Globo não renova contrato com Tarcísio Meira e Glória Menezes (Globo/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2020 às 18h16.
Última atualização em 11 de setembro de 2020 às 18h33.
Tarcísio Meira e Glória Menezes, talvez o casal mais famoso em sete décadas da televisão brasileira, saíram da TV Globo nesta sexta-feira, 11. É uma realidade comum a profissionais de mais idade que, após muito tempo numa mesma empresa, saem ou são dispensados.
Nessa hora, há muitos desafios. Para a empresa, é possível tornar o processo de demissão menos doloroso do que o normal? Para o profissional, quais direitos trabalhistas devem ser levados em consideração nessa hora? E se o profissional está em busca de novos desafios, como adaptar-se a uma nova realidade numa empresa ou atividade diferente? EXAME ouviu especialistas para esclarecer alguns desses pontos.
Uma demissão é como uma perda. Superá-la envolve etapas como as do luto por algum ente querido, diz Rodrigo Vianna, CEO da Mappit, empresa do Talenses Group especializada em vagas para início de carreira. A saber:
A primeira etapa é a reflexão. É a primeira coisa que um profissional deve fazer após deixar uma empresa depois de tantos anos. Pensar, por exemplo: quem ele foi, quem ele é agora, como foi sua evolução, quais foram suas principais conquistas, é um momento de autoconhecimento.
A segunda etapa é entender o que esse profissional quer agora, o que desejo fazer? Onde quero chegar? Talvez a Glória e o Tarcísio tenham nesse momento uma etapa de construção importante daquilo que eles querem ser, de repente uma migração para o teatro, por exemplo?
A terceira etapa é de construção da história do profissional, como uma linha de tempo, em um CV. Nesse documento, é possível contar algumas das principais conquistas de todo esse processo, dentro de uma ordem cronológica. É muito importante esse storytelling com uma linha do tempo traçada para contar o que aconteceu em todos esses anos.
Depois, é preciso iniciar o trabalho de networking. É legal construir uma lista pessoas que o profissional construiu relacionamento ao longo de sua carreira e que possam o ajudar no seu novo passo.
E, por fim, a ação. É preciso começar a conversar com pessoas, por meio de redes sociais, consultorias, páginas de empresas, e ir de fato em busca de outras oportunidades que façam sentido para esse novo momento de transição.
Leonardo Freitas, CEO da consultoria em recursos humanos Haymam-Woodward, vai na mesma linha. Para ele, todo profissional deve seguir a máxima popular sobre o risco de colocar todos os ovos numa única cesta. Neste tempo de pandemia, em que há uma enorme flutuação empregatícia, esta filosofia se torna ainda mais preocupante. Trabalhar durante anos numa determinada empresa traz vantagens e desvantagens. A vantagem é o sentimento de pertencimento com a empresa — a cumplicidade com a cultura da empresa gera uma sinergia de mão dupla entre o empregador e colaborador.
“As relações de trabalho que ultrapassam décadas têm sua base ligada intimamente neste sentimento de comprometimento com o sucesso de ambos”, “A desvantagem é o comodismo por este longo tempo de dedicação a uma determinada empresa, o que faz com que o colaborar evite interagir com o mercado.” Por isso, o especialista recomenda jamais se desligar completamente do mercado em detrimento de uma única empresa. E sendo isso um caminho inevitável, é recomendável prospectar um excedente de receita salarial que compense esta exclusividade.
Ao passar muito tempo dentro de uma organização, é necessário ter um período de adaptação fora dela. “É preciso dar um tempo para você porque essa readaptação é um pouco mais lenta do que alguém que já está acostumado a procurar emprego”, explica Irene Azevedoh, diretora de transição e carreira e gestão da mudança da consultoria LHH. “Esse é o lado mais chato, mas uma das vantagens é que, se você passou muitos anos dentro de uma organização, você adquiriu muita reputação dentro do que você faz. E é nisso que você deve se agarrar. Na sua reputação e nos seus pontos fortes”, diz.
Para Juliana Amarante, advogada do escritório Souza, Mello e Torres, alguns cuidados pode minimizar os percalços na demissão de um profissional com muito tempo de casa. A começar pela comunicação de benefícios durante a transição — um bônus de saída, por exemplo —, ou extensão de benefícios recebidos ao longo do contrato por maior período (plano de saúde, veículo corporativo, auxílio moradia etc.).
A especialista indica ainda assistência psicológica para lidar com a ansiedade e estresse. Ou, ainda, auxílio na recolocação, inclusive, se o caso, fornecimento de treinamento para entrevistas. Por fim, é possível flexibilizar a prestação de serviços. "É comum que empregados aposentados sejam contratados como consultores após o término do vinculo empregatício", diz Juliana.
Para o advogado Aldo Martinez, do escritório Santos Neto Advogados, a primeira coisa que um trabalhador que prestou serviço por muito tempo em uma empresa deve fazer, é saber exatamente qual a natureza jurídica do contrato que ele possui com aquela empresa.
Um trabalhador ele pode ser contratado como CLT, com todos os direitos trabalhistas da legislação brasileira, ele pode ser contratado como trabalhador autônomo ou como prestador de serviços através de uma pessoa jurídica.
Aos contratados via CLT, independente de ser artista ou não, é importante tomar alguns cuidados, como olhar se a empresa fez os depósitos do FGTS e se o empregador vai pagar as verbas rescisórias no prazo de 10 dias, conforme a lei.
Além disso, é importante abrir os olhos para se o aviso prévio será indenizado ou cumprido. "E principalmente ficar atento às guias necessárias para o empregado levantar o FGTS, a multa e receber o seguro desemprego", diz Martinez.
O casal deixou o casting de artistas fixos da emissora carioca após ter ficado 52 anos na emissora. De acordo com o relato da colunista Keila Jimenez, do portal R7, Tarcísio e Glória teriam ficado arrasados com a notícia da dispensa.
O primeiro trabalho da dupla na Globo foi em 1967 na novela Sangue e Areia. O casal costumava contracenar juntos na emissora. Entre os trabalhos dos dois estão as novelas Irmãos Coragem (1970), Torre de Babel (1998) e A Favorita (2008). Nos anos 1980, o casal chegou a ter um seriado próprio na Globo — Tarcísio e Meira — uma comédia romântica sobre a relação amorosa dos dois.
Tarcísio tinha um salário considerado alto nos bastidores da emissora: 200.000 reais fixos por mês e mais um adicional de 40% no período em que era escalado para alguma produção da emissora.
Nos últimos meses diversos artistas do primeiro escalão tiveram o contrato rescindido pela emissora, que vem priorizando o modelo de contratação por obra em vez de contratos fixos de trabalho. Na lista dos dispensados estão nomes como Carolina Ferraz, Malvino Salvador, Malu Mader, Miguel Falabella e Renato Aragão, criador do programa humorístico Os Trapalhões.