MICHEL TEMER: presidente desistiu de usar o slogan (Adriano Machado/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2018 às 15h04.
Última atualização em 22 de maio de 2018 às 15h51.
Um lema ordinário, produzido pela assessoria do Governo Temer, espalhou-se na semana passada: "O Brasil voltou, 20 anos em 2."
À visão dos críticos sobre Política, a frase dúbia reflete quão falha vem sendo a comunicação presidencial.
Sem as revisões semântica (sobre o sentido) e gramatical, uma sentença solta nem sempre revelará a intenção comunicativa. O verbo "voltar" pode referir-se a "ressurgir" ou "reaparecer", mas nessa específica situação expõe mais o sentido de "retroceder". Foi uma escolha lexical infeliz.
Na escrita, a vírgula daquela forma tem o mesmo papel de dois-pontos ou do próprio travessão. Na fala, na pronúncia, está ali o grande problema: "regressar 20 anos em 2" interrompe a intenção do governo, gerando a ambiguidade, a dupla compreensão (algo jamais bem-vindo neste momento de tanta turbulência no cenário brasileiro).
Quando questionei, em uma mídia social, sobre o porquê de determinados assessores, um defensor de Temer cravou a seguinte redação:
"Assessoria para o quê? Assessoria para a comunicação política, oras!"
Nos tempos do Novo Acordo Ortográfico (com a retirada do acento gráfico diferencial em "para"), não me pude conter, retruquei e apontei uma dubiedade:
Essa assessoria temerária sim: para, trava, interrompe, não vai além.
Ironia à parte, a intenção do defensor foi usar "para" como elemento prepositivo, a fim de indicar a finalidade.
Um "para" já estampou uma placa terrível na cidade de São Paulo:
"Mais uma obra PARA o trânsito."
Por esses e outros motivos, diversos estudiosos de nossa Língua Portuguesa defendem o retorno do diferencial em "PARA (preposição) e PÁRA (verbo)", com o intuito da extinção de possíveis dubiedades ou compreensão indevidas.
As revisões semântica e gramatical devem ser um exercício diário: ler em voz alta; refletir sobre a seleção de palavras; revisar a norma antes da divulgação; reescrever, se houver necessidade.
Conclusão: a transmissão de mensagem com descuido tem como consequência a recepção com o mesmo descuido.
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Diogo Arrais
@diogoarrais
YouTube: MesmaLíngua
Professor de Língua Portuguesa
Autor Gramatical pela Editora Saraiva