(wenjin chen/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2022 às 15h12.
Última atualização em 31 de agosto de 2022 às 15h14.
O que lhe vem à mente ao pensar em ingressar em uma empresa familiar sem ser da família?
Talvez imagine cenas sórdidas como as do drama Sucessão da HBO, onde a regra do dia é conivência e traição. Ou talvez imagine uma pequena empresa de âmbito regional, parada no tempo, agarrada à visão de um fundador há muito falecido.
Nem sempre essas percepções refletem a realidade, diz Jennifer Pendergast, professora clínica da Kellogg e diretora executiva do John L. Ward Center for Family Enterprises.
Por um lado, as empresas familiares dificilmente formam um nicho. Nos EUA, mais de 32 milhões de empresas familiares empregam 83 milhões de pessoas – 59% da força de trabalho do setor privado. E longe de estarem paradas num tempo não lucrativo, essas empresas familiares podem oferecer altos retornos financeiros, particularmente em mercados em baixa. Nos últimos tempos, o quadro financeiro tem melhorado ainda mais: uma análise do Credit Suisse concluiu que, desde 2006, as mil maiores empresas familiares alcançaram maior crescimento, rentabilidade e retorno sobre o patrimônio líquido do que um benchmarking de empresas não familiares.
Evidentemente, nem tudo é perfeito nesse tipo de empresa. Embora existam muitas empresas como a Pella – reconhecidas não apenas por suas janelas de alta qualidade, mas também por ser uma das principais empregadoras e por seu compromisso com a pequena cidade de Pella, no estado de Iowa – há também empresas como a Purdue Pharmaceuticals, da Sackler, recém- famosa por seu papel na pandemia de opioides.
O problema é o seguinte, diz Pendergast, no recente webinar The Insightful Leader Live,
"O fato de as empresas serem de propriedade de uma família não significa que todas as empresas familiares são iguais".
Significa que os prováveis funcionários devem "fazer a lição de casa" antes de ingressar em uma empresa familiar. O que exatamente devem procurar? Pendergast explica.
Procure saber se há um conselho de administração que inclua diretores independentes, o que sinaliza que os membros da família em posições de liderança estão dispostos a se envolverem e aprender com especialistas independentes e objetivos. Além disso, este fato também ajuda a garantir que as discussões na sala de reuniões não se transformem em dramas familiares.
Na verdade, algumas das empresas familiares mais bem governadas criaram estruturas deliberadamente para evitar que os conflitos familiares interfiram no funcionamento do conselho de administração.
“Muitas vezes, as famílias terão uma estrutura separada que chamam de ‘conselho familiar’ ou ‘assembleia familiar’ onde a família se reúne para falar de negócios; falar sobre o que é importante para eles. Para poder abordar questões ou desafios", diz Pendergast. "Assim, com sorte, qualquer discordância na família fica distinta do negócio como um todo".
Outra marca registrada de uma empresa familiar bem administrada é a política de emprego familiar que garante que os membros da família sejam qualificados para executar o trabalho.
Os membros da família devem se submeter a requisitos semelhantes aos dos demais funcionários para entrar no negócio, por exemplo. Deve também haver planos de desenvolvimento profissional para garantir que a próxima geração de membros da família esteja pronta para assumir funções de liderança.
“Entenda se as pessoas estão qualificadas para exercer suas funções na empresa”, diz Pendergast.
Também é importante determinar como os funcionários não membros da família estão se saindo na empresa. Veja o organograma e decida por si mesmo: A empresa tem êxito em recrutar não membros da família? Esses não membros tendem a permanecer na empresa? São promovidos a cargos elevados?
Pendergast também aconselha ser importante esclarecer o tipo de esquema de incentivo existente para garantir que os não membros da família se beneficiem quando a empresa se sair bem.
"Muitas vezes, as famílias hesitam em fornecer remuneração por ações ou semelhante aos funcionários", diz Pendergast. "Têm um esquema de remuneração de incentivo onde o funcionário ganhe alguma vantagem pelo desempenho alcançado?"
Por fim, tente obter uma noção do tipo de funcionário que prospera neste ambiente corporativo específico.
Claro que este conselho serve até mesmo para qualquer empresa. Entretanto, as empresas familiares, especificamente, têm uma reputação de tomada de decisão baseada em torno do consenso e não da velocidade. Além disso, pode haver grades de proteção rígidas que restrinjam quais as decisões que provavelmente serão tomadas: “vacas sagradas” que não podem ser tocadas, divisões que não serão vendidas ou um limite de dívida, não importa o tipo do negócio. Portanto, se preferir um ambiente rápido, de alto risco e de alta recompensa, talvez valha a pena pensar duas vezes antes de ingressar em uma empresa familiar com uma cultura mais lenta e conservadora.
Por outro lado, as empresas familiares também têm a reputação de serem mais leais a funcionários de longa data, bem como mais comprometidas com as comunidades onde operam. Também são frequentemente dedicadas a manter seu próprio legado de longo prazo. “Assim, se estiverem trabalhando juntos no desenvolvimento de produtos, por exemplo, vão se importar com a qualidade”, diz Pendergast.
Pendergast reconhece que pode ser difícil descobrir todas essas informações do lado de fora e, por isso, oferece algumas sugestões. Por exemplo, antes de aceitar um emprego, aproveite as oportunidades para conversar com funcionários que não sejam membros da família e fazer perguntas sobre suas experiências com a empresa.
Também aconselha a investigar levemente algumas questões de governança e cultura durante o processo da entrevista. A maioria das empresas familiares publica seu histórico no site: use essa página como ponto de partida.
Os entrevistadores provavelmente serão receptivos a perguntas se você puder abordá-las do ponto de vista de: "Realmente aprecio e valorizo o fato de que essa é uma empresa familiar, que sua família está comprometida há tanto tempo e que tem essa história e legado", diz Pendergast. "Gostaria de entender mais como isso afeta o dia a dia dos negócios".