Copa do Mundo: mostre que você é fã da Copa e negocie a liberação (Victor Moriyama/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 12 de junho de 2018 às 15h00.
Última atualização em 12 de junho de 2018 às 15h00.
São Paulo - No dia 14 de junho começa a Copa do Mundo de futebol na Rússia. Dos três jogos da seleção brasileira na primeira fase, dois serão em dias de semana e em horário comercial. Se os craques avançarem na competição, haverá diversos confrontos de segunda a sexta-feira, entre 11 e 15 horas. Diante disso, alguns profissionais já estão se perguntando como farão para assistir às partidas durante o expediente. Afinal, há certa expectativa em relação à equipe liderada pelo técnico Tite.
Se quatro anos atrás o time chorava em campo após o fatídico 7 a 1 contra a Alemanha, desta vez o clima é outro. Em 2017, a seleção brasileira teve seu melhor desempenho defensivo da história na fase de classificação para a Copa. Sofreu quatro gols em 11 jogos, uma média de 0,36 por partida. O melhor resultado até então tinha sido em 1974.
A ansiedade pelo hexacampeonato fica clara numa recente pesquisa do Ibope, quando 75% dos entrevistados afirmaram estar animados para acompanhar o Mundial de perto. Quase três quintos acreditam que a taça será nossa.
Mas o que fazer se a empresa ainda não se manifestou sobre a liberação para ver os jogos? Ou, pior, definiu que os funcionários terão de torcer dentro do escritório? A resposta é simples: “correr atrás do resultado” usando o melhor trocadilho para a época.
“Se o profissional é apaixonado por futebol e deseja acompanhar os jogos em casa, vale a pena negociar com o gestor”, diz Rubens Pimentel, professor de foco e produtividade na Inova Business School. Anna Cherubina Scofano, especialista em gestão de pessoas na Fundação Getulio Vargas, concorda e vai além. “O líder, por sua vez, deve olhar para esse tipo de pedido como uma oportunidade de reconhecer o trabalho do funcionário. Dá para combinar, por exemplo, o uso de banco de horas.”
Antes de chamar seu chefe para conversar, avalie os projetos em andamento. Se um dia a menos for comprometer suas entregas, nem vale a pena tentar. Agora, se as demandas estão em dia, manifeste seu desejo de gritar “gol” ao lado de amigos e familiares.
Aqui cabe um alerta: pega mal deixar a solicitação para a véspera. É importante combinar com os russos quanto antes.
Assim fez a analista de atendimento ao cliente Giulia Cristina Andreotti, de 25 anos. Aficionada do futebol, ela aproveitou a boa fase profissional e a flexibilidade de horário da startup em que trabalha na capital paulista para colocar sua paixão em pauta. Fez isso em abril, no momento em que lhe entregaram a responsabilidade de um projeto para ser finalizado em plena Copa do Mundo.
Cristina confessou à gestora e ao CEO o quão importante o evento esportivo era para si e combinou com os dois a possibilidade de assistir aos jogos fora da companhia caso conseguisse adiantar o trabalho.
“Tenho até 29 de junho para concluir a implantação da área de operações. Quando montei o planejamento e o cronograma, aprovados pela liderança, propus adiantar as atividades mais trabalhosas para antes do início do Mundial.”
Selma Fredo, diretora da consultoria de talentos Stato, lembra que todo processo de barganha pressupõe uma boa argumentação. “Proponha um esquema de ganha-ganha, que seja favorável para você e para a empresa.” Veja a seguir como convencer seu chefe — e ganhar essa partida.
Conheça o perfil da empresa para a qual trabalha. Se for uma que valoriza a presença no escritório, a chance de você se ausentar nos jogos será pequena — conforme-se. Mas, se seu líder for moderno, aberto à conversa, e valoriza as entregas, vá em frente. Antes disso, analise seu momento de carreira: você está num time com desempenho ruim ou com prazos apertados? Se sim, aceite a ideia de acompanhar o desempenho dos jogadores pelo telão da empresa. “Se é o projeto mais importante de sua carreira ou se você está prestes a ter uma promoção, deixe a Copa para depois”, diz Rubens, da Inova Business School.
Em tempos nos quais as redes sociais denunciam as atividades, não é bom inventar desculpas e correr o risco de ser desmascarado. Um diálogo franco funciona melhor. Mostre que você é fã da Copa e negocie a liberação. O melhor momento é ao final de uma reunião sobre o andamento de um projeto (desde que ele não esteja atrasado ou com problemas, é claro) ou durante o almoço com o chefe. Coloque o futebol em pauta e aproveite para pedir a folga. “Muitas empresas entendem que é melhor fazer a concessão e ter a equipe por inteiro no dia seguinte do que achar que ela será produtiva nos jogos da seleção”, diz Anna, da FGV.
Inicie a negociação sabendo o que oferecer como contrapartida. “Enumere os projetos que tem realizado e os resultados que já conquistou”, diz Anna. Proponha também alternativas para compensar a ausência. Aí vale tudo: descontar do banco de horas, compensar ficando até mais tarde ou chegando mais cedo, e até antecipar tarefas durante o fim de semana. “Dê ao gestor garantias de que sua ausência não atrapalhará o andamento do trabalho”, diz Rubens.
Se a seleção se der bem nas fases finais da competição, mais períodos de ausência serão necessários para ver os jogos e, consequentemente, maior a chance de acumular tarefas. Dessa forma, ao traçar sua estratégia de negociação com a liderança, analise o que pode ser otimizado na rotina. Neste mês, que tal abrir mão do cafezinho e daquele almoço mais demorado? Guarde o celular na gaveta e desconecte as redes sociais para não dispersar.
Segundo Selma Fredo, da consultoria Stato, a melhor negociação é a coletiva. Se há mais gente na equipe ansiosa por vestir a camisa verde e amarela em casa durante os jogos, vale levar a demanda do grupo ao gestor. Os colegas não estão interessados? Ok, siga em frente com a negociação. Nesse caso, o argumento que prevalecerá será o de que todas as tarefas estão organizadas e o restante da equipe não será prejudicado .