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Que bom ter problema

Assim você pode encontrar a solução

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h35.

Problemas, toda empresa tem. Mas sempre existem diversas maneiras criativas de resolver qualquer problema. E esse é o grande problema. Qual das muitas soluções seria a mais adequada economicamente? E se a opção não for a mais apropriada do ponto de vista relacional? Para responder a essas e a outras cruciais questões da moderna administração, é preciso consultar um especialista. Dos Estados Unidos, é claro. Para que um assunto corporativo tenha credibilidade aqui no Brasil, ele necessita do aval de um renomado catedrático internacional. E um nome imediatamente me vem à mente: Theodore J. Morris.

Poderia também ser Theodore Woolfsborough, ou qualquer outro Theodore, desde que ele seja conhecido pelos vizinhos como Teddy. Ele reuniria as três condições essenciais para receber dos gestores brasileiros um respeito reverencial: 1) É americano. 2) Tem um nome pomposo. 3) Ninguém nunca ouviu falar dele. Adicione-se a isso o fato de o Teddy ser uma das mais conceituadas autoridades mundiais em sua área -- uma frase usualmente utilizada para definir qualquer americano que saiba ler e escrever e que não esteja desempregado no momento de conceder uma entrevista.

Os Teddys em geral têm contribuído decisivamente para o aperfeiçoamento do modelo brasileiro de tomada de decisões. Não há quem não se encante com suas frases altamente inspiradoras, do tipo "Historicamente, problemas têm sido grandes geradores de soluções". Vamos então a uma entrevista exclusiva com um legítimo Teddy:

-- Alô?

-- Mister Teddy, o senhor acredita que o empreendedorismo interno seja o melhor atalho para a solução de problemas nas empresas modernas?

-- Quem está falando?

-- É claro! Tudo depende de quem está falando! Excelente resposta. E a especialização está definitivamente substituindo a generalização, ou seria o contrário?

-- Talvez. Mas quem...

-- Ah, a eterna ambigüidade corporativa. Nossos leitores ficarão em êxtase! Uma última pergunta: como o senhor visualiza a transição entre a empresa pré-imediatista e a organização pós-enigmática?

-- Olha, daria para você me ligar depois? Minha mulher quer que eu vá ao supermercado comprar ração para o nosso gato.

-- Se o senhor não se incomodar, vou redigir isso como "Tudo se resume a uma questão de internalizar prioridades ambivalentes". O.k.?

-- O.k. Bye!

-- Com quem você estava falando, Jack dear?

-- Acho que era engano, Sheila darling. Ou então era o seu irmão tentando me passar outro trote.

Mas muita gente por aqui realmente acredita que soluções milagrosas sejam privilégio do hemisfério norte. Quando essas pessoas conseguem se aninhar em empresas que pensam exatamente da mesma maneira, aí ninguém segura. Juntam então o que há de melhor lá fora, conceitos com nomes que impressionam, combinam com o nosso jeito de administrar -- Deus ajuda a quem delega -- e chegam aos Dez Passos Elementares para a Solução de Qualquer Problema, um processo decisório muito aplicado em empresas nas quais solucionar um problema é muito menos importante do que o método utilizado para chegar à solução:

1. DESCUBRA UM PROBLEMA

Por exemplo: "A pressão da água no banheiro dos funcionários está muito baixa".

2. ENVOLVA MAIS TRES PESSOAS NO PROBLEMA

Isso é muito importante, porque quatro integrantes é o número mínimo necessário para que um grupo possa merecer, em qualquer empresa moderna, o título de "Comitê de Gestão".

3. CONVOQUE UM ESPECIALISTA EM RELAÇÕES HUMANAS

Com isso, o Comitê de Gestão terá oportunidade de avaliar o impacto que as possíveis alternativas de decisão poderão vir a ter no ambiente interno de trabalho. Essa simples providência já permitirá classificar o problema como sendo "de alto impacto motivacional".

4. CONVOQUE UM ESPECIALISTA EM SISTEMAS

Então ele indicará ao Comitê de Gestão os softwares e os aplicativos mais apropriados para agilizar a obtenção da base de dados. Contudo, o mais importante é que o problema já poderá ser batizado de "Alavancagem sistêmica de recursos hídricos com alto impacto motivacional".

5. CONVOQUE UM ESPECIALISTA EM FINANÇAS

Ele poderá encaminhar à diretoria uma solicitação de reforço de verba, o que permitirá ao Comitê de Gestão classificar o problema como "Reordenação do budget para alavancagem sistêmica de recursos hídricos com alto impacto motivacional".

6. CONVOQUE UM ESPECIALISTA EM TRANSPORTES

Embora ele não tenha nada a ver com o problema em si, a não ser como usuário do banheiro, o Comitê de Gestão ganhará, com sua participação, a chance de encontrar o nome perfeito para o problema: "Logística de reordenação do budget para alavancagem sistêmica de recursos hídricos com alto impacto motivacional".

7. CONVOQUE UM ESPECIALISTA EM MARKETING

De que adianta solucionar um problema se ninguém ficar sabendo dos tremendos esforços necessários para isso? Com a indispensável contribuição de marketing, o problema vai ter, além do nome, um slogan: "Mais pressão, mais motivação".

8. SUGIRA A CONTRATAÇÃO DE UMA CONSULTORIA EXTERNA

Isso é vital, já que o tamanho do nome do problema extrapolou em muito a capacidade do Comitê de Gestão de memorizá-lo. Após detalhadas avaliações e construtivas reuniões, a consultoria proporá manter o nome original do problema, mas com a devida inclusão do termo "Reengenharia estrutural" em seu início.

9. APRESENTE AS CONCLUSÕES À DIRETORIA

Como a essa altura os custos estarão lá pela ionosfera, o Comitê de Gestão vai sugerir que a consultoria seja dispensada e que o seu Geraldo da manutenção seja chamado para substituir a válvula de descarga do banheiro. Essa providência vai gerar uma economia brutal e os componentes do Comitê de Gestão serão elogiados pelo approach holístico na avaliação do problema.

10. DESCUBRA OUTRO PROBLEMA

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