Rafael Silva (Baby), atleta olímpico do judô: “Cada um faz um caminho, mas a base de tudo é ter muita disciplina e resiliência. É uma entrega total todos os dias” (Rafael Silva / Instagram/Divulgação)
Repórter
Publicado em 1 de agosto de 2024 às 08h00.
Última atualização em 1 de agosto de 2024 às 13h06.
A história do judoca Rafael Silva, conhecido por “Baby” começou no Sul do país. Nascido em Campo Grande, com dois anos se mudou para a cidade de Rolândia, no Paraná.
Entrou no esporte por influência do avô, que inicialmente o colocou no karatê quando criança. “Fiz karatê até os 12 anos, quando meu professor se mudou para outro país. No mesmo local começaram aulas de judô, e aos 15 anos comecei a praticar judô”. Baby se adaptou mais rápido no judô do que ao karatê, e seguiu competindo no Paraná. Depois, aos 18 anos foi para São Paulo, local onde a sua carreira profissional começou.
“Tive a sorte de encontrar pessoas muito boas por esse caminho, como esse o professor que me convidou para vir para São Paulo para o Projeto Futuro, e o meu treinador no Paraná que viu que era melhor para a minha carreira mudar de estado”, diz Baby.
O Projeto Futuro é uma iniciativa promovida pelo governo do estado de São Paulo que visa apoiar jovens atletas no desenvolvimento de suas carreiras esportivas. Baby ficou no programa por 6 anos e em 2008 recebeu patrocínio do Clube Pinheiros.
Começou a estudar com bolsa de atleta Educação Física na Universidade Ibirapuera, e mais tarde concluiu Gestão Pública na FGV.
“No Brasil tem competições universitárias e por isso existem essas bolsas para atletas de diferentes esportes”, afirma o judoca.
Com 37 anos, Baby conquistou alguns patrocinadores e apoiadores, como o Clube Pinheiros, Ajinomoto do Brasil, Sétima Investimentos, Isomedical e Recoma e busca o pódio nas Olimpíadas de Paris.
“Após duas medalhas no Pan de Santiago e o bronze no Mundial, quero fechar a minha participação nas Olimpíadas com chave de ouro”, diz Baby.
O veterano no judô conta à Exame como conseguiu chegar em sua 4ª Olimpíada, após passar por Londres (2012), Rio (2016) e Tóquio (2020), e as suas expectativas depois de Paris.
Você participa pela 4ª vez dos Jogos Olímpicos, qual mais te marcou?
Lutar na Olimpíada do Rio foi especial por estar em casa, com a família e amigos por perto. E Tóquio foi significativo por ser a terra do judô, e espero encerrar com chave de ouro em Paris.
Tem algo que você aprendeu nas Olimpíadas anteriores que levará para esta última?
Aprendi muito sobre equilíbrio. A Olimpíada de Tóquio foi desgastante por causa da pandemia e o ciclo olímpico estendido a 5 anos. Pensando nesse ciclo, busquei mais equilíbrio entre treinos e descanso e tenho ainda hoje o desafio de ser um atleta de alto desempenho, mas se uma forma saudável.
Qual foi o maior desafio da sua carreira?
Tive uma lesão séria no peitoral um ano antes da Olimpíada do Rio. Fiz cirurgia e fiquei fora por sete meses. Depois que eu machuquei eu não aguentava nem levantar o peso no meu próprio braço. Enquanto isso eu assistia o Mundial e me perguntava se eu conseguiria trocar força e golpe com aquele pessoal que já estava disputando o campeonato. Foi um momento de muita dúvida, mas precisei voltar e criar confiança novamente. Perdi as classificações da primeira rodada, mas consegui depois me classificar para os jogos.
Qual é a receita para chegar a uma Olimpíada?
Cada um faz um caminho, mas a base de tudo é ter muita disciplina e resiliência. É uma entrega total todos os dias. É importante treinar habilidades emocionais e ter um compromisso de evolução.
Você se inspira em algum atleta?
Ayrton Senna é uma grande inspiração. No judô, tive como referência Thiago Camilo e Leandro Guilheiro, que treinavam comigo no Pinheiros.
De onde vem o apelido 'Baby'?
Vem do personagem Baby da Família Dinossauro. Quando cheguei em São Paulo, o pessoal achou que eu parecia com ele e o apelido pegou.
O que pretende fazer pós-Paris?
Competir é maravilhoso, mas demanda uma carga de treino muito grande. Já estou com 37 anos e sinto que chegou a hora de focar em outros projetos. Talvez participe de algumas competições nacionais, mas Paris será minha última Olimpíada.
O que pretende fazer após encerrar a carreira como atleta?
Quero continuar envolvido com o esporte, talvez em uma função no clube ou desenvolvendo políticas públicas para fomentar o acesso ao esporte. Gosto da ideia de usar o esporte para promover transformação social.
Uma mensagem para atletas que estão começando agora ou sonham com a Olimpíada?
Acreditem em si mesmos e entendam que ninguém chega lá sozinho. É importante se desenvolver constantemente e valorizar as pessoas ao seu redor.
Ao longo de 23 edições de Jogos Olímpicos de Verão, o Brasil conquistou um total de 150 medalhas, sendo 37 de ouro, 42 de prata e 71 de bronze. Com 24 medalhas, o judô e o vôlei (11 na quadra e 13 praia) são os esportes em que o Brasil mais conquistou medalhas. Os judocas brasileiros subiram ao pódio em todas as edições desde 1984.
Neste ano, o judô já trouxe resultado. Larissa Pimenta, na categoria 52kg, já conquistou a medalha de bronze e Willian Lima a medalhe de prata na categoria até 66kg.
Rafael Silva (Baby) lutará nesta sexta-feira, 2, contra Ushangi Kokauri, do Azerbaijão, na categoria +100 kg masculino.