Carreira

Por que promover inovação não é um luxo – é uma necessidade

Em artigo, Rogério Chér, sócio-fundador da Devello e da Winx, argumenta que inovação é vital para atrair, reter e engajar talentos

Rogério Chér: Não considere inovação apenas como “ciência de foguete”, como iniciativas tecnológicas mirabolantes. Entenda isso mais como o espaço seguro que é percebido – ou não – pelo colaborador para sugerir ideias (PM Images/Getty Images)

Rogério Chér: Não considere inovação apenas como “ciência de foguete”, como iniciativas tecnológicas mirabolantes. Entenda isso mais como o espaço seguro que é percebido – ou não – pelo colaborador para sugerir ideias (PM Images/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 10 de julho de 2025 às 13h14.

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Por Rogério Chér, sócio-fundador da Devello e da Winx

Ao longo dos últimos 30 anos, tenho me dedicado a estudar os fatores que verdadeiramente engajam pessoas no trabalho. Não aqueles slogans ocos de parede ou campanhas institucionais das empresas, mas tudo aquilo que faz os olhos brilharem, que energiza e sustenta vínculos fortes entre indivíduo e organização.

No primeiro semestre de 2025, os dados que obtivemos na WinxHR Tech focada em pesquisas de clima, engajamento, liderança, cultura e bem-estar – trouxeram correlações impactantes: o quanto ter oportunidades reais de inovar transforma a experiência no trabalho.

Não considere inovação apenas como “ciência de foguete”, como iniciativas tecnológicas mirabolantes. Entenda isso mais como o espaço seguro que é percebido – ou não – pelo colaborador para sugerir ideias e apresentar contribuições para melhorar o seu trabalho e o trabalho dos seus colegas.

Segundo a Winx, colaboradores que declararam ter tido várias oportunidades para inovar em seu trabalho apresentaram os seguintes indicadores:

  • eNPS: 65
  • 43% deles em estado de Flow (gratificação, plenitude, foco, envolvimento de corpo e alma com o trabalho)
  • Favorabilidade geral de 89% para clima e engajamento
  • Potencial de turnover em 2%
  • Apenas 1% estão desengajados
  • 88% dos líderes desses colaboradores são percebidos como de alta maturidade

Por outro lado, colaboradores que declararam não ter tido nenhuma oportunidade para inovar em seu trabalho apresentaram resultados muito piores:

  • eNPS: -5 (queda de 107%)
  • Só 11% em Flow (queda de 74%)
  • Favorabilidade cai para 50%
  • Potencial de Turnover dispara para 20% (aumento de 900%)
  • Pessoas desengajados chegam a 21% (aumento de 2000%)
  • Liderança madura desaba para 30% (queda de 65%)

Note como não são diferenças pequenas. São universos completamente opostos.

Estes números são mais do que estatísticas: são uma janela clara para compreender a dinâmica comportamental nas organizações.

Quando negamos o espaço para inovar, estamos, na prática, sufocando relevantes necessidades humanas, tais como:

1) Autonomia

Como explica Daniel Pink, “autonomia é a base da motivação intrínseca.” Quando tudo já está prescrito, definido e engessado, a mensagem é: “não precisamos de você para pensar, apenas para executar”. Nenhum talento diferenciado permanece muito tempo onde não pode exercer sua autonomia.

2) Propósito

Adam Grant, em Dar e Receber, defende que as pessoas querem sentir que estão deixando uma contribuição única. Se não há chance de criar, aprimorar ou propor, o trabalho se torna apenas repetição. É assim que nasce o desengajamento silencioso.

3) Senso de progresso e Flow

Mihaly Csikszentmihalyi mostrou que Flow é aquele estado em que desafio e habilidade se equilibram em alta dimensão. Sem novidade, não há desafio. Sem desafio, não há Flow. Sem Flow, não há paixão, envolvimento, entusiasmo. E sem tudo isso, o trabalho se torna mera obrigação.

Não é por acaso que tenho sempre uma resposta pronta quando um líder me pergunta o que fazer para turbinar o engajamento em suas equipes: “comece um programa de geração de ideias que estimule pensamento e atitudes de inovação”.

Inovar não é só ter boas ideias: é ter permissão para exercitar coragem. Coragem para discordar, testar, falhar de maneira inteligente. Quando uma cultura pune o erro e privilegia apenas a obediência, está involuntariamente criando exércitos de conformistas.

O que essa constatação exige de nós, líderes?

Se queremos ambientes de alto engajamento, não basta criar um “lab de inovação” apartado, um “comitê de criatividade” que só alguns acessam. Precisamos democratizar a inovação como prática diária para:

  • reconhecer ideias simples e incrementais, não apenas as revolucionárias;
  • treinar líderes para serem facilitadores, e não apenas guardiões do “jeito certo de fazer”;
  • cultivar segurança psicológica, como defende Amy Edmondson, para que as pessoas se sintam autorizadas a experimentar sem medo.

Quero provocar algumas reflexões em você que lidera times:

  1. Quando foi a última vez que alguém da sua equipe trouxe uma ideia incômoda, que contrariou a maneira como o trabalho sempre foi feito?
  2. Você escutou genuinamente essa pessoa? Ou se apressou em descartar suas contribuições?
  3. Quais rituais e processos da sua área reforçam a criatividade, e quais a boicotam?
  4. Seus indicadores de performance só premiam eficiência operacional, ou também valorizam contribuições novas?

A pior armadilha é acreditar que inovação é um departamento, e não uma competência transversal. Organizações saudáveis sabem que inovar não é um enfeite, mas uma necessidade vital. É o oxigênio que mantém as pessoas conectadas e apaixonadas. É caminho para impulsionar engajamento.

Se há algo que esses dados gritam, é que inovar contribui enormemente para o comprometimento de corpo e alma das pessoas com o trabalho. Um antídoto poderoso contra o tédio, a apatia e a demissão silenciosa.

Talvez o maior risco não seja inovar e falhar. Seja não inovar e definhar.

Acompanhe tudo sobre:InovaçãoRecursos humanos (RH)

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