Basaglia: "Menos de 1% dos módulos de graduação, pós, MBA e mestrado focam em soft skills. Existe um elefante na sala e ninguém falando dele" (Page Group/Divulgação)
Luísa Granato
Publicado em 3 de maio de 2022 às 10h51.
Aprender com os próprios erros é um pré-requisito para o mercado de trabalho. Mas será que todos precisam cometer sempre os mesmos erros na carreira?
Essa é a reflexão que levou o especialista em carreira e um dos principais recrutadores do Brasil, Ricardo Basaglia, CEO do PageGroup Brasil, a escrever o livro "Lugar de Potência: Lições de carreira e liderança de mais de 10 mil entrevistas, cafés e reuniões".
Como diz o título da obra, o executivo compilou as principais dicas que juntou ao longo de mais de 15 anos como headhunter e mais de 10 mil entrevistas de emprego, cafés e reuniões que fez.
Em entrevista exclusiva para a EXAME, ele conta que o livro veio de uma reflexão ao comparar os temas de carreira com a evolução da matemática.
“Na matemática, o conteúdo tem uma evolução de milênios. E alguém sempre chega e desenvolve um pouco mais para a próxima geração chegar e avançar para o outro patamar. A sensação quando falamos de carreira e liderança é que todo mundo está sempre começando do zero. E todo mundo começa errando”, diz.
Assim, com o conhecimento de ano como recrutador e executivo, Basaglia queria compilar em seu livro os conhecimento básicos sobre carreira e liderança. Assim, as pessoas podem pular os erros elementares e avançar mais rápido.
“Menos de 1% dos módulos de graduação, pós, MBA e mestrado focam em soft skills. Existe um elefante na sala e ninguém falando dele. E eu vejo que existem caminhos mapeados para as pessoas aprenderem e que agora possam errar em coisas novas”, afirma.
Assim, o livro é dividido em quatro partes essenciais para a carreira: autoconhecimento, como crescer na empresa, como procurar um novo emprego e liderança.
Ainda em período de pré-lançamento, quem comprar o livro até o dia 8 de maio pelo site do Submarino também poderá participar de uma masterclass e mentoria coletiva com o especialista.
Para a EXAME, o executivo conta como se destacar ao fazer conexões, as perguntas que você precisa saber responder na entrevista de emprego e como traçar metas de carreira.
O que vejo que faz diferença é a pessoa que se conhece, sabe seu posicionamento e lugar de potência. Esse lugar de potência é aquele em que se cruza o melhor que pode entregar para o mundo com o que o mundo tem necessidade de consumir. Dificilmente a pessoa vai ter sucesso ou ser feliz fora do seu lugar de potência.
Claro, em anos com olhar treinado para os pontos que fazem a diferença, o que eu procuro também é entender como a pessoa se conecta. Quanto mais você cresce, menos decisões e ideias vão vir isoladamente. Você precisa se conectar com o ambiente e aprender rápido.
Em resumo, o que eu noto são os “4As”. É o autoconhecimento, atitude, adaptabilidade e saber lidar com ambiguidade. São os quatro elementos do sucesso.
Falo muito no início do livro que antigamente o plano de carreira era como aquele GPS antigo, com uma rota só. Agora é igual o Waze, você vira uma esquina e ele fica recalculando a toda hora. É mais dinâmico. E vamos ter que lidar sempre com esse aspecto, pois as mudanças de carreira serão sempre mais comuns.
Vou dar a resposta, mas quero trazer um ponto antes. Queria primeiro fazer uma analogia com um vendedor. A gente não gosta muito do vendedor que chega oferecendo vários produtos sem nem perguntar o que você quer. E existe o vendedor que oferece o que a gente precisa. E esse a gente adora.
Nas entrevistas, quando a pessoa não tem o trabalho de autoconhecimento, ele é o primeiro vendedor, aquele que fala do portfólio inteiro. Ele acaba terceirizando a responsabilidade de identificar o que é importante para a vaga.
A lição de casa é estudar seu currículo e mostrar o que tem que é capaz de ajudar a empresa. Isso para mim é o grande diferencial: saber como consegue contribuir e onde estão seus diferenciais.
Agora, as perguntas que não deixo de fazer. Primeiro: quando as pessoas não gostam de você, normalmente qual o motivo? Isso diz muito sobre como você se percebe no ambiente.
Duas formas muito erradas de responder são: quando a pessoa diz que quando não gostam dela, ninguém fala. E pior ainda, quando respondem que todo mundo gosta dela. Nem Jesus agradou a todos, é realmente conhecer o primeiro que agradou. Enfim, é essencial ter essa percepção do ambiente.
Segunda pergunta: quais os fatores da sua história que fazem você ser quem é hoje? E a terceira: o que tem mais orgulho do que está no seu currículo?
São três perguntas que mostram muito, ajudam a ver o brilho no olho e, mais importante, são perguntas que, sem uma boa dose de reflexão, não vai ser na hora que a pessoa vai saber responder.
Muitos enxergam a liderança como um próximo passo e isso pode envolver vaidade, a exposição, ganhar melhor... é obvio que são questões que aparecem. Mas a liderança começa pela reflexão sobre a responsabilidade. Sobre o peso de ser líder. Quanto mais você cresce, mais o trabalho se torna sobre as pessoas e menos sobre você. Seu resultado é ligado ao crescimento do time. Você precisa se doar para esse time e se responsabilizar por ele. São aspectos que bato muito no livro.
Antes de fazer as metas, faça um inventário da sua carreira. Considere as experiências e habilidades, as conexões e pessoas que te endossam e conhecem sua reputação. Tudo isso vai ter valor para seguir na sua carreira ou fazer uma transição.
O segundo ponto é manter uma conexão constante com o mercado para mapear não apenas as tendências, mas saber como está o ambiente das empresas. Nas empresas que tem buscado, o que te incomoda é muito diferente de outras empresas? Às vezes, o que te incomoda mais no emprego atual é um pouco pior em outras companhias.
Agora, um plano de carreira, para funcionar, precisa ter dois elementos: onde estou e onde quero ir. Sem esses dois, não tem mapa que resolva. E você combina isso com o que sabe sobre onde o mundo está indo e o inventário do que você já tem. Assim você descobre o que precisa desenvolver para chegar na meta.
Acredito que seria a gente perceber que mais do que a nossa intenção, a forma como somos percebidos dentro do time é importante. E pode ser tanto ou mais importante do que a intenção. Só a intenção não resolve.
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