Carreira

O perfil do profissional brasileiro não é nada lisonjeiro

Pesquisamos o perfil de 1,3 milhão de profissionais, do analista ao presidente, e o resultado é um retrato de como o brasileiro se comporta no trabalho. Mostramos quais características precisam ser melhoradas.


	Conhecer se perfil profissional ajuda a descobrir quais características precisam ser aprimoradas
 (Ruben Las Palmas/Stock.xchng)

Conhecer se perfil profissional ajuda a descobrir quais características precisam ser aprimoradas (Ruben Las Palmas/Stock.xchng)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 12h54.

São Paulo - Nos últimos cinco anos, 3 milhões de profissionais registraram o currículo no site de recrutamento Vagas.com, com sede em São Paulo. Enquanto cadastrava suas informações, cada candidato fez o teste Disc, uma avaliação de comportamento consagrada, utilizada por empresas de todo o mundo para avaliar perfis psicológicos de funcionários e candidatos a um emprego.

Agora, a pedido da VOCÊ S/A, a consultoria carioca Etalent, responsável pelo processamento e análise dos testes do Vagas.com, separou as informações de 1,3 milhão de profissionais qualificados (53% mulheres e 47% homens), que ocupam funções de analista, gerente, diretor e presidente de empresas no Brasil.

A partir dessa vasta base, a Etalent extraiu o perfil médio do profissional brasileiro nesses quatro estágios da carreira. A maior surpresa revelada pelo teste é que o trabalhador nacional tem dificuldade de manter relacionamentos, ao contrário do que sugere o estereótipo do sujeito festeiro e cultivador de amizades.

Os resultados também confirmam antigas fraquezas do DNA profissional do brasileiro, que é, segundo o levantamento, desorganizado, centralizador, desconfiado e avesso a conflitos.

"A maioria das pessoas é pouco produtiva e o que faz é de baixa qualidade", diz Jorge Matos, presidente da Etalent. "Só quem trabalha bem gera bons resultados e, consequentemente, interessa às organizações."

Em uma segunda pesquisa, a VOCÊ S/A perguntou a diretores de recursos humanos de 61 grandes corporações que atuam no Brasil quais entre as características usadas no teste Disc eles mais valorizam. Os resultados mostram qual é o perfil desejado pelas companhias.

O padrão de exigência, como não poderia deixar de ser, é alto. Mas esse não é o maior problema. O complicado é que as empresas agem de forma contraditória, cobrando de uma pessoa, por exemplo, espírito independente e ao mesmo tempo consideração para levar em conta a opinião de outras pessoas.


"Isso é humanamente impossível", diz Jorge Matos. "As empresas brasileiras precisam parar de buscar profissionais super-heróis." Uma comparação entre o perfil do brasileiro e o candidato idealizado pelos RHs evidencia o descompasso do mercado: as pessoas são de um jeito e as organizações procuram qualidades ausentes no profissional médio.

O perfil do analista

O perfil do gerente

O perfil do diretor

O perfil do presidente

As diferenças entre a realidade da população e o desejo das corporações são claras e indicam algumas coisas: 1) é óbvio que as empresas procuram alguém melhor que a média; 2) apesar da exigência, elas não buscam profissionais perfeitos; 3) o profissional brasileiro tem deficiências, sim, mas elas podem ser solucionadas.

Vale também a ressalva de que a metodologia Disc, base desta reportagem, é apenas um dos critérios que as empresas usam para avaliar profissionais, mas não é o único. "A Disc é uma ótima ferramenta quando combinada com outras variáveis, não deve ser usada sozinha", diz Flávio Grisi, diretor de RH da Eternit, fabricante de telhas e caixas-d’água, de São Paulo, que utiliza o teste há mais de cinco anos.

A riqueza do levantamento é verificar que, ao comparar as avaliações de milhões de brasileiros, alguns comportamentos sobressaem, indicando que tipo de profissional somos nós. 

Uma característica marcante nacional é a dificuldade de ser objetivo. "O brasileiro não gosta de confrontar ou competir, ele busca sempre uma situação em que todos ganhem", diz Alfredo Behrens, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. "Isso é herança da cultura portuguesa, mais propensa à negociação do que à disputa."

Esse traço tem como lado positivo a flexibilidade e a disposição para encontrar uma solução de consenso, características importantes no trabalho. No entanto, torna-se um problema diante de situações que exigem uma resposta exata, ainda que provoque descontentamentos. "Não queremos desagradar ninguém", diz José Augusto Figueiredo, vice-presidente da LHH/DBM, empresa de recolocação de executivos. "Ao dizer 'sim' para tudo, não conseguimos cumprir o que prometemos."


O brasileiro também tem problemas de relacionamento. Os gráficos mostram que o quesito consideração (que avalia a habilidade de se colocar no lugar do outro) é raro em todos os níveis. De acordo com Behrens, da FIA, a valorização da hierarquia é um traço da sociedade brasileira e, no trabalho, ela prejudica o relacionamento entre chefes e subordinados. Ao tornar-se líder, o brasileiro passa a evitar contato com sua equipe como forma de se diferenciar.

A figura do "homem cordial", descrita pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) em seu livro Raízes do Brasil (1936), se aplica ao mundo corporativo. Somos justos e afáveis apenas com gente do mesmo nível hierárquico. "Em uma sociedade em que falta amor ao desigual, ser amigo de um subordinado não é vantagem", diz Alfredo Behrens.

Os gráficos de perfis também servem para ajudar você a reconhecer as características que o mercado pede. As áreas em que os gráficos não coincidem indicam onde estão as oportunidades de carreira, já que são os pontos em que o mercado está mais carente. Direcionar o desenvolvimento individual para o fortalecimento desses pontos é uma maneira de atender à demanda das empresas.

"Se você tiver uma boa capacidade de aprendizado, for criativo e souber trabalhar em equipe, terá uma ascensão mais rápida", diz Marcelo Santos, da consultoria Doers, de São Paulo. Porém, com uma ressalva: é preciso encontrar, entre essas características, as que naturalmente fazem parte de seu perfil. (Para descobri-las, acesse  vocesa.com.br e faça o teste simplificado.) "Cada profissional tem atributos que o fazem único", diz Jorge Matos, da Etalent.

Desenvolver características novas não é um processo fácil. Exige dedicação e sensibilidade para perceber como você é. Fazer testes de perfil psicológico ajuda, mas não é suficiente. Conversar com colegas de trabalho sobre o próprio desempenho e procurar orientação com mentores e coaches são outras formas de aprendizado importantes.

"As características fazem o desempate na hora de promover ou contratar alguém", diz Fátima Zorzato, sócia da empresa de recrutamento Russell Reynolds, de São Paulo. Ajuda bastante estudar filosofia, arte e história.

“Isso fará você entender mais sobre o mundo ao seu redor”, diz José Carlos Teixeira Moreira, fundador da Escola de Marketing Industrial, de São Paulo. Exercite a capacidade de transferir o que você aprende na vida pessoal para a vida profissional, e vice-versa. As pessoas são contratadas pela capacidade técnica, mas é o comportamento que assegura o crescimento.

Acompanhe tudo sobre:ContrataçõesEdição 169Gestão de pessoasgestao-de-negociosNetworkingRecrutamentoRecursos humanos (RH)

Mais de Carreira

Ele é júnior com salário de sênior: veja quem é o profissional que as empresas brigam para ter

Estas são as três profissões mais valiosas até o final da década; veja se a sua está na lista

Como usar a gamificação para transformar o engajamento da sua equipe

5 tipos de vampiros emocionais e como eliminá-los da sua vida