EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.
Imagine, caro leitor, uma orquestra formada apenas por maestros, todos grandes gênios da música. Não seria uma orquestra, apesar da indiscutível qualidade de todos os seus membros. Como tocar uma sinfonia desse modo? Seria também um grande problema para a história da música se todos os profissionais dessa área tivessem como grande meta de sua vida ser maestros. Muitos talentos se perderiam: grandes virtuoses de sopro, piano, cordas e percussão desperdiçariam sua vida tentando ser algo que não corresponderia a seus dotes.
Pensei nisso a propósito de uma carta que recebi de um jovem leitor. Ele estabeleceu metas para sua vida profissional que demarcam idades para alcançar determinados cargos: chefe até os 28 anos, diretor até os 36, culminando com uma presidência por volta dos 40 anos. Chefe de quê? Diretor de quê? Presidente de qual empresa, em qual ramo, em meio a quais atividades? Isso ele nem sequer aborda: deseja ser maestro, sem se perguntar sobre o próprio talento.
A questão colocada na carta desse jovem é motivo de reflexão para muitos profissionais: estar no topo significa ocupar o cargo mais alto na hierarquia ou significa ser o melhor de todos naquilo que você faz? Para ficar na nossa comparação musical, há muitos pianistas, violinistas, flautistas muito mais reconhecidos, muito mais requisitados, muito mais bem pagos do que um grande número de maestros. E certamente muito mais felizes profissionalmente.
Vamos voltar à comparação recorrente entre uma empresa e uma orquestra. O "maestro-presidente" deve ter um determinado perfil, habilidades específicas, características pessoais e profissionais que o tornem um bom presidente. Mas isso não quer dizer que, para ter sucesso na carreira profissional, ser reconhecido, requisitado e bem pago, todos devam ter esse mesmo perfil. Se assim fosse, do mesmo modo que não haveria orquestra só de maestros, não haveria empresa.
Todos os profissionais que já estão no mercado correm o risco de cair nessa ilusão de querer virar maestro, como se isso fosse o coroamento da carreira. É preciso, no entanto, mudar a forma de estabelecer objetivos. A pergunta deve ser direcionada para nossos talentos, nossas capacidades, nosso estilo de vida. A realização profissional depende do encontro de nosso perfil com nossos objetivos. Isso significa perceber que podemos ir muito mais longe naquilo que sabemos fazer bem e que gostamos de fazer.
Há profissionais de finanças, de comunicação ou de logística, por exemplo, muito mais disputados pelo mercado do que vários presidentes de empresa. São profissionais excepcionais, extremamente bem pagos, reconhecidos naquilo que fazem. Muitos deles, se virassem presidentes de alguma empresa, não conseguiriam desempenhar a função. São virtuoses em seus próprios instrumentos, mas nunca seriam bons maestros. Isso não significa demérito. Ao contrário, revela sabedoria profissional e uma grande aposta em si mesmo.
Evidentemente, há profissionais cujo talento é mesmo empunhar a batuta corporativa. É um talento específico. Curiosamente, os mais destacados entre eles não pautaram sua vida, o tempo todo, pelo objetivo de ser presidentes de alguma empresa. Isso foi algo que floresceu durante a carreira profissional: o que eles buscavam era ser os melhores naquilo que faziam. Isso sim é algo que vale para todos nós.
Simon Franco é CEO da Simon Franco/TMP Worldwide do Brasil e autor de Criando o Próprio Futuro e O Profissionauta