio de São Paulo.

A semente para a mudança da economia local teve origem na cabeça de três professores: Silvio Meira, Fábio Silva e Ismar Kaufman. Eles fundaram, em 1996, um centro privado de inovação para a criação de produtos, serviços e empresas. Esse local é o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, mais conhecido como Cesar.

Desde então, o mercado de TI nunca mais foi o mesmo. De 1996 até hoje, foram criadas 31 companhias e mais de 45 negócios gerados por essa incubadora de tecnologia que emprega, desde 2006, uma gestão de investimento profissional. A excelência do conhecimento gerado pelos engenheiros, cientistas da computação, designers e demais trabalhadores do Cesar já foi reconhecida com dois importantes prêmios de melhor instituição de inovação do Brasil, em 2006 e 2011, concedidos pela Finep, a financiadora de estudos e projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia. 

O Cesar está diretamente ligado à idealização e à implantação em 2000 do Porto Digital, primeiro parque tecnológico de Recife, que mudou de vez a cena do empreendedorismo pernambucano. Em 2010, o Porto faturou 1 bilhão de reais com suas 200 empresas. A próxima colaboração do Cesar para o setor local deverá ser anunciada em breve. Trata-se de uma aceleradora de empresas em parceria com o governo do estado para apoiar startups, companhias em fase inicial de operação, com gestão profissional. 

De visão crítica bem apurada sobre a realidade brasileira, Silvio Meira acredita que o país precisa urgentemente reduzir o custo de produção para se tornar mais competitivo globalmente e internacionalizar sua mão de obra, se quiser virar o tabuleiro internacional a seu favor.

“Trabalhar do Brasil competindo mundialmente. É isso o que fazemos aqui. No nosso tipo de negócio, o lugar não é mais o eixo Rio-São Paulo, é o mundo.” Os motivos são óbvios. O mercado de TI brasileiro representa apenas 2% do share global, avaliado em mais de 500 bilhões de dólares. Portanto, é lá fora que estão as oportunidades. 

Quem caminha pelos corredores do Cesar consegue ter essa noção de internacionalização através dos nomes de algumas empresas globais impressos nas baias e nas salas. A sede do centro de tecnologia fica em um antigo casarão reformado do início do século 20, que já foi um armazém de secos e molhados, situado no bairro do Recife Antigo, uma região portuária no passado, que continua em lento processo de revitalização e reocupação.


Quase tudo o que se vê lá dentro está sob contrato de sigilo. São projetos estratégicos de lançamentos mundiais para marcas como Motorola, Samsung, HP, Siemens, Dell, IBM, entre outros clientes, que incluem brasileiras como Positivo Informática, Oi, Embraer, Troller, Vivo e Banco Central. 

São pesquisas como a redefinição de interface de uma televisão, a transposição de um sistema de arquivos de centenas de gigabytes de banco de dados e o sistema inovador de computação em nuvem recém-vendido diretamente para a HP, nos Estados Unidos.

“Instituições de inovação como a nossa trabalham em uma espécie de penumbra. Não tem um produto do Cesar na praça, mas certamente tem muita gente em vários países consumindo coisas que foram desenvolvidas aqui”, diz Silvio, de sua sala coberta de recortes com frases de impacto, como “Seja ousado, inovador, polêmico. Nada mais”.

Dos 500 profissionais que trabalham na sede e nas filiais, em Curitiba e Sorocaba, 100 são mestres ou doutores. Em paralelo às linhas de pesquisa, o Cesar tem atualmente duas empresas que estão sendo incubadas e uma participação societária em quatro que já estão em operação. Depois que elas saem dali, essa participação é vendida.

“Acredito que daqui a três anos essas quatro empresas do portfólio vão atingir a maturidade que esperamos para sairmos”, afirma Guilherme Cavalcanti, presidente da CesarPar, holding que entra como sócia desses empreendimentos nos moldes dos fundos de private equity. “Este ano estamos abrindo para ideias que venham de fora do Cesar e nas quais a gente considere que vale a pena investir.” Depois de 24 meses incubadas, as empresas normalmente migram para o Porto Digital, instituição parceira do centro. 

Marília Lima, de 36 anos, deverá alçar esse voo em 21 meses. Ela é presidente da SiliconReef, pequena companhia cuja especialidade é a criação de microchip para aumentar a eficiência de painéis solares de pequeno porte. Com os recursos que recebeu de um fundo de investimento que financia empresas emergentes inovadoras com elevado potencial de retorno, Marília pretende dar início à produção e à comercialização dos chips. O foco é o mercado externo.

“Os Estados Unidos são um grande consumidor dessa tecnologia, mas é a Ásia que vai fazer todos os acessórios para os quais estou projetando os microchips”, conta. Além de abrir sede no Porto Digital, ela também pensa em montar uma filial na Colômbia, por formar muitos engenheiros para processo de circuito integrado.

A exemplo da SiliconReef, há outras empresas do Porto Digital que estão dando o que falar. A história do polo de tecnologia de Recife é um exemplo de que o investimento em pesquisa e desenvolvimento pode gerar bons empregos e inovação. É uma ideia que deve ser copiada.

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