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Quem é o CDO, o chief data officer, que está tão valorizado?

Empresas estão investindo bilhões de dólares para lucrar com os conhecimentos que você gera. Elas agora têm diretores de dados e recrutam cada vez mais cientistas de informação

Darcilo Santos, executivo de dados do Itaú BBA: recrutou 55 cientistas de dados em seis meses (Ricardo Benichio/EXAME.com)

Darcilo Santos, executivo de dados do Itaú BBA: recrutou 55 cientistas de dados em seis meses (Ricardo Benichio/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 21 de fevereiro de 2013 às 18h57.

São Paulo - Ao fazer uma compra usando o cartão de crédito ou débito; ao clicar em uma página na internet para ler uma notícia ou ver um produto, postar nas mídias sociais, assistir, baixar ou publicar fotos e vídeos; ou simplesmente ao deixar o sinal do GPS de seu celular ligado: você está gerando informação que pode ser identificada.

Diariamente, operações desse tipo produzem 2,5 quintilhões de bites de dados no mundo. Para ter uma ideia, 1 quintilhão de bites equivale a 220 bilhões de músicas ou 153 milhões de filmes. Colocar ordem nesse caos gerado por todos nós todos os dias, a todo momento, e fazer disso algo lucrativo tornou-se prioridade para muitas empresas.

Para criar e tratar grandes volumes de informação dessa magnitude, em uma variedade tão diversa de fontes e plataformas, quase que instantaneamente, surgiu o big data, um novo conceito de previsão de acontecimentos e hábitos de consumo a partir de informações analisadas com o uso de modelos matemáticos complexos e softwares sofisticados.

E com esse novo mercado, nascido há pouco mais de quatro anos, apareceu uma figura ainda não muito conhecida da maioria das corporações, o chief data officer (CDO), nome em inglês para o diretor executivo de dados, encarregado de transformar bites em novos produtos, negócios e serviços. 

No Brasil, estima-se que, por enquanto, menos de dez pessoas têm esse nome gravado em seus cartões de visita. O primeiro CDO do país e da América Latina foi Mário Faria, que começou no cargo em setembro de 2011, na Boa Vista Serviços, que administra o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Com formação em computação e MBA em marketing, ele lidera um time de 100 pessoas. São estatísticos, matemáticos, engenheiros de produção, engenheiros de computação, entre outros, que passaram a ser conhecidos como cientistas de dados, uma nova profissão indispensável para esse novo mercado.  

O perfil desse diretor digital é o de um profissional que tem grande conhecimento técnico, mas também uma visão de negócios e um jogo de cintura político para negociar suas ideias com os diferentes departamentos da empresa ou clientes externos. É um cargo que reporta diretamente ao presidente ou ao diretor de tecnologia, dependendo do tamanho e do setor da companhia.

“O meu papel é disponibilizar os dados para atender às necessidades da empresa no desenvolvimento de novos produtos, serviços e ofertas”, diz Mário. Para isso, ele e sua equipe analisam os dados vindos de mais de 10 000 fontes de informação. “Somente assim podemos dizer a um varejista, que quer montar um negócio no Brasil, por exemplo, quais são os melhores pontos estratégicos no país.” 


Gigantes da internet, como Google, Facebook, e sites de compras coletivas já utilizam o big data para mapear o comportamento de seus usuários e aumentar o faturamento. Nos Estados Unidos, um caso que ficou famoso foi o do Walmart, maior varejista do mundo, que passou a monitorar as discussões nas redes sociais para saber o que expor em suas vitrines e prateleiras.

Essa necessidade de utilização de dados massivos de informação será mais importante, principalmente em setores que lidam com consumo, tais como varejo, telecomunicação, setor financeiro e de construção. É o que acredita Marcia Ogawa, de 50 anos, sócia da consultoria Deloitte. “Esse mercado vai crescer muito nos próximos anos, sobretudo no Brasil”, diz Marcia.

O valor da tecnologia da informação vinculada à integração de dados para inteligência do negócio passou a ser um ativo dentro da empresa nos últimos cinco anos, segundo Darcilo Santos, de 43 anos, CDO do Itaú BBA há apenas seis meses. Graduado em ciência da computação, ele conta com uma turma de 55 profissionais para identificar novas oportunidades de negócios e gerar resultado pelo uso mais efetivo da informação. “Olhar só uma árvore e um galho é diferente de olhar uma floresta inteira de cima. E esse é o meu papel, olhar de cima.”

Por enquanto, o setor financeiro é o que mais tem elevado a importância do uso de dados para níveis hierárquicos superiores. Há dois meses, o HSBC publicou uma vaga para a contratação de um diretor digital para sua sede, em Londres. Aqui no Brasil, Devanyr Aquino, de 49 anos, regional head of information management do HSBC, desempenha função semelhante.

Para ele, todo negócio que depende de uma tomada de decisão deveria ter uma base de dados. “Eu tenho conhecidos na área de saúde que me perguntam como fazer isso”, diz Devanyr, que ainda não sabe até que ponto o movimento de criação de um diretor digital na sede do banco irá mudar seu papel por aqui.  

Mas não é apenas o setor privado que tem investido na sofisticação da informação. Governos já contam com a figura de um diretor executivo de dados em seus quadros. Nos Estados Unidos, o primeiro CDO governamental foi uma mulher, Micheline Casey, pelo estado do Colorado, em 2009. O exército americano também tem o seu. O professor Richard Wang se licenciou pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) em 2010 para assumir o cargo. “Eu gostaria de ver o governo brasileiro olhando para isso de forma mais estratégica”, diz Mário Faria, da Boa Vista. 

Empregos

Um recente estudo do instituto de pesquisa Gartner afirma que 25% das organizações terão um diretor digital até 2015 e que os investimentos em serviços de big data chegarão a 36,2 bilhões de dólares nesse mesmo ano. Cerca de 4,4 milhões de empregos serão criados globalmente. Desse total, cerca de 90 000 serão no Brasil, segundo análise da consultoria Deloitte.


O maior desafio nos próximos três anos, no entanto, será encontrar pessoas qualificadas para essas vagas, principalmente os cientistas de dados, que são profissionais que dão suporte aos executivos digitais e precisam ter  habilidades parecidas. Uma pesquisa da consultoria McKinsey afirma que o déficit de gerentes e analistas com conhecimento de big data nas companhias americanas será de 1,5 milhão até 2018. 

Por aqui, a consultoria de recrutamento Michael Page começou a selecionar cientistas de dados em 2011 e hoje essas vagas já representam 9% do volume total de posições na área de TI. De acordo com Eric Toyoda, de 30 anos, consultor sênior de TI da Michael Page, falta profissional pronto para o mercado.

“As empresas estão contratando profissionais com conhecimento técnico e complementando com a formação que lhes falta”, diz Eric. Por enquanto, 90% das vagas estão em São Paulo e 10%, no Rio de Janeiro. O salário para quem está começando nessa área e com três anos de experiência está em torno de 8 000 reais. Um cientista de dados nível sênior, com experiência em projetos, pode receber de 15 000 a 18 000 reais. O salário de um diretor digital pode ultrapassar esse valor. 

A demanda mais crescente por esse tipo de profissional deverá estar entre as empresas de tecnologia na área de e-commerce. Essa é a visão de Paulo Moraes, de 33 anos, consultor associado de Hays Executive. “O Brasil é o sexto mercado em comércio eletrônico. Considerando que em 2015 estaremos no quarto lugar, essa é uma área que terá muita demanda por big data”, diz Paulo.  

Para ajudar na tarefa de preparar profissionais para esse mercado, iniciativas estão sendo tomadas. Recentemente foi firmado um convênio entre a Universidade de São Paulo, o MIT e a Qibras, organização não governamental que trabalha na capacitação de pessoas para o setor de tecnologia. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estuda a possibilidade de criar um curso de pós-graduação. “Se o Brasil quer ser um protagonista da economia global, precisará investir na formação de cientistas de dados”, afirma Karin Breitman, diretora do centro de pesquisa e desenvolvimento de big data da EMC, empresa americana de tecnologia, e uma entusiasta do tema. 

A EMC está construindo um parque tecnológico no Rio de Janeiro para aplicar big data na exploração de petróleo do pré-sal. Em fevereiro, a EMC fará uma semana de curso de capacitação, em parceria com a UFRJ, para 160 profissionais escolhidos em um processo de seleção que teve 700 interessados. “Big data vai dominar toda a oferta de serviços e precisamos estar prontos”, afirma Karin. Se quiser embarcar nessa onda, prepare-se, pois oportunidades não faltarão.

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