Valdesir Galvan, CEO da AACD: “A inclusão de adultos no atendimento, especialmente idosos, foi um reflexo do envelhecimento da população e das novas necessidades dessa faixa etária” (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter
Publicado em 4 de agosto de 2025 às 17h00.
Última atualização em 4 de agosto de 2025 às 19h06.
"Oferecemos um serviço que traz uma vírgula para a história de muitas pessoas, nunca um ponto final", afirma Valdesir Galvan, CEO da AACD, em entrevista ao podcast “De frente com CEO”.
O presidente abriu as portas para a EXAME conhecer a estrutura da instituição que completa neste mês 75 anos de existência, com um propósito claro de reencrever muitas histórias.
"Nosso objetivo não é nunca reduzir o atendimento, e essa é a nossa dor principal, porque há uma demanda grande”, afirma o CEO que lidera a instituição desde 2014.
A AACD foi criada em 3 de agosto de 1950 pelo ortopedista Dr. Renato da Costa Bomfim, que, inspirado por centros de reabilitação nos Estados Unidos, desejava oferecer no Brasil um atendimento de excelência para crianças com deficiência física.
"Aqui no Brasil, na época, a poliomielite estava muito forte, e muitas pessoas com sequelas da doença ficavam isoladas em suas casas, sem serem expostas à comunidade. Foi nesse cenário que um grupo de empresários e voluntários se uniu para fundar a AACD, com o foco em cuidar das crianças com paralisia, especialmente aquelas com sequelas da poliomielite", conta Galvan.
Hoje, 75 anos depois, a instituição tem a sede em São Paulo e outras unidades em Recife, Uberlândia e Porto Alegre, ampliando seu alcance ao atender também adultos (que hoje já representa 25% dos atendimentos).
“A inclusão de adultos no atendimento, especialmente idosos, foi um reflexo do envelhecimento da população e das novas necessidades dessa faixa etária”, afirma o CEO. "Muitos acabam precisando do nosso serviço após um AVC, diabates avançadas ou um acidente grave".
As frentes de negócio da AACD também mudaram com o passar dos anos. Além dos serviços de reabilitação, a instituição também oferece uma estrutura hospitalar (com serviços de cirurgias agendadas) e até uma fábrica, onde as próteses são feitas sob demanda, tanto para pacientes do SUS, particulares ou convênio.
"A parte hospitalar nós fazemos em torno de 80% de cirurgias de convênio, o que ajuda a subsidiar o déficit do atendimento no SUS”, diz o CEO. Mas quando o recorte é reabilitação, o presidente reforça que a AACD atende a maioria vinda do sistema público de saúde.
"Hoje 80% dos atendimentos de reabilitação, ou seja, fisioterapias, são do SUS. Mas a tabela do sistema está defasada há mais de 20 anos, sem reajustes. Isso causa um déficit importante que acaba sendo suprido com o financiamento privado e doações”.
No último ano, a AACD realizou de 850 mil atendimentos anuais em reabilitação, cerca de 7 mil cirurgias ortopédicas, e fabricou na oficina (localizada na sede em São Paulo), cerca de 60 mil produtos ortopédicos (como próteses e cadeiras de rodas personalizadas).
“A instituição acaba sendo um refúgio para muitas famílias que buscam recuperar a mobilidade e a qualidade de vida de algum parente, seja por causa de uma doença congênita, de um acidente ou problema de saúde grave”, diz Galvan.
A instituição também investiu em inovação para trabalhar nessas diferentes frentes, como a criação de uma sala de impressão 3D no ano passado, que personaliza próteses e órteses que são usadas antes da cirurgia. Na robótica, investiram na utilização de exoesqueletos e dispositivos para reabilitação de pacientes com mobilidade reduzida.
A primeira vez que Galvan foi CEO ele tinha 27 anos, no Hospital São Camilo, em São Paulo. Embora a responsabilidade fosse grande, a curiosidade e a vontade de aprender o ajudaram a superar o desafio.
“Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa. Comecei trabalhando na recepção de um hospital aos 16 anos, mas nunca me contentei com a área em que estava. Queria entender como tudo funcionava. Foi essa curiosidade que me levou a ser promovido a CEO tão jovem,” afirma Galvan.
Com tantos anos na liderança hospitalar, para ele ser um líder diz muito mais sobre o liderado. “A maior habilidade de um líder é saber lidar com pessoas, estimular o crescimento delas e nunca deixar de aprender.”
Sobre vida pessoal, Galvan compartilha que, apesar dos compromissos diários, mantém um foco no equilíbrio. “Acredito que cuidar de si mesmo é tão importante quanto cuidar dos outros,” diz CEO que mostrou um pouco do escritório à EXAME.
Para os próximos anos, o CEO afirma que a AACD deve crescer e a atender cada vez mais pessoas com algum tipo de deficiência, investindo não apenas em infraestrutura, mas também em tecnologias que revolucionam a medicina e a reabilitação.
“A nossa meta é oferecer uma vida em movimento a todos que necessitam de reabilitação, independentemente da sua condição financeira, raça ou idade”.
A instituição, que atende um número crescente de pacientes, tem um planejamento audacioso para alcançar um 1 milhão de atendimentos, mas a dificuldade de financiar os serviços é um obstáculo constante. "Cada terapia tem um custo médio de R$ 128, e os repasses do SUS ainda são insuficientes, gerando um déficit que precisa ser suprido com parcerias e doações", diz.
Atualmente, a AACD conta com a colaboração do setor privado e de doadores, além de gerar receita com o atendimento a pacientes privados e por meio do programa Teleton, que contribui com cerca de 40% da necessidade anual de recursos. As vendas nos bazares das unidades e as parcerias com empresas também têm sido fundamentais para ajudar a fechar a conta de um orçamento de 90 milhões de reais por ano.
“Nosso objetivo não é nunca reduzir o atendimento, mas de ajudar cada vez mais pessoas,” afirma Galvan.“Esse é o nosso grande propósito, que nos dá energia todos os dias. Conseguimos ver a transformação na vida de muitas famílias, que buscam apenas uma vida com dignidade e em movimento.”