Rogério Chér: Não considere inovação apenas como “ciência de foguete”, como iniciativas tecnológicas mirabolantes. Entenda isso mais como o espaço seguro que é percebido – ou não – pelo colaborador para sugerir ideias (PM Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 10 de julho de 2025 às 13h14.
Ao longo dos últimos 30 anos, tenho me dedicado a estudar os fatores que verdadeiramente engajam pessoas no trabalho. Não aqueles slogans ocos de parede ou campanhas institucionais das empresas, mas tudo aquilo que faz os olhos brilharem, que energiza e sustenta vínculos fortes entre indivíduo e organização.
No primeiro semestre de 2025, os dados que obtivemos na Winx – HR Tech focada em pesquisas de clima, engajamento, liderança, cultura e bem-estar – trouxeram correlações impactantes: o quanto ter oportunidades reais de inovar transforma a experiência no trabalho.
Não considere inovação apenas como “ciência de foguete”, como iniciativas tecnológicas mirabolantes. Entenda isso mais como o espaço seguro que é percebido – ou não – pelo colaborador para sugerir ideias e apresentar contribuições para melhorar o seu trabalho e o trabalho dos seus colegas.
Segundo a Winx, colaboradores que declararam ter tido várias oportunidades para inovar em seu trabalho apresentaram os seguintes indicadores:
Por outro lado, colaboradores que declararam não ter tido nenhuma oportunidade para inovar em seu trabalho apresentaram resultados muito piores:
Note como não são diferenças pequenas. São universos completamente opostos.
Estes números são mais do que estatísticas: são uma janela clara para compreender a dinâmica comportamental nas organizações.
Quando negamos o espaço para inovar, estamos, na prática, sufocando relevantes necessidades humanas, tais como:
Como explica Daniel Pink, “autonomia é a base da motivação intrínseca.” Quando tudo já está prescrito, definido e engessado, a mensagem é: “não precisamos de você para pensar, apenas para executar”. Nenhum talento diferenciado permanece muito tempo onde não pode exercer sua autonomia.
Adam Grant, em Dar e Receber, defende que as pessoas querem sentir que estão deixando uma contribuição única. Se não há chance de criar, aprimorar ou propor, o trabalho se torna apenas repetição. É assim que nasce o desengajamento silencioso.
Mihaly Csikszentmihalyi mostrou que Flow é aquele estado em que desafio e habilidade se equilibram em alta dimensão. Sem novidade, não há desafio. Sem desafio, não há Flow. Sem Flow, não há paixão, envolvimento, entusiasmo. E sem tudo isso, o trabalho se torna mera obrigação.
Não é por acaso que tenho sempre uma resposta pronta quando um líder me pergunta o que fazer para turbinar o engajamento em suas equipes: “comece um programa de geração de ideias que estimule pensamento e atitudes de inovação”.
Inovar não é só ter boas ideias: é ter permissão para exercitar coragem. Coragem para discordar, testar, falhar de maneira inteligente. Quando uma cultura pune o erro e privilegia apenas a obediência, está involuntariamente criando exércitos de conformistas.
Se queremos ambientes de alto engajamento, não basta criar um “lab de inovação” apartado, um “comitê de criatividade” que só alguns acessam. Precisamos democratizar a inovação como prática diária para:
Quero provocar algumas reflexões em você que lidera times:
A pior armadilha é acreditar que inovação é um departamento, e não uma competência transversal. Organizações saudáveis sabem que inovar não é um enfeite, mas uma necessidade vital. É o oxigênio que mantém as pessoas conectadas e apaixonadas. É caminho para impulsionar engajamento.
Se há algo que esses dados gritam, é que inovar contribui enormemente para o comprometimento de corpo e alma das pessoas com o trabalho. Um antídoto poderoso contra o tédio, a apatia e a demissão silenciosa.
Talvez o maior risco não seja inovar e falhar. Seja não inovar e definhar.