Conflito: primeiro, ninguém é dono da razão (AntonioGuillem/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 3 de julho de 2018 às 15h00.
Última atualização em 3 de julho de 2018 às 15h00.
São Paulo - Quando dois pontos de vista entram em colisão, o clima pode ficar pesado no trabalho, prejudicando a convivência e a entrega. Será melhor ignorar o impasse e colocar panos quentes? Ou tirar satisfação com todos?
Para que o conflito se torne uma conversa positiva, especialistas recomendam não fazer nenhum dos dois - e dão dicas de como retomar a harmonia no trabalho da forma mais produtiva.
O primeiro passo é reconhecer que ninguém é dono da razão. Segundo Eva Hirsch, coach executiva e professora convidada da Fundação Dom Cabral, conflitos são naturais e surgem de diferentes visões ou necessidades divergentes. Se geridos de forma saudável, podem criar soluções novas. “Pior erro é achar que nosso ponto de vista é a verdade absoluta”, diz.
Reconhecer que não existem culpados é essencial para procurar uma solução. Para Breno Paquelet, especialista em negociações estratégicas pela Harvard Business School, ao lidar com um conflito, três conversas devem acontecer.
“Primeiro, você separa o impacto que teve em você das intenções do outro. Algo pode ser negativo, sem ser intencional. Aqui entendemos o que estava por trás das ações”, explica ele.
Ao mesmo tempo, é um momento de compartilhar seus sentimentos sobre o que aconteceu. “Muitos só querem ser ouvidos e o conflito acontece porque acha que a outra pessoas não se preocupa com o que ele tinha a dizer”, diz Breno.
Segundo ele, a terceira conversa tem relação com nossa identidade. Afinal, todos se preocupam com a forma como são vistos pelos outros. “Durante um conflito, tentamos defender nossa imagem, seja pela inteligência, ética ou respeito”, comenta.
Na hora de debater opiniões e esclarecer um conflito, é preciso ter os três pontos em mente para manter a cabeça aberta e buscar entender o outro. Os dois especialistas reforçam a importância de que a conversa não vire um monólogo, mas um processo de reciprocidade.
Com esse preparo, eles dão dicas para que um acordo comum seja alcançado. Confira:
Por um lado, os especialistas apontam que ignorar um conflito pode piorar o problema. Por outro, a coach Eva Hirsch, lembra que é impossível viver provocando discussões a cada cinco minutos. É necessário entender quais conflitos têm o potencial para serem produtivos e que precisam ser resolvidos.
“As discussões sempre têm um componente emocional. É importante observar o que pode crescer se ficar no escuro, afetando as relações no longo prazo”, diz Hirsch.
Se deixar o conflito se estender é ruim, tentar resolver imediatamente é pior. Breno Paquelet recomenda ter um certo distanciamento crítico da situação, refletindo sobre o impacto que aquilo teve para você e tentar entender os diferentes ângulos presentes.
Nessa busca para entender o outro, Eva Hirsch lembra que seu interlocutor também precisará de um tempo para organizar suas emoções e ideias - e que ele pode ser diferente do seu tempo. E faz parte do processo respeitar isso.
O objetivo da discussão não pode ser encontrar um culpado, alerta a coach executiva. Segundo ela, isso deixa a discussão no passado, enquanto a solução faz parte do futuro.
A estrutura da conversa e a linguagem são a chave para que a comunicação ocorra com tranquilidade, criando um espaço onde todos podem falar e ser ouvidos.
“Você deve adotar uma estrutura de linguagem não violenta. Ao falar ‘você me magoou’, você atribui ao outro o seu sentimento. Isso só coloca mais lenha na fogueira. Ao falar de sentimentos, é melhor atribui-los somente a você, como ‘eu fiquei magoada’", explica.
No lugar de colocar o julgamento, que afasta o outro da conversa, a especialista recomenda indagar as motivações da pessoa, o que instiga o debate.
Às vezes, o motivo para evitar falar de um conflito é mais profundo e está na falta de confiança. Para que a conversa aconteça, pode ser necessário estabelecer um vínculo, deixando o outro confortável para expor sua visão.
“Você vai precisar se mostrar com humildade para entender, fazendo perguntas para chegar na raiz do problema e entender como aquele sentimento surgiu”, diz Paquelet.
Com os canais de comunicação abertos e feita a gestão dos sentimentos, chega a hora de tornar a conversa em resultados. Pensando no casos mais comuns que observam nas empresas, os especialistas dizem que profissionais de áreas complementares, como a de vendas e a financeir, muitas vezes têm demandas diferentes.
Então, vale entender essas diferenças para propor soluções em que ambos se comprometam. Entender a necessidade de todos para criar um projeto que funcione.
De primeira, ele pode parecer ruim, mas o conflito pode propiciar uma fonte de reflexão para crescimento pessoal. Buscar entender melhor o porquê das suas emoções e suas reações a estímulos no ambiente de trabalho pode ajudar a ser um melhor profissional.
Para Breno Paquelet, também serve de alerta: “Se você está se envolvendo em conflitos com diversas pessoas é um momento de olhar para dentro, pois a origem pode ser você. Assumir que você é parte do problema é um crescimento”.