Livros em pé vistos de cima (VIDA SIMPLES)
Da Redação
Publicado em 14 de junho de 2013 às 16h25.
Quê? Encontrei o técnico da Seleção na fila da açougue. Com aquele “ar gaúcho”, sereno, quieto. Mais dois ou três segundos, não me contive:
- O Godói está merecendo uma chance, hein? – brinquei seriamente.
- Ah, tá! Bom zagueiro! – respondeu.
Não sou tiete, não acompanho amistosos, mas (poxa!) encontrar o cara mais cobrado do Brasil não é tão fácil assim! Ainda mais na fila do açougue!
Com aqueles gramas de carne moída, refleti, em alto som:
- Como deve ser a vida de um técnico da Seleção?
Se o cara bebe, é “bebum”. Se grava comercial, é mercenário. Se veste terno, é metido. Se veste uniforme da CBF, tem péssimo gosto. Se é calmo, falta-lhe pulso. Se recebe, é antipatriota. Se tem pulso, é agressivo. Se não convoca, é burro. Se convoca, há complô. Se... se.... se...
Na boa, ao menos por um dia, GOSTARIA de montar a minha seleção. Só CONVOCARIA os da enquete popular. USARIA o lugar-comum “dê ao povo o que o povo quer”. Os críticos mal-humorados, com o trombone elétrico, em marcação cerrada, UIVARIAM e, certamente, QUESTIONARIAM:
- Mas o goleiro César não está na hora de aposentar? E o atacante Gil fala muito... Osmar Júnior é pipoqueiro!
- Entendam que há um planejamento. A Seleção é do povo. Aqui o negócio é suar a camisa. Nossa ideologia é criar uma família e respeitamos o povo. – RESPONDERIA eu com a convicção.
Mesmo com os meus amadores conceitos futebolísticos, jamais ABANDONARIA a frase estampada, naquela plaquinha do meu quarto, ensinada pelo professor de História: DÊ AO POVO O QUE O POVO QUER!
(...)
Final da Copa do Mundo de 2014. DIRIA o locutor:
- Bem, amigos! Chegou o momento tão esperado! Seleção escolhida com os dedos populares; técnico simpático com a imprensa; todos os jogos, até aqui, vencidos. É a primeira vez que uma nação convoca os vinte e dois representantes (da própria nação, pleonasticamente).
Zero a zero. Segundo tempo. Tudo dando errado. Como em um instante, DECIDIRIA dar rápidas férias àquela ideologia, ensinada pelo meu professor, historiador. CHAMARIA o Osmar Júnior – massacrado pela crítica popular, reserva em boa parte da Copa – e SOPRARIA em seus ouvidos:
- São dois anos odiados pelo povo. Faça aquela sua jogada individual; comemore com sua dancinha. Acabe com aquela pífia defesa, Osmar Júnior!
Bola no meio de campo. Osmar recebe a bola, avança, corta o zagueiro, vê o goleiro adiantado, rabisca a chuteira por debaixo da bola e, lentamente, a bola cobre o goleiro argentino. De Cachoeira a J. Barbosa; de Lula a FHC; de Dilma a Rita Lee; de Ratinho a Faustão; de Chico a Caetano – o grito de Gol representa o Brasil mais forte, mais político, mais próspero, mais tudo.
Câmeras, luzes e, assim, SERIA a tão esperada entrevista coletiva:
- Técnico Jota Cavalcânti, o senhor saiu do nada! Nunca foi técnico, parecia entender tão pouco de Futebol. Somos HEXA, professor! Qual a fórmula para tanto sucesso?
Pela primeira vez, um silêncio pleno; uma sensação de desconfiança e respeito TOMARIAM o ar daquele vestiário novinho. De repente, um grito do fundo toma(ria) conta:
- Somos HEXA! É campeão! É campeão! Nunca na história deste país...
Osmar Júnior, vestido apenas com cueca Nupo, DESPEJARIA um gélido balde na cabeça de seu, agora, “pai-técnico”. Jogadores AMONTOAR-SE-IAM, cartolas TRAGARIAM, presidenciáveis ABRAÇAR-SE-IAM. HAVERIA tanto barulho que a coletiva TRANSFORMAR-SE-IA em festa. No embalo, o técnico SAIRIA para se trocar. Um daqueles estagiários jornalistas DIRIA ter visto uma plaquinha, no vestiário, com os dizeres: DÊ AO POVO O QUE O POVO QUER.
Futuro do pretérito: responsável pelas hipóteses; tempo das possibilidades. E em se tratando de pensamentos, tudo é possível. Melhor! Seria possível!
Um abraço e até a próxima!