Carreira

Quer dar aulas? Universidades recrutam professores não-acadêmicos

Executivos e profissionais de mercado entram no radar de recrutamento das instituições de ensino superior

Sala de aula:  conexão com mercado de trabalho vale ouro (IPGGutenbergUKLtd/Thinkstock)

Sala de aula: conexão com mercado de trabalho vale ouro (IPGGutenbergUKLtd/Thinkstock)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 06h00.

Última atualização em 4 de agosto de 2017 às 13h47.

São Paulo – “Penso em dar aula em universidades como uma segunda carreira”. Não são raros executivos e profissionais do mundo corporativo com esse plano, mas muitos não têm a menor ideia de como vão conseguir entrar no mercado de educação sem ter experiência em sala de aula e competir com os mestres e doutores acadêmicos.

Para quem tem esse objetivo a boa notícia é que universidades estão abrindo mais espaço para professores com o pé fincado no mundo empresarial e já recrutam em maior escala profissionais de mercado interessados em dividir conhecimento adquirido ao longo da carreira.

“Tem sido uma mudança gradual. A palavra que eu gosto de usar é equilíbrio. A titulação continua sendo importante, mas também é importante a experiência prática”, diz Rafael Romanhol, diretor de recursos humanos da Unigranrio.

Na Unigranrio, ele conta que há casos de contratações recentes de professores que até tinham títulos de mestre ou de doutor, mas não tinham experiência em sala de aula e, sim, carreiras consolidadas no meio empresarial.

Renata Perrone, recrutadora da De Bernt especializada no mercado de educação, enxerga um “casamento” entre a demanda de mercado por esse novo perfil de professor e uma vontade de profissionais de compartilharem o conhecimento como propósito de carreira. “Vejo demanda de todos os lados”, diz.

Executiva recebeu convite para ser professora via LinkedIn

Lilian Cidreira, hoje professora da Universidade Veiga de Almeida, foi convidada pelo LinkedIn a dar aulas em duas instituições de ensino superior enquanto ainda era executiva em uma empresa na área de construção civil, em 2016.

Deixou o cargo executivo mas, não o mercado corporativo. Além de lecionar também presta serviços como consultora empresarial. “É difícil o aluno dar credibilidade para quem só tem a teoria. A prática é muito distante”, diz Lilian.

As duas instituições que a recrutaram não se importaram com o fato de ela não ter experiência sem sala de aula. “Queriam a vivência profissional”, diz.

Executivos de mercado estão em alta principalmente em cursos de gestão, administração, marketing, finanças e MBAs. Oportunidades para lecionar nessas áreas são as mais comuns em projetos que Renata faz para a De Bernt. “Mas também já comecei a fazer posições na área de engenharia e já fiz em direito”, afirma.

Além disso, ela enxerga grande campo de atuação na área de TI. “Os acadêmicos acompanham as tendências, mas quem tem conexão com o mercado traz a aplicação disso, cases reais, sabe dizer quem está comprando novas tecnologias”, diz.

O diretor de RH da Unigranrio destaca que a presença de profissionais de mercado na instituição é mais forte nos cursos de pós-graduação e em tecnólogos em áreas como recursos humanos e logística.

“Dentro da área de gestão essa tendência é latente. Mas é algo que já funciona em cursos de saúde, por exemplo, em que médicos fazem tutoria de alunos que estão dentro de hospitais garantindo experiência prática”, diz Rafael Romanhol.

Em relação aos salários, Lilian diz que o valor da hora/aula varia muito de uma instituição para outra. “Vai de acordo com o porte da universidade e pode ir de 50 reais até 350 ou 400 reais por hora/aula”, diz a professora.

É preciso ter mestrado?

O título de mestre embora não seja obrigatório é altamente recomendável, segundo todos entrevistados por EXAME.com. O mercado de educação é regulado e as instituições precisam ter corpo docente que cumpra cotas de titulação de mestrado e doutorado

“Na universidade pública é uma exigência, para as particulares não chega a ser obrigatório, mas diferencia o profissional e amplia mercado”, diz Lilian.

No mínimo, uma especialização é necessária no currículo, segundo Romanhol, e quanto maior for a titulação, mais facilmente as portas das salas de aulas se abrem. “Títulos são remuneração diferenciada. Professor com mestrado ganha mais do que um professor especialista”, diz Romanhol.

Mas como estudar e trabalhar ao mesmo tempo se os mestrados acadêmicos geralmente têm aulas no período da tarde?

“Existe o chamado mestrado profissional que é igual ao acadêmico, também é stricto sensu, tem a mesma titulação reconhecida pelo MEC, mas as aulas são de noite. Dá para conciliar”, diz Lilian, que encarou uma rotina de trabalho e estudos para garantir o diploma.

O esforço foi válido para sua nova carreira. As discussões em sala e as provocações dos professores do mestrado até hoje a inspiram na conexão entre teoria e prática das suas aulas.

O que fazer hoje para ser professor amanhã

Da vontade de ser professora até a chegada à sala de aula seis anos se passaram para Lilian, mas ela diz que poderia ter sido em menos tempo.

O primeiro passo é voltar a estudar. Para quem não tem nenhuma pós, fazer uma especialização antes do mestrado é mais indicado. Foi fazendo MBA, aliás, em 2010 que Lilian começou a se interessar pela carreira de professora.

Aproveitar a volta à sala de aula para investir em networking também é recomendado. ”Conversar com os professores foi fundamental para eu entender o que eu tinha que fazer para chegar lá”, diz. Todos, sem exceção, indicaram que ela fizesse mestrado.

Mas não só isso, outra dica que ela recebeu foi a de reunir resultados mais robustos na carreira corporativa antes de iniciar seu caminho na estrada da docência. “Era coordenadora na época e me falaram para esperar um pouco até ter uma bagagem mais sólida”, diz.

Com a internet na palma da mão, diz Lilian, alunos colocam o saber do professor em xeque o tempo todo e os professores também a alertaram sobre esse fato.

“É preciso ter maturidade, segurança sobre o que está ensinando, flexibilidade e também humildade para dizer que não sabe”, diz.

Renata indica que interessados pesquisem universidades que têm cursos ligados à sua área de atuação e que, em seguida, montem um portfólio para apresentar.

“O profissional deve pensar no que têm a oferecer. Já deu treinamentos, gosta de transmitir conhecimento em reuniões, por exemplo? ”, diz.

O diretor de RH da Unigranrio sugere que profissionais procurem ativamente as instituições de ensino, cadastrem currículos em bancos de dados e acompanhem suas páginas no LinkedIn. “As universidades recrutam da mesma forma que as empresas”, diz Romanhol.

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