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Petrobras só teria prejuízo com petróleo abaixo de US$ 35

Analistas apostam que governo vai segurar por quase um ano a redução do preços da gasolina e do diesesl

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Da Redação

Publicado em 18 de novembro de 2008 às 07h20.

Nesta segunda-feira (17/11), o petróleo fechou em seu menor patamar desde janeiro de 2007, pressionado pelas notícias de que o Japão entrou em recessão e de que a CNPC, maior petrolífera da China, registrou queda na demanda no terceiro trimestre. O barril para entrega em dezembro fechou o dia cotado a 54,95 dólares na Bolsa de Nova York. Isso significa um recuo de 63% sobre o recorde de 147,27 dólares atingido em meados de julho. Alguns analistas já arriscam dizer que, diante da freada da economia mundial, o barril poderia descer ainda mais. Mas até que ponto a Petrobras, que tem planos ambiciosos de investimentos para os próximos anos e precisa tocar também seu dia-a-dia, pode resistir ao petróleo barato? Os investidores, por exemplo, não gostaram de ver os custos de produção da estatal subirem no terceiro trimestre a ponto de comprometer o resultado operacional e suas margens.

Para os analistas, o limite para que a Petrobras continue operando no azul é de 35 dólares por barril. "Até esse valor, a empresa conseguiria cobrir todos os custos e ainda dar lucro", afirma Lucas Brendler, analista de investimentos da Geração Futuro. Luiz Otávio Broad, analista da corretora Ágora, concorda. "Esse é o parâmetro". Segundo os especialistas, a própria Petrobras não aprova nenhum projeto que seja inviável com uma cotação de petróleo de 35 dólares. "É o que a empresa chama de preço de robustez", afirma Broad.

Isso significa que o petróleo ainda precisaria cair mais 36% para colocar a diretoria da estatal e os investidores em alerta. Os especialistas, contudo, acreditam que são remotas as chances de um tombo destes ocorrer. Primeiro, porque a Opep, cartel que reúne os principais países produtores, cortaria a produção para equilibrá-la com a demanda caso os preços continuem em queda acentuada. Depois, porque o aumento dos custos de produção tende a impor limites para a queda. "Acredito que o petróleo já está perto de sua mínima", afirma Felipe Asenjo Wilkins, chefe da área de pesquisas da chilena FIT, uma gestora de ativos.

No terceiro trimestre, a Petrobras viveu uma situação bastante confortável. Embora em queda, o preço médio de venda do barril praticado pela estatal foi de 100,58 dólares, no Brasil, e de 68,74 dólares no exterior. Ao mesmo tempo, o custo de produção ficou em 30,27 dólares por barril, no mercado interno, e de 5,16 dólares no exterior. No acumulado do ano, o custo médio de extração está em 28,77 dólares, para um preço médio de vendas de 97,51 dólares. "Não vejo nada no médio prazo que possa trazer prejuízos à Petrobras", diz Mônica Araújo, estrategista-chefe da corretora Ativa.

Investimentos

O principal dilema da Petrobras, segundo os analistas, não é conciliar os atuais custos de produção e de vendas do petróleo. O problema é o fluxo de investimentos. Recentemente, a estatal adiou a divulgação de seu plano de investimentos para os próximos anos. Os especialistas interpretaram a decisão como um sinal de que a empresa está reavaliando sua estratégia, diante da queda dos preços e do aumento dos custos.

Assim, o dilema da Petrobras é manter um forte programa de investimentos, o que poderia indicar alguma concessão a pressões políticas, ou se adequar a um fluxo mais modesto, porém mais condizente com uma eventual queda da geração de caixa. O ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu 14% do segundo para o terceiro trimestre, somando 15,6 bilhões de reais. O recuo refletiu o aumento de custos e foi um dos grandes responsáveis pela surra dos papéis da Petrobras, na Bovespa, no dia seguinte à divulgação de seu balanço. "É preciso saber se ela vai priorizar projetos menores, ou se vai prevalecer uma postura mais política de anunciar grandes investimentos", afirma Andres Kikuchi, analista da corretora Link.

Gasolina barata

As projeções também já começam a incorporar uma redução no preço dos derivados de petróleo no início do segundo semestre de 2009. "Os preços da gasolina e do diesel podem cair de 10% a 15% nas refinarias", avalia Broad, da Ágora.

O corte seria motivado pela diferença entre o preço médio dos combustíveis, no mercado internacional, e os praticados no Brasil. Durante a escalada do petróleo, a Petrobras demorou para elevar o preço dos derivados, porque esperou que a situação alcançasse um mínimo de estabilidade para determinar o tamanho do reajuste. Agora, os analistas esperam o mesmo comportamento neste momento de queda. Assim, o corte viria apenas a partir de julho do próximo ano. Estima-se que a gasolina esteja 55% mais cara que a comercializada no Golfo do México.

Dado o impacto dos combustíveis sobre a inflação, a relutância da Petrobras em mexer nos preços também tem um componente político. "O governo brasileiro sempre usa a Petrobras em suas estratégias para conter a inflação", afirma Wilkins, da chilena FIT. Ele lembra, ainda, que, embora a estatal possa perder dinheiro com a queda da cotação do petróleo, por outro lado isso é atenuado pela disparada do dólar. "Há dois efeitos atuando em direções opostas. Por isso, acho que a Petrobras não será tão afetada pela queda do petróleo", diz.

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