escrevendo (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 4 de agosto de 2015 às 12h35.
MAS, em sua mais comum concepção, exprime oposição ou restrição; porém, todavia, entretanto, no entanto, contudo. No princípio da oração, indica relação com a ideia anterior; denota censura a palavras ou ações alheias; denota dificuldade, obstáculo, estorvo.
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Há maior amigo do “mas” que é o ser humano? Na infância, grita desordenadamente, mas compensa com o riso ainda sem dentes. Mexe em tudo, mas pede perdão pelas humildes pupilas. Não tem independência, mas estende os bracinhos em busca de ajuda. Não fala muito, mas inventa sílabas. Não consegue ter equilíbrio, mas tenta.
O ser adolesce em mas. Descobre o beijo na boca, mas não pode sair de casa desautorizado. Desenvolve teorias revolucionárias ao som de Bob Marley, mas não as aplica. Muda voz e corpo, mas é visto como criança. Escreve “mais”, mas quis usar “mas”. Quer sumir no mundo, mas não tem como se bancar. Grita com os pais e avós, mas escreve que os ama.
O ser amadurece, mas é mas. Consegue um grande trabalho, mas pensa em mudar. Sai sozinho, mas reclama da solidão. Vive junto, mas odeia dar satisfações. Casa-se, mas sente saudade da solteirice. Tem conta bancária, mas odeia o capitalismo. Odeia, mas dá presentes. Lidera, mas precisa de outros líderes. É submisso, mas ataca os de atitude. Bebe, mas odeia ressaca. Não bebe, mas acha o mundo careta. Comunga, mas critica o padre. É rico, mas não tem amigos. É pobre, mas tem amigos. Dorme, mas necessita do despertador. É visto como adulto, mas reclama da velocidade dos dezembros natalinos.
O ser velho, então, é parceiro fiel do mas. É experiente em discursos, mas a voz embarga. Quer correr, mas não pode contar com os joelhos bons. Quer descansar, mas o sono é pouco. Quer acordar, mas bate um longo cansaço. Ri, mas cuida da dentadura. Xinga, mas passa por ferozes julgamentos sociais. Não esquece os beijos de língua, mas só os executa na intimidade. Adora a fila preferencial, mas diz não ser idoso. Tem vontades, mas precisa de uma ajudinha. É velho, mas diz que é novo. Critica a tecnologia e o isolacionismo, mas está no WhatsApp. Não quer morrer, mas vive dizendo que é chegada a sua hora.
Há, pois, algum bicho no mundo mais amigo do “mas”?
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