Carreira

Petrobras corta funções gratificadas e economiza R$ 300 milhões

A petroleira, que é a maior empresa brasileira, também encerra 2020 com um programa de mentoria para a liderança feminina

Petrobras: ações da estatal registravam queda de cerca de 20% (Dado Galdieri/Bloomberg)

Petrobras: ações da estatal registravam queda de cerca de 20% (Dado Galdieri/Bloomberg)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 15h56.

Última atualização em 23 de dezembro de 2020 às 16h23.

O gigante Petrobras encerra o ano de 2020 um pouco mais leve e diferente do que era 12 meses atrás. Neste ano, a companhia pôs em prática duas frentes para a redução do custo fixo com a folha de pagamentos dos funcionários: o plano de demissão voluntária e o corte de funções gratificadas. Esse corte garantirá uma economia de 306 milhões de reais por ano.

Em 2020, o programa reduziu de 8.600 para 7.100 o número de pessoas que tinham bônus salarial por ocupar funções de gerência. No caso do programa de demissão voluntária, a expectativa é chegar a 2021 com 11.000 desligamentos. Em 2020, os desligamentos já foram de 5.000 funcionários.

A Petrobras está focada na redução de custos fixos desde o início da gestão do atual presidente Roberto Castello Branco, em 2019. A atual diretoria entende que, independentemente do valor do barril do petróleo, que chegou a mínimas recordes durante o pior período da pandemia, é necessário conseguir gerar retorno para os acionistas. 

A economia de cerca de 300 milhões de reais aconteceu devido ao corte das funções gratificadas, mas também a uma redução de seu valor. De acordo com o gerente executivo de recursos humanos da companhia, Claudio Costa, quem recebe hoje a função gratificada recebe por mérito, um dos novos valores da empresa.

“A Petrobras está se reinventando de maneira bastante importante, no seu plano de negócios, na sua forma de gestão. O presidente Castello Branco apresentou cinco pilares: maximizar sobre o retorno do capital integrado, redução do custo do capital, busca por custos baixos, meritocracia e segurança e respeito às pessoas. Isso norteia tudo o que fazemos nas nossas tomadas de decisão”, diz.

Com a pandemia, a necessidade de avançar com a redução do custo fixo da empresa cresceu. A revisão do modelo organizacional deve ser constante daqui para a frente. Para Cláudio Costa, “sempre dá para cortar de algum lugar”. 

“A função gratificada, se você não gerenciar com mão de ferro, multiplica, igual àqueles monstros do filme Gremlins. A criação da função, como envolve custo, é sempre uma decisão da diretoria. No futuro, outra diretora pode seguir outro caminho, mas com a atual temos uma busca incessante por redução de custos e mais eficiência. Como uma empresa de commodity, em que não controlamos o valor do produto nem a variação cambial, temos de ter um custo fixo baixo”

Cláudio Costa, gerente executivo de recursos humanos da Petrobras

A função gratificada funciona como uma espécie de promoção a um profissional, que mantém seu salário referente à sua profissão e ganha novas responsabilidades, que podem ser de gerência de pessoas, de especialista em uma área técnica ou de supervisão. E isso inclui a bonificação salarial. Com o corte das 1.450 funções, os funcionários voltaram ao cargo anterior e a receber o salário de antes. 

Sem consultoria externa

O processo de cortes foi feito todo internamente, cada gerência apontando onde seria possível fazê-los. Havia apenas a meta de 300 milhões de reais de economia. O resultado também foi possível porque muitos funcionários que recebiam as gratificações decidiram entrar em planos de estímulo à aposentadoria. Para Lilian Lilian Rossetto, gerente geral de gestão da mudança e integracão de recursos humanos, esse é um diferencial no mapeamento que a empresa fez.

“No corte linear, quem tinha uma gordura poderia ficar bem, mas quem já tinha feito o dever de casa, contando com poucos cargos, acabava sendo prejudicado.”

Os cortes na empresa só foram possíveis porque algumas funções gratificadas se sobrepunham às outras. Então, foram reduzidos os números de “interfaces” com um mesmo líder assumindo equipes que trabalhavam separadas. 

De acordo com Cláudio Costa, o principal efeito do corte de funções e da redução de seus valores, que diminuíram de 10% a 15%, é o estímulo a uma renovação da liderança.

“Estamos vendo emergir novos líderes na empresa de uma maneira muito forte, com uma performance muito boa.”

Essa redução dos valores só é possível com um novo contrato individual assinado entre o funcionário que assume ou foi reconduzido e a empresa, algo que só é possível devido à reforma trabalhista de 2017. De acordo com a empresa, a curva com os valores das remunerações das funções gratificadas estava muito acima da do mercado.

Em vez de uma progressão na carreira que envolve a função gratificada e requer aumento do custo fixo da folha de pagamentos, a empresa agora estimula a remuneração variável, com bônus pontuais atrelados ao atingimento de metas. 

“Desde 2019 implementamos a remuneração variável. Quando o empregador é estimulado da melhor forma, ele supera. Você tem de ter os incentivos corretos: salário-base mais algo variável é essencial para ter o estímulo para a obtenção dos resultados.” 

O valor do barril de petróleo com preço baixo e os impactos nas petroleiras em todo mundo inclusive ajudaram na hora de comunicar aos funcionários a decisão do corte das funções gratificadas. Com a empresa “em risco”, ficou mais fácil falar da relevância do corte de 300 milhões de reais. 

Para evitar uma impressão ruim, a empresa contou com a transparência dos líderes para comunicar o que aconteceria, em cascata, além dos meios tradicionais de comunicação institucional. O treinamento da liderença com módulos sobre como agir em interações e conversas difíceis também está entre as ações.

Igualdade de gênero

A empresa também encerra 2020 com o objetivo de aumentar a igualdade de gênero dentro das funções de liderança. O programa de mentoria tem o objetivo de apoiar o desenvolvimento da liderança feminina.

Atualmente, as mulheres representam 17% do efetivo da companhia. Do total de líderes, em todas as posições hierárquicas, as mulheres somam 15%. Entre os diretores, mulheres ocupam duas das oito cadeiras, ou seja, 25% do total. No conselho de administração, porém, há apenas uma mulher.

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