Em 2023, Portugal concedeu 328.978 títulos de residência, dos quais 44% foram destinados a brasileiros, segundo a AIMA (Jose A. Bernat Bacete/Getty Images)
Repórter
Publicado em 19 de julho de 2025 às 13h46.
Última atualização em 19 de julho de 2025 às 13h55.
O Parlamento de Portugal aprovou nesta quarta-feira, 16, alterações na lei de imigração que endurecem as regras imigrantes, inclusive brasileiros - maior comunidade estrangeira no país.
Segundo o último relatório da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em 2023 foram concedidos 328.978 títulos de residência em Portugal. Desse total, 147.262 (mais de 44%) foram para brasileiros.
As mudanças ainda aguardam sanção do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mas já causam atrasos de quem vive e trabalha no país.
As medidas fazem parte de um pacote que visa restringir a entrada e permanência de imigrantes em território português. A EXAME ouviu dois advogados especialistas em imigração que vivem hoje em Portugal (Wilson Bicalho e Simone Marins). Segundo eles, esses são os principais pontos aprovados:
A dentista brasileira Julianne Rabelo, de 30 anos, vive em Braga desde 2023. Após anos como cirurgiã-dentista em São Paulo, decidiu fazer um “ano sabático” em Portugal. Como turista, conseguiu emprego como atendente em uma loja e iniciou o processo de legalização pelo então vigente sistema de “Manifestação de Interesse”. Esse caminho, no entanto, foi encerrado pelas novas medidas.
“Eles não dizem quando sai o cartão de residência. Advogados falam em até 90 dias, mas já estou esperando há mais de um ano. Não posso sair do país nem visitar minha família”, conta Rabelo.
Julianne Rabelo, brasileira que vive em Portugal (Arquivo pessoal/Divulgação)
O empresário Daniel Soares, de 47 anos, também enfrenta os atrasos. Ex-diretor de marketing em São Paulo, decidiu mudar de vida e se mudou com a esposa e a filha de 4 anos. A família entrou legalmente com o visto CPLP, mas segue sem o cartão de residência.
“Estamos legais, mas sem o cartão ficamos em um limbo. Tive que pagar escola particular para minha filha e plano de saúde”, afirma.
O empresário Daniel Soares com a família, em Portugal (Arquivo pessoal/Divulgação)
Hoje, Soares é sócio de uma startup chamada Next Border, que desenvolve uma plataforma com inteligência artificial para ajudar outros imigrantes nos processos de visto. “Queremos facilitar o que para nós foi tão difícil”, diz.
Até mesmo o advogado Bicalho está enfrentando problemas com o sistema. Ele afirma que solicitou a renovação de seu visto com antecedência e, ainda assim, está com o processo parado desde maio. “O sistema está completamente congestionado”, diz o advogado de imigração.
Para quem já está em Portugal, a orientação dos advogados é aguardar o prazo legal de 90 dias para a emissão do visto e, caso não haja resposta, entrar com recurso administrativo ou ação judicial.
Para quem está no Brasil e deseja se mudar, as opções serão mais limitadas se a nova lei for sancionada:
“A regularização espontânea no território português está com os dias contados. O processo vai ficar bem mais burocrático”, afirma Simone Marins, advogada de imigração que atua em Lisboa desde 2014.
Segundo os advogados, as mudanças refletem o fortalecimento de blocos políticos de centro-direita em Portugal - tendência que também se observa em países como Estados Unidos e Itália. “Houve falta de planejamento e estrutura para lidar com a crescente chegada de imigrantes. Agora, o governo está corrigindo com restrições severas”, diz Marins.
A ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, reconheceu recentemente o colapso no sistema: “Portugal sofreu um dos maiores choques demográficos, com a população estrangeira quadruplicando desde 2017”.
Apesar do endurecimento, o governo prorrogou a validade de 280 mil autorizações de residência vencidas até 30 de junho - agora válidas até 15 de outubro de 2025. Ainda assim, o futuro é incerto para quem deseja imigrar e trabalhar em Portugal. As novas medidas agora estão nas mãos do presidente de Portugal e as expectativas são de barreiras, e não mais de portas-abertas.