Médicos: até o final de dezembro, mais de 6,6 mil médicos atuarão no país (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de junho de 2014 às 15h07.
São Paulo - Os efeitos da dívida crônica — aquela que compromete mais de 50% do orçamento familiar e que perdura por meses ou anos — são muito mais devastadores para a saúde do que simples dores de cabeça. É o que mostra uma pesquisa da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, publicada no ano passado.
Segundo o estudo, o estresse do endividamento afeta todo o organismo, numa reação em cadeia, e eleva a probabilidade de problemas graves, como úlceras e derrames.
No Brasil, 64,3% das famílias estão endividadas, segundo a Confederação Nacional do Comércio. Isso significa que mais da metade da população brasileira vive sob a angústia de saber que o dinheiro acabará antes do fim do mês.
Essa é uma das explicações para o fato de sermos o segundo povo mais estressado do mundo, atrás apenas dos japoneses, para quem o trabalho é a maior fonte de preocupação.
“O cérebro interpreta a dívida como uma ameaça e dispara uma série de reações químicas. Se o endividamento é crônico, a liberação constante de hormônios do estresse faz com que o corpo comece a se adaptar a essa nova realidade.
Isso pode causar uma série de problemas, que vão desde a queda de cabelo até um infarto”, diz o cardiologista Artur Zular, do comitê de medicina psicossomática da Associação Paulista de Medicina. “Observamos nesse público [endividados crônicos] alterações de peso, arritmia cardíaca, colite e até impotência ou alterações menstruais.”
Esses casos não são exceções. Só um em cada dez endividados consegue colocar a cabeça no travesseiro e ter uma noite de sono reparador. “Na maioria dos casos, chegam envergonhados, deprimidos, doentes. Já perdi a conta de quantas pessoas vi passando mal ao falar da dívida”, diz Marcelo Segredo, da Associação Brasileira do Consumidor (ABC), que oferece consultoria aos endividados.
Para ter ideia, segundo a ABC, o alcoolismo afeta 30% dos superendividados, mais do que o dobro do encontrado na população em geral.
Para quem está nessa situação, o primeiro passo rumo à solução é assumir o problema e procurar ajuda. “A partir do momento em que começamos a fazer a renegociação e mostramos que é possível diminuir 70% o saldo devedor, o endividado vê uma luz no fim do túnel e passa a se sentir melhor, por mais que vá demorar uns cinco anos até ele se livrar completamente da dívida”, diz Marcelo.
Além da entidade, os Procons de seis estados (PB, PR, PE, RJ, RS e SP) oferecem programas de apoio aos superendividados. “Organizamos planos de pagamento e ajudamos a pessoa a negociar com os credores”, promete Vera Remedi, do Procon de São Paulo. O remédio é amargo, mas com disciplina o endividado pode recuperar a saúde física e financeira.