Carreira

Pesquisas mostram abismo no mercado de trabalho para profissionais negros

Os profissionais com ensino superior não estão subindo de cargo dentro das empresas, ficando fora de cargos de média e alta gestão

 (Luis Alvarez/Getty Images)

(Luis Alvarez/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 17 de setembro de 2020 às 07h30.

Profissionais negros possuem menos presença em cargos de suporte, média e alta gestão, segundo levantamento do site Vagas.com usando sua base de usuários que usaram a nova ferramenta de autodeclaração racial.

São mais de 200 mil pessoas nessa base e mais da metade declarou ser parda ou preta. Ao responder sobre o cargo que ocupavam, 47,6% dos negros trabalham no nível operacional ou de auxiliar. Os diretores são apenas 0,7%.

Por si só, o dado já mostra a baixa representatividade de profissionais negros dentro das empresas. Mas os dados de escolaridade da mesma base revelam um problema maior: 47,8% desses profissionais possuem formação superior.

“Os números são surpreendentes. Embora você tenha uma grande parcela de pessoas negras com formação superior, há uma discrepância nos cargos que ocupam”, fala Patrícia Beltran, integrante do comitê de Diversidade da VAGAS.com.

Para ela, a pesquisa revela um racismo estrutural velado dentro das empresas. Existem profissionais qualificados, mas eles não estão evoluindo carreira na mesma proporção que os trabalhadores brancos.

Em outra pesquisa de junho, da Locomotiva com a Central Única de Favelas, 46% dos brasileiros disseram que existe pouca ou nenhuma diversidade de cor na empresa em que trabalham. E 66% falaram que têm chefes brancos.

E 76% dos brasileiros negros dizem conhecer alguém que já tenha sofrido preconceito, discriminação ou alguma humilhação no trabalho por causa de sua cor ou raça.

Com a ferramenta de declaração racial, o Vagas.com quer aumentar seu conhecimento sobre as desigualdades do mercado e poder pensar em soluções para o problema.

“Temos levantado a questão internamente e com clientes, mostrando que precisamos de ações para diminuir a desigualdade e também para preparar o ambiente de trabalho para incluir esses profissionais”, fala Beltran.

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Salários

Um estudo do Insper também mostra a grande disparidade de remuneração entre raça e gênero no mercado. O salário médio de um homem branco supera em até 159% o de uma mulher negra.

Entre os profissionais com ensino superior em instituição pública, um homem branco ganha em média R$ 7.892. Enquanto isso, uma mulher negra, nas mesmas condições, ganha uma média de R$ 3.047.

Entre os graduados em instituições privadas de ensino, a mesma disparidade se repete: os homens brancos ganham uma média de R$ 6.627 e as profissionais negras, R$ 2.903.

A desigualdade, como constataram os pesquisadores, se replica em todos os cenários e carreiras analisados.

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