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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.

Depois de mais de 20 anos tratando profissionais estressados, o psicólogo Esdras Vasconcellos já sabe muito bem como o comportamento de seus pacientes tem influência na saúde. "Basicamente, eles se relacionam com o trabalho de três maneiras diferentes", diz Vasconcellos, que estuda as implicações do estresse sobre o sistema nervoso e imunológico. O primeiro perfil é o sonho de consumo de todo mundo e não exige os cuidados de Vasconcellos: pessoas que trabalham muito e que estão sempre de bem com a vida. Elas sentem um enorme prazer no que fazem dentro e fora do escritório. "O bom humor estimula o organismo a produzir substâncias que ajudam a reduzir a tensão", diz Vasconcellos.

O outro tipo de profissional descrito por ele é um velho conhecido do mundo corporativo: o workaholic, indivíduo que vive apenas para o trabalho e só sente prazer enquanto está no escritório. Ele é agressivo no trato com os colegas, obcecado pelo sucesso e um eterno insatisfeito. "Essas pessoas competem até mesmo quando estão de folga", explica Vasconcellos, que é diretor do Instituto Paulista de Stress e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Aliás, para os workaholics diversão não passa de perda de tempo. É praticamente impossível encontrar um deles jogando conversa fora ou com um Harry Potter na mão - a menos que isso tenha alguma utilidade para seu trabalho. O problema é que, se não mudarem suas atitudes, esses viciados em trabalho são sérios candidatos a passar para a terceira categoria de trabalhadores: a dos esgotados. Nesse estágio, a pessoa não sente mais satisfação pessoal ou profissional e, geralmente, está com a saúde comprometida.

O estresse no trabalho contribui com 10% do risco de aparecimento da hipertensão, por exemplo. "Parece pouco, mas não é. A genética responde por 50% do risco e os outros 50% são distribuídos entre causas como idade, obesidade e sedentarismo. O estresse sozinho tem 10% de participação nessa história", diz o cardiologista Emilton Lima Júnior, doutorando da Universidade de Liège, na Bélgica, autor de um trabalho científico a respeito de estresse e hipertensão.

A vida em preto-e-branco
Um sintoma muito comum de quem está esgotado é o que os médicos chamam de anedonia - condição em que sentir prazer parece impossível. E isso pode se aplicar tanto à vida sexual quanto a um prosaico chope com os amigos. A causa desse transtorno é física: o estresse faz aumentar a produção de cortisol, substância secretada pelo organismo que atua na parte do cérebro relacionada às emoções. "A pessoa acaba caindo num círculo vicioso: como não se entusiasma com nada, não procura mais situações que, antes, considerava prazerosas, e assim por diante", explica a psicóloga Marilda Lipp, professora da PUC de Campinas e diretora do Centro Psicológico de Controle do Stress, que fica na mesma cidade. O problema é que esse desânimo geralmente indica que a pessoa já atingiu um estágio avançado de estresse. Agora ela está caminhando a passos largos para ficar com a saúde seriamente comprometida.

Por dentro do assunto
O estresse é uma reação do organismo a qualquer situação que provoque emoções intensas ou exija algum tipo de mudança. "Isso vale tanto para as coisas boas como para as ruins", diz Marilda. Ou seja, tirar férias ou ser assaltado produz num primeiro momento o mesmo efeito no organismo. Assim que o hipotálamo, o centro nervoso cerebral, detecta uma suposta ameaça, aciona as glândulas supra-renais. Elas começam a secretar adrenalina, substância que produz uma série de alterações fisiológicas para deixar o corpo pronto para enfrentar uma dificuldade - essa é a chamada fase de alerta. A adrenalina deixa o raciocínio mais rápido, acelera os batimentos cardíacos para aumentar o fornecimento de sangue, dilata as pupilas, o que ajuda a melhorar a visão; retesa os músculos para deixá-los em ponto de bala; e faz os pulmões trabalharem a todo o vapor. A natureza "pensa" em absolutamente tudo. A palidez típica de quem está nesse estágio, por exemplo, é sinal de que a circulação periférica diminui para
economizar sangue para os músculos e evitar hemorragia em caso de ferimento. Parece radical? E é mesmo, porque o organismo não tem a mínima idéia do que vem pela frente. O alerta é uma reação instintiva a tudo que possa fazer seu corpo sair de um estado de equilíbrio. Pois bem, somente milionésimos de segundos depois que a provável ameaça foi detectada, seu raciocínio volta a funcionar. Caso descubra que não há perigo, manda suspender a produção de adrenalina.

No maior pique
O organismo está preparado para lidar com esses picos de adrenalina. O problema é viver constantemente "adrenalinado". Quando alguém vive sob tensão constante, passa para o segundo estágio do estresse: o da resistência. Isso pode levar meses ou anos para acontecer. Nessa fase, as supra-renais diminuem a produção de adrenalina e passam a secretar cortisol, substância que, em excesso, prejudica o raciocínio e o sistema imunológico. Além da apatia, citada no início desta reportagem, outros sintomas típicos da fase de resistência são cansaço matinal, memória fraca, ansiedade, tensão muscular, bruxismo (ranger dos dentes à noite), alterações menstruais e infecções que voltam mesmo depois de tratadas. Uma pesquisa feita no ano passado por Vasconcellos e as psicólogas Rachel Skarbinik, Édela Nicoletti e Samia Brandão mostrou que mais de 70% dos 1,5 mil executivos paulistanos ouvidos no estudo estavam na fase de resistência. Outros 6% se encontravam em exaustão. Problemas de saúde, como pressão alta, alterações cardíacas, queda acentuada de cabelo, cistos no ovário, miomas uterinos, úlcera e herpes recorrente, começam a aparecer. "Um grande número de pacientes que sofreu infarto teve, nos seis meses anteriores, algum evento marcante em suas vidas, como morte de um parente, divórcio ou perda de emprego", comenta Lima Júnior.

Como sair dessa
Além de tratar as doenças que apareceram por causa do estresse, é preciso mantê-lo sob controle também. Isso pode incluir sessões de psicoterapia, utilização de técnicas de relaxamento, mudança na alimentação e prática regular de exercícios físicos. O objetivo de tudo isso é estimular a liberação de substâncias que ajudem a reverter o quadro.

Monitorar a fábrica de estresse que carregamos dentro de nós faz parte do tratamento e já é meio caminho andado para ter uma vida mais feliz. "Os fatores que geram estresse não vêm apenas de fora, mas de dentro também, por causa de nossas características de personalidade e comportamento", completa Marilda. Não se discute que é muito estressante ter de trabalhar dez, 12 ou mais horas por dia. Mas, como parece que, por enquanto, não nos resta alternativa, que tal mudar o jeito de encarar as coisas? Como diz Vasconcellos, trabalhar tem de ser tão bom que você sempre deve deixar um pouco para o dia seguinte.

NUNCA MAIS OUTRA VEZ
Em 1991, quando a Philips criou no Brasil a Origin, o braço de tecnologia da informação da empresa, a paranaense Cristina Moraes foi convidada a ser gerente de recursos humanos. Na sede, em São Paulo, ficavam o RH e o departamento financeiro responsáveis pelo atendimento de todas as unidades da Origin espalhadas pelo Brasil. "Não era fácil. Começamos com 200 funcionários e, quando eu saí, em 1996, eram 3 mil", lembra. Nos intervalos das inúmeras viagens de trabalho que fazia, Cristina se dividia entre palestras e reuniões. Para dar conta do recado, o batente começava às 9 da manhã e ia até as 10 da noite ou mais. Foram cinco anos assim, até que vieram os primeiros sinais de exaustão e trabalhar deixou de ser um prazer. "Várias vezes larguei meu carro no estacionamento da empresa e fui para casa de táxi porque me sentia exausta até mesmo para dirigir", conta. Quando começou a sentir fortes dores no peito, achou que era hora de parar. Depois de 23 anos de Philips, pediu as contas e abriu uma consultoria de RH (a Origin, aliás, é um de seus clientes). "Errei tentando ser auto-suficiente", comenta.


TRABALHO? SÓ DEPOIS DAS 10 HORAS

Todos os dias, antes de ir trabalhar, o empresário santista Luiz Carlos Franco, de 49 anos, sua a camisa na academia. Mas nem sempre foi assim. Embora tenha sido esportista até os 28 anos, ele relaxou nos cuidados com a saúde. Parou de se exercitar, fumava mais de um maço de cigarros por dia e trabalhava feito louco. Seu corpo não agüentou o tranco: o primeiro infarto veio cedo demais, aos 36 anos. "Na época, achava tudo meio sem sentido e tinha a sensação de que só vivia para fumar e trabalhar" , conta. Mesmo assim, continuou com os maus hábitos de antes. Só depois de sofrer outro infarto, aos 48 anos, e ter de se submeter a uma cirurgia para colocar quatro pontes (três safenas e uma mamária), decidiu mudar: parou de fumar, alterou a dieta e voltou aos exercícios físicos. Também não trabalha além das 8 da noite e não aceita clientes que o obriguem a voltar ao ritmo antigo. "Agora me permito viver, ficar com a família e encontrar os amigos. Sou muito mais feliz assim" , diz

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