Falando em livros... (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 20 de abril de 2013 às 08h00.
Ao visualizar tanta maldade ocorrida nos Estados Unidos, veio a mim um pensamento: nascer, às vezes nem crescer, morrer. Ao mesmo tempo, misturam-se conjugação verbal e a realidade carnal do ser humano.
Diz o jornalista que “Em Boston, há, pelo menos, três finados. Um é criança!” Finado, de acordo com o dicionário, é aquele que tem fim. Construção linguística cruel - aquele / aquela que têm fim!
O ser, quando não finado, debate-se nas diferenças entre o “ter fim” e o “haver fim”. Sim! Todos os dias, usamos “tem isso”, “há aquilo”, “tem mesmo?” Qual é, então, a diferença entre os citados verbos? Bem simples e vital: o “ter” só deve representar POSSE; já o “haver”, enquanto verbo principal, representa EXISTIR, ACONTECER, OCORRER.
Vejamos um trecho da canção Encontros e Despedidas, de Fernando Brant e Milton Nascimento:
“Todos os dias é um vai e vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai
Para nunca mais...
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir...”
O finado, ali representado pelo sujeito vida, pode apresentar duas concepções, crenças gramaticais. Primeira crença: de a própria VIDA POSSUIR gente que vai e vem, que chega e vai. Nesse caso, com o uso padronizado do verbo TER. Ela, a vida, tem gente!
Segunda crença: o desvio, com o verbo TER, dando relação de existência. O padrão gramatical, para os que assim creem, seria: HÁ GENTE que vai e vem, HÁ GENTE que chega e que vai; a gente simplesmente EXISTE, ACONTECE, OCORRE. A vida não nos possui. Sendo assim, o verbo adequado seria o HAVER ou mesmo o EXISTIR.
Tudo depende da concepção gramatical. Você acha que a vida TEM gente ou, simplesmente, HÁ gente na VIDA? A Semântica não perdoa o finado: este tem fim. Tem fim. A vida, talvez, não.
Um abraço e até a próxima!