Carreira

Por que ainda trabalhamos tanto?

Seis em cada dez profissionais estão estressados pelo excesso de tarefas e desejam ter uma vida mais equilibrada. Descubra os fatores que emperram sua produtividade e aprenda como trabalhar menos e melhor

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de junho de 2013 às 16h00.

São Paulo - Em dez anos de carreira em empresas como PricewaterhouseCoopers e Ericsson, o contabilista paulistano Alexandre Pellaes, de 35 anos, se acostumou a trabalhar em média 13 horas por dia. 

Há três anos, quando se tornou pai de trigêmeos, o executivo começou a sentir os efeitos do estresse. Sem tempo para exercícios, passou a ter problemas de pressão. Assustado, decidiu reavaliar seus objetivos de carreira. “Quis desacelerar para acompanhar o crescimento de meus filhos”, diz Alexandre.

A decisão o levou a procurar um emprego que oferecesse uma relação mais equilibrada entre trabalho e vida pessoal. Hoje, Alexandre é responsável no Brasil pela área de finanças da W.L. Gore, fabricante americana de produtos plásticos. Modesta aqui, a companhia está, há 13 anos, na lista das melhores empresas para trabalhar dos Estados Unidos, publicada pela revista Fortune.

No atual emprego, Alexandre tem horários flexíveis, o que lhe permite levar os filhos à escola diariamente e ainda fazer academia de ginástica três vezes por semana.

Como tem autonomia para escolher os projetos em que vai entrar, consegue administrar melhor a carga de trabalho e permanecer menos tempo no escritório. Alexandre afirma que não trocaria o emprego por um cargo com salário mais polpudo se demandasse perda de qualidade de vida. “Atualmente, sou mais criativo, mais produtivo e mais feliz”, diz. 

Infelizmente, quem consegue balancear atividades profissionais e pessoais, como Alexandre, é minoria. No Brasil, o excesso de trabalho angustia mais gente do que o medo de perder o emprego.

É o que diz uma pesquisa da Isma-Brasil, instituição internacional que estuda qualidade de vida, que em 2009 ouviu mil executivos e constatou que 62% deles estão insatisfeitos com a quantidade de horas que dedicam ao trabalho — e sofrem por isso.

Nos seis anos anteriores em que a mesma pesquisa foi realizada, o fantasma do desemprego sempre foi o maior fator de estresse entre os executivos, à frente da sobrecarga de trabalho.


A busca por uma vida equilibrada também se revela em um estudo conduzido por Daniela Degani e Felipe Ferrazoli, pesquisadores da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. Eles descobriram, em entrevistas com 55 gestores, que 60% deles gostariam de trabalhar numa companhia na qual pudessem ter horários mais flexíveis e menos sobrecarga.

Esses profissionais estão, inclusive, dispostos a renunciar a até 15% de suas remunerações para dispor, em troca, de mais nove horas livres na semana. Essa busca por equilíbrio, no entanto, não passa de um desejo. No mundo real, 45% desse mesmo grupo trabalha entre dez e 12 horas por dia e 9% ficam mais de 13 horas dentro do escritório. Pior, na prática, eles fazem pouco para reverter a situação.

Fica, portanto, a pergunta: se queremos mais qualidade de vida, por que ainda trabalhamos tanto? Segundo Carlos Honorato, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e orientador da pesquisa da FIA, a rigidez e a cultura workaholic da maioria das empresas sufocam os anseios de mudança das pessoas:

“Elas querem trabalhar menos, mas ainda não comunicam esse desejo por insegurança”, diz. Quando se colocam nessa posição, os profissionais tentam resolver a situação silenciosamente, por conta própria, e acabam se frustrando ainda mais. “Em geral, as pessoas administram mal o tempo, e a tecnologia, que poderia ajudá-las, acaba por atrapalhar”, diz Carlos. 

Produção em alta, saúde em baixa 

A crise financeira mundial engrossou o rolo compressor da sobrecarga de trabalho. Muitas empresas, preocupadas em enxugar os gastos, encolheram as equipes, cancelaram os bônus, aumentaram as metas e diminuíram o tempo para entregar resultados. A cobrança aumentou.

Os resultados das medidas tomadas durante a crise estão aparecendo agora: a lucratividade das firmas brasileiras aumentou de 14,5% em 2008 para 15,9% em 2009, de acordo com levantamento do jornal Valor Econômico com 88 companhias de capital aberto. Ao mesmo tempo, os funcionários estão exaustos. A crise parece ter passado, mas deixou sequelas.

“Os donos estão felizes em faturar mais gastando menos e não vão aumentar os quadros enquanto estiverem lucrando”, diz Paulo Salomão, professor do Instituto de Marketing Industrial (IMI), de São Paulo. “A consequência da sobrecarga é a fragilidade dos profissionais, cada vez mais frustrados e estressados”, completa a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-Brasil. 


Uma pesquisa do Hospital do Coração de São Paulo (HCor) comprova a afirmação: 50% dos executivos paulistanos, com média de 40 anos, sofrem de estresse. “A estafa é a válvula de escape para diversas doenças, como a depressão, a enxaqueca e a gastrite, que surgem cada vez mais cedo”, diz Silvia Cury, chefe do ambulatório de psicologia do HCor.

O aumento do número de profissionais estressados por causa da crise financeira é mundial. De acordo com pesquisa da consultoria Terco Grant Thornton, 56% dos executivos de 36 países estão ainda mais estressados em decorrência da crise do ano passado.

Funcionários desmotivados e com a saúde frágil são um problema grave para as corporações. “Pessoas não são máquinas”, explica Anderson Sant’Anna, professor de comportamento organizacional da Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte. “Nem sempre se recuperam rapidamente de uma dose alta de pressão”, diz.

Não à toa, o custo com saúde — preventiva ou não — tem crescido muito na conta corporativa. “As organizações sabem que a carga horária e a pressão aumentaram, por isso investem cada vez mais em benefícios de qualidade de vida”, diz Alexandre Espinosa, diretor de saúde e benefícios da consultoria Mercer. 

O carioca Adalberto Mendes Neto, de 42 anos, analista de projetos da fornecedora de software Totvs, lutou por ações de bem-estar para ser mais feliz (e produtivo). Adalberto ajudou a implantar um programa de corrida que foi disseminado a todos os funcionários da companhia.

“Como pedir um aumento é complicado, resolvi que a empresa precisava me dar mais qualidade de vida. Os diretores compraram a ideia”, conta Adalberto. Hoje, a Totvs incentiva a prática esportiva e até patrocina os funcionários em maratonas.

“O trabalho é importante, mas criar um equilíbrio é fundamental”, diz Ernesto Haberkorn, fundador da Totvs e idealizador do programa Netas, que estimula a prática esportiva, cultural e espiritual. “Prestar atenção em outras esferas da vida faz com que as pessoas se desenvolvam melhor, dentro e fora da carreira.” 


A empresa Genzyme, de biotecnologia farmacêutica, seguiu o mesmo caminho e desenvolveu programas para estimular o bem-estar. Os funcionários têm flexibilidade de horário, saem mais cedo às sextas-feiras, podem trabalhar de casa pelo menos duas vezes por mês e recebem, por meio de um programa de consultoria, auxílio jurídico, médico ou financeiro.

“Nesse ramo, o trabalho é pesado e, se os profissionais não tiverem uma vida pessoal satisfatória, vão ficar desmotivados e a qualidade do nosso serviço vai cair”, diz Alexandre Galvão, diretor de RH da Genzyme.

A carioca Ana Paiva, de 33 anos, credita seu sucesso profissional ao bem-estar que alcançou dentro da companhia. Coordenadora de relações corporativas, ela só conseguiu concluir a pós-graduação e um MBA graças ao tempo livre oferecido pela Genzyme. “Eu pude desenvolver meus estudos. Estudar, além de me ajudar numa colocação no mercado, é uma grande realização individual”, diz Ana.

O peso da insegurança

Apesar de o medo do desemprego aparecer em segundo lugar na pesquisa de gatilhos de estresse conduzida pela Isma-Brasil, a insegurança é um fator que influencia bastante na maneira de encarar o trabalho.

Por terem medo de ser substituídos ou deixados de lado na hora de uma promoção, muitos fazem de tudo para parecer imprescindíveis, mesmo que isso signifique ficar mais tempo no escritório. A prática, chamada de presenteísmo, consiste na permanência no trabalho mesmo depois da realização dos objetivos do dia.

O problema é grave, pois se propaga como vírus: se um chefe fica até tarde no trabalho, o subordinado estica a jornada improdutivamente para sair depois.

Se esse subordinado também é gestor, sua equipe adota o mesmo comportamento, e a coisa vai descendo e contaminando o ambiente. “Essa prática é tóxica e pode levar o indivíduo a problemas graves de saúde”, diz a psicóloga Ana Maria Rossi, da Isma-Brasil.

Alexandre Pellaes, da W.L. Gore, já enfrentou o problema em empregos anteriores. “Na área financeira ainda há essa aura de que o bom profissional é o que trabalha até altas horas”, diz. No começo da carreira, ele entrou na onda. Mas, aos poucos, começou a sentir a frustração por ficar horas a fio atrás do computador apenas para se adequar à cultura workaholic de uma empresa.

“No começo, a sensação é de que você é uma peça fundamental. Quando o tempo passa e você percebe que poderia usar aquele tempo em tarefas mais produtivas fora do escritório, surge o desânimo”, conta. Para driblar essa situação, Ana Cristina Limongi, professora do programa de gestão de pessoas da FEA-USP, sugere o diálogo com a liderança, por mais difícil que ele possa ser.


“O ideal é tentar conversar sobre o tema com a chefia e mostrar que não é preciso trabalhar até de madrugada para cumprir metas”, diz Ana Cristina. Mas a professora alerta: nem sempre a negociação é possível. “É mais difícil mudar o hábito em companhias com tradição de presenteísmo. Em casos extremos, a melhor solução é mudar de emprego.” 

A solução radical foi tomada por Marcelo Lotito, de 39 anos, fundador da Marcap Engenharia, empresa de arquitetura corporativa, de São Paulo. Cansado de ter de passar horas a fio no escritório e de precisar fazer política com chefes e colegas para conseguir crescer na carreira, o paulistano decidiu se tornar empreendedor e criar um negócio  no qual a palavra-chave é meritocracia.

Na Marcap, os 66 funcionários trabalham em equipes que têm autonomia para gerenciar o tempo despendido em cada projeto. Não há hierarquia rígida. Os funcionários têm horários flexíveis de trabalho, são estimulados a desenvolver projetos pessoais e crescem de acordo com os resultados que apresentam.

Ele próprio conseguiu ter mais bem-estar.  “Se passamos quase metade do dia no ambiente de trabalho, nada mais justo do que fazer algo que nos dê prazer”, diz Marcelo. “Hoje sou realizado com o que faço e tenho tempo para ser feliz também longe do computador”, diz. 

Flexibilidade eficiente 

Ter horários flexíveis pode ser decisivo na melhoria da qualidade de vida. Mas, se mal administrada, a maleabilidade de horários se torna mais um fator de sobrecarga de trabalho. De acordo com o professor Carlos Honorato, da FIA, flexibilidade pressupõe mais responsabilidade.

O profissional fica comprometido com a entrega de resultados, não importando quantas horas trabalhe nem onde. Parece mais racional, mas o problema é que muitos não conseguem administrar as tarefas e deixam o trabalho acumular.

“Para a flexibilidade dar certo é preciso disciplina para trabalhar em casa e separar a vida pessoal da profissional”, diz Carlos. Também é fundamental que as empresas abracem enfaticamente a prática.


“A flexibilidade já existe informalmente em muitos lugares, mas muita gente reclama dos olhares de desaprovação dos colegas quando decidem sair mais cedo para trabalhar em casa”, diz a pesquisadora Daniela Degani, da FIA. 

O paulistano Maurício Alves, de 37 anos, gerente de vendas da empresa de serviços de alimentação Ticket, não enfrenta a ciumeira dos colegas. Desde 2007, trabalha remotamente. Para não misturar as instâncias de sua vida, ele criou um espaço em casa voltado exclusivamente ao trabalho.

“É como um escritório real dentro de casa. Até meu filho entende que estou trabalhando quando entro lá”, diz Maurício. Com a agenda organizada, o gerente tem agora mais tempo para ficar com a família e cuidar da saúde. Além disso, a produtividade aumentou no mesmo nível da qualidade de vida.

“Não preciso mais enfrentar trânsito para visitar clientes e posso marcar reuniões fora do horário de rush, o que me motiva a atingir as metas corporativas”, diz. 

A prática de home office é válida para todos da equipe comercial da Ticket. Desde que o programa foi implantado, há dois anos, o número de negócios fechados aumentou 40%.

 “Os benefícios para o negócio são redução de custos e aumento do desempenho e do bem-estar dos profissionais”, avalia Eduardo Távara, superintendente de vendas da Ticket. Para aqueles que ainda não têm a sorte de trabalhar num lugar onde a flexibilidade é regra, Carlos Honorato aconselha: negocie.

“Leia o ambiente e perceba que tipo de mobilidade sua empresa permite e fale com a liderança. Essa atitude é ainda mais eficiente se for tomada no momento da contratação.” 

Tecnologia do bem

Teoricamente, notebooks, smartphones e outras ferramentas tecnológicas devem ajudar as pessoas a executar tarefas mais rapidamente e com menor esforço. Mas, quando usada incorretamente, a tecnologia deixa de ser uma aliada e se torna inimiga.


A ideia de que é possível manter-se o tempo todo em contato com o ambiente de trabalho, por meio de computadores pessoais ou de celulares, aumenta a ansiedade e a carga de tarefas realizadas fora do escritório — tarefas essas que, muitas vezes, poderiam ter sido eliminadas durante o expediente.

“Achávamos que os avanços da tecnologia ajudariam a estender os momentos de lazer, mas o que aconteceu foi exatamente o contrário”, diz Anderson Sant’Anna, da Fundação Dom Cabral. “O tempo dedicado aos problemas corporativos aumentou”, diz. 

Antonio Lemos, gerente de vendas da Voith do Brasil, empresa de soluções gráficas, é desses profissionais que não conseguem desconectar: nunca desliga o celular, checa e-mails corporativos nos fins de semana e entra em contato com colegas de trabalho de madrugada.

“Não me incomodo de estar online o tempo todo, uso qualquer brecha de tempo livre para ser mais produtivo”, diz Antonio. Esse uso desenfreado, no entanto, pode prejudicar a qualidade de vida.

De acordo com Alberto Ogata, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida e coautor do livro Wellness (Editora Campus/Elsevier, 26,90 reais), quem se mantém alerta por 24 horas não é tão produtivo quanto pensa. “Ter um tempo para desenvolver projetos pessoais fora do mundo virtual é importante para estimular a criatividade e o bem-estar — fatores fundamentais para o crescimento na carreira”, explica Alberto.

Para usar a tecnologia a seu favor e não se tornar um escravo dela, o ideal é estabelecer horários (e locais) para acessar a caixa postal corporativa e atender a chamados do escritório.

O especialista em gestão do tempo Paulo Kretly, da consultoria FranklinCovey, aconselha: “Cheque os e-mails de trabalho apenas durante o expediente e estabeleça prioridades para as respostas. Usar assertivamente a tecnologia demanda reeducação e controle da ansiedade”.

A mudança de hábito é mais difícil em empresas com cultura imediatista — se a liderança espera que você esteja sempre disponível, responder a um telefonema às 3 da manhã não é um favor, mas, sim, uma obrigação. Nesses casos, o melhor a fazer é estimular a


mudança aos poucos.

“Se houver abertura, converse com a chefia e mostre que é preciso ter tempo para as respostas, ainda mais quando você estiver fora do escritório”, diz Carlos Honorato.  “As lideranças precisam começar a usar a tecnologia a serviço das pessoas, e não o contrário”, completa. 

Tudo ao mesmo tempo agora

A cultura dos resultados imediatos também gera sobrecarga. “A sensação de que é tudo para ontem expressa esse problema”, diz Daniela Degani, da FIA. Segundo Paulo Salomão, do IMI, a busca pela rapidez na entrega de resultados ocorre pela dinâmica do mercado.

“Os investidores, que estão longe dos locais de trabalho, querem ter lucros cada vez mais rápido, mas essa atitude afeta o cotidiano dos profissionais”, avalia.

Uma pesquisa da consultoria ProGeps, de São Paulo, mostra os efeitos da produção acelerada no dia a dia das pessoas: os gestores gastam, em média, 59% do tempo no escritório para resolver problemas que consideram urgentes.

“A diminuição da hierarquia e a pressão por resultados imediatos fazem com que os funcionários não consigam estabelecer nem prioridades nem limites para a carga de trabalho”, explica Ana Cristina Limongi, professora da FEA-USP. 

O engenheiro gaúcho Gérson Worobiej, de 40 anos, da Macro Engenharia, empresa de construção civil de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, teve de lidar com as consequências do imediatismo e da má gestão do tempo. Para se mostrar disponível, ele costumava abraçar todo tipo de tarefa.


“Eu era um bombeiro”, diz. “Como resolvia tudo rapidamente, meus chefes me atolavam de trabalho”, diz. A atitude fez com que a carga de tarefas aumentasse tanto que Gérson transformou os sábados em dia útil.

“Não conseguia eliminar tarefas durante a semana e chegava a trabalhar até 14 horas por dia.”A sobrecarga durou até 2009, quando ele começou a rever as atitudes. “Se continuasse naquele ritmo, eu teria tido um ataque”, diz. 

Com o objetivo de ganhar tempo, Gérson negociou prazos mais longos com os chefes, diminuiu o número de tarefas diárias, fez um planejamento mensal para suas atividades e aprendeu a dizer “não”. No começo, ele sofreu para deixar de ser centralizador. “Fiquei mais focado em tarefas realmente importantes.”

Aproveitando melhor o tempo, Gérson consegue se dedicar ao trabalho e à vida pessoal: voltou a praticar esportes, a estudar e a se divertir nos fins de semana. O primeiro passo para se organizar é aprender a listar prioridades.

“Criar metas e desenvolver um modelo de trabalho a ser repetido cotidianamente ajuda a usar melhor o tempo”, explica Christian Barbosa, especialista em gestão de tempo e dono da Triad Consulting (veja entrevista com ele na sequência desta reportagem).

Também é importante administrar as horas dedicadas à leitura e às respostas aos e-mails. De acordo com Christian, o brasileiro gasta, em média, três horas por dia só administrando a caixa postal. Além disso, é sempre bom deixar uma brecha na agenda para lidar com os imprevistos — que são constantes.

O especialista alerta para os ladrões de tempo mais terríveis: reuniões improdutivas, navegação em redes sociais e foco em mais de uma tarefa ao mesmo tempo. 

A mestre em comunicação Vera Martins, autora do livro Seja Assertivo! (Editora Campus/Elsevier, 54 reais), sublinha a importância de manter o foco em um objetivo específico e de se comunicar de maneira clara.

“Um profissional que não sabe exatamente que metas precisa atingir não possui estabilidade emocional e se obriga a trabalhar mais do que o necessário”, diz Vera. “A má gestão do tempo aumenta o estresse e prejudica todas as esferas da vida.” Para romper esse ciclo, o melhor a fazer, além de listar os objetivos, é calcular o tempo necessário para cumpri-los e mostrar o planejamento para colegas e chefes.

E atenção aos momentos de navegação a esmo na internet. “É um sinal de que você está ansioso, arrumando uma maneira de fugir dos problemas no escritório”, explica Vera. O consultor Christian Barbosa dá outra dica: perguntar-se diariamente se as tarefas que você realiza geram resultados positivos para sua vida. “A resposta vai guiar a organização de tarefas”, diz o especialista. 

Roberta Maturana, de 30 anos, está fazendo esse exercício. Coordenadora regional de vendas da Lanxess, o braço de soluções químicas da Bayer, ela vive em viagens pela América Latina e pelo Brasil e trabalha, em média, dez horas por dia. No fim do ano passado, a paulistana começou a questionar suas prioridades: colocou na agenda as tarefas da vida pessoal (como ginástica e terapia), negociou férias de 30 dias e passou a delegar responsabilidades.

“Minha resolução de ano novo foi aumentar a dedicação à vida pessoal”, conta. De acordo com  a psicóloga Jaqueline Perozzo Andreazza, professora da Faculdade da Serra Gaúcha,  Roberta está no caminho certo. “O maior risco é cair numa rotina em que faltam interesses múltiplos”, explica Jaqueline. “As chances de frustração são maiores quando o foco é exclusivo no trabalho, pois não há válvulas de escape.” 

Por isso, o conselho para trabalhar melhor é: fazer o que gosta na dose certa. Equação praticada por integrantes da Geração Y, formada por nascidos a partir dos anos 80. “A moçada que está ingressando no mercado de trabalho agora tem muito a ensinar às outras gerações porque, para esse pessoal, é vital ter equilíbrio entre obrigação e lazer”, afirma Eline Kullock, presidente da consultoria Grupo Foco, de São Paulo.

Inclua atividades prazerosas na agenda e se defina não apenas pelo o que você faz, mas, sim, pelo o que você é. Siga o conselho de Wanderley Codo, professor da Universidade de Brasília: “Entenda o trabalho como uma das milhares partes de sua vida”.

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