Matheus Pardi, ex-gerente do Itaú: ele abandonou a carreira no banco para se dedicar ao clube de investimentos que criou e conquistar seu primeiro milhão de reais (Ilustração: Jegueboy sobre foto de Marcelo Spatafora/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 14h45.
São Paulo - Em 2008, quando ainda trabalhava como gerente de uma agência do Itaú Unibanco, em São Paulo, Matheus Pardi de Castro, de 35 anos, enxergou uma boa oportunidade de ver o dinheiro crescer: o investimento em imóveis em sua cidade natal, Ribeirão Preto. Sem verba em caixa, resolveu ousar.
Reuniu cinco amigos e fundou um clube de investimento. Os aportes mensais do Clube dos Seis, nome oficial do grupo, começaram tímidos, de 500 reais por pessoa e, em quatro meses, foram duplicados. O clube, atualmente, já acumula algo em torno de 400 000 reais, pulverizados em diversos negócios.
As quantias não se multiplicaram em um toque de mágica. O modelo encontrado foi investir, como cotista, em imóveis em construção com aportes em torno de 6 000 reais por mês, e adquirir o apartamento a preço de custo na entrega das chaves. Durante 41 meses, e um total de 161 000 reais, resolveram investir na compra de 30% de um imóvel.
Caso o apartamento, de 250 m², for vendido hoje pelo valor de mercado, de 1 milhão de reais, terão 285 000 reais em mãos (descontando 5% da corretagem), um ganho superior a 56% do valor que aplicaram. Esse tipo de investimento só é possível porque os únicos encargos financeiros da obra recaem sobre as taxas de administração e de responsabilidade técnica, que são pagos diretamente ao engenheiro civil responsável pela construção, sem a existência das tradicionais margens cobradas por incorporadoras e demais intermediários.
O grupo também resolveu investir as “sobras de caixa” (que não eram aplicadas no apartamento) em pequenos empreendimentos, financiando de empresas de locação de equipamentos para eventos a consultórios odontológicos, com retorno mensal em torno de 2,5%. A lógica era sempre fazer o dinheiro girar, dividindo os riscos entre todos.
A disciplina com que comandam o fundo, com reuniões trimestrais de planejamento e avaliação de resultados, e a forma como realizam os depósitos, “mensalmente de maneira sagrada”, levou a trupe a almejar um objetivo ainda mais ousado: o de cada sócio acumular o primeiro milhão em dez anos.
“O objetivo do clube não é enriquecer os sócios, mas permitir nossa independência financeira e a realização dos sonhos”, diz Matheus, que abandonou o banco em setembro para se dedicar aos novos objetivos, que incluem o investimento em um site que comercializa objetos de decoração.
Na hipótese de a estratégia dar certo, em dez anos os seis amigos entrarão em um time que não para de crescer: o de milionários no Brasil. Segundo levantamento feito pelo banco americano Haliwell Bank, eles já somam 137 000 em uma lista que ganha 19 membros por dia desde 2007. O mais impressionante: os afortunados devem continuar crescendo no mesmo ritmo pelos próximos três anos.
Os números podem ser incertos (não levam em conta apenas os recursos líquidos disponíveis para investimentos, mas também ativos como propriedades e automóveis, além de aplicações em poupança dos novos ricos), mas a explicação para o aumento de pessoas com contas bancárias mais robustas vai além de fatores macro- econômicos e está na ponta da língua dos especialistas.
O crescimento econômico do Brasil na última década, a inflação controlada e uma maior oferta de emprego e de crédito, que responderam pela chegada de 40 milhões às classes B e C, ajudaram sim, é certo.
Mas não é tudo. Se a renda desses novos consumidores cresceu, profissionais e empresários das mais diversas áreas (construção, imobiliárias, TI, agronegócio) viram seus recursos se multiplicar. Some-se a isso a capitalização histórica por meio de fusões e aquisições, a atração de fundos de investimento ou a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês), e tem-se o pano de fundo para a proliferação de milionários.
Boa notícia
A boa notícia é que não é preciso ser dono de um negócio nem alto executivo, com salário e bônus polpudos, para fazer parte desse clube seleto (veja tabela com simulações para quem quer enriquecer de forma planejada). “Independentemente de cargo e salário, a verdade é que quem deseja ficar milionário tem de ter disciplina e gerar a riqueza a partir do trabalho”, diz o diretor do Bradesco Private, João Albino Winkelmann.
Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de atacado, negócios internacionais e private bank do Banco do Brasil, explica que o novo milionário consegue sua fortuna em um espaço de tempo menor do que os clientes mais antigos. “Observamos também um jovem investidor preocupado com o fluxo de caixa e com suas aplicações. Ele trata seus investimentos como uma empresa”, compara.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam para um número menor, porém não menos expressivo, de 65 000 milionários no país com fortunas que impressionam. Em 2011, foram 434,4 bilhões de reais em ativos sob gestão (alta de 21,6% sobre o ano anterior) dos bancos.
Ainda que administrem riquezas que superem muitas vezes a barreira do primeiro milhão de reais — cada afortunado tinha aplicado, em média, 8,6 milhões de reais em 2011 —, o perfil dos milionários vem mudando nos últimos anos e a fórmula que usam para o dinheiro multiplicar pode ser um importante farol para quem planeja chegar lá.
Faça como eles
Tradicionalmente, o milionário brasileiro era do sexo masculino, na faixa dos 55 anos de idade, empresário, advogado ou oriundo do mercado financeiro, e de perfil visivelmente conservador em suas decisões de investimento. Esse tipo, porém, vem sendo rejuvenescido nos últimos anos com a chegada de uma nova leva, na faixa dos 35 anos, com grana que acumulou para investir.
“Enquanto os clientes private europeus são mais velhos e têm como meta principal administrar suas fortunas, em mercados emergentes como o Brasil os milionários são mais jovens e ainda estão acumulando sua riqueza”, diz Gustavo Raitzin, presidente do banco Julius Baer para a América Latina, a maior instituição private da Suíça, que desembarcou no país em 2011 de olho nesse boom de novos milionários que são gerados todo ano por aqui.
Exemplos como o de Matheus Pardi mostram que, independentemente de comandar um negócio próprio ou de receber bônus polpudos todo ano, com a atitude certa e algumas regras básicas é possível transformar o objetivo em realidade.
Comece cedo
Começar cedo, antes dos 30 anos, reduz o valor a ser poupado mensalmente e traz como vantagem tanto acumular por um período mais longo quanto garantir a realização do sonho de forma mais rápida. Mas é preciso paciência e disciplina, já que essa busca toma tempo. “Ninguém verá 100 000 reais se transformarem em
1 milhão de reais em apenas dois meses”, diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).
De fato, alcançar esse valor simbólico da independência financeira pode variar de prazos que parecem curtos, como dez anos, a outros que soam como uma vida inteira, como quatro décadas, dependendo de fatores como o orçamento mensal, o quanto será alocado mensalmente ou anualmente para atingir esse objetivo e — aqui começa a regra número 2 — a disciplina com que esses aportes serão feitos.
Especialistas defendem que uma boa estratégia é reservar ao menos 15% dos investimentos para esse fim. Quanto mais, melhor. Proponha algumas metas, trabalhe sobre elas e calcule a possibilidade de poupar também salários extras, bônus e eventuais participações nos lucros nessa bolada.
Plano de investimento
O conhecimento dos produtos que trarão maior rentabilidade ao investimento tem obrigatoriamente de fazer parte de qualquer plano estratégico. A opção por um em detrimento de outro definirá se o seu perfil é mais conservador, moderado ou agressivo. Investir em renda variável, como o mercado de ações, pode garantir ganhos maiores, mas oscilações podem fazer os novos investidores perder dinheiro.
No caso dos milionários existentes, as estatísticas da Anbima apontam para o conservadorismo. Haja vista que, dos 434,4 bilhões de reais em ativos administrados pelos bancos private no ano passado, 222,2 bilhões foram aplicados em renda fixa, como títulos e valores mobiliários. Apenas as aplicações em previdência aberta cresceram 62,3% no ano passado.
Fazer como os milionários, ou seja, buscar liquidez enquanto se protege o capital, leva necessariamente à regra número 3: pulverizar os investimentos. Começar as aplicações em renda fixa é o primeiro passo. Conforme o dinheiro se acumula, é possível estabelecer regras progressivas de renda variável em relação à renda fixa.
Uma delas é a que estabelece um patamar de 80% em relação à idade. “Se a pessoa tiver 30 anos, pode investir 50% em renda variável e 30% em renda fixa. Aos 40, divide meio a meio entre as duas modalidades, e assim progressivamente”, explica José Roberto Savóia, professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Margem de risco
Em outras palavras, quanto mais jovem o investidor, maior é a margem de risco que pode ser administrada, com eventuais ajustes ao longo do tempo. Em renda fixa, a poupança (taxa garantida de 6% ao ano mais correção monetária) aparece sempre como opção segura de alocação de parte do investimento. Escolher títulos do Tesouro Direto, ao lado de um fundo com derivativos, pode servir de complemento importante dentro desse objetivo de atingir 1 milhão de reais.
É importante lembrar que, com as recentes quedas da taxa de juros, o retorno de investimentos em renda fixa também será menor. Nesse caso, investir em ações sempre é uma alternativa, mas pode representar risco se houver falta de conhecimento sobre a bolsa e de tempo para acompanhar o sobe e desce dos papéis.
Para quem não tem dedicação ou experiência, a sugestão dos especialistas é apostar em fundos de ações de primeira linha, as mais importantes do Índice Bovespa, ou os fundos multimercado.
Esses fundos aplicam em diferentes papéis, como títulos de renda fixa, ações, juros, títulos públicos e câmbio, e são normalmente mais arriscados e rentáveis do que os de renda fixa. Os fundos multimercado costumam atrair investidores para a renda variável, mas não estão seguros para apostar em ações. “Na dúvida, procure um gestor com experiência e tome cuidado com as taxas de administração”, finaliza José Roberto, da FEA-USP.