Carreira

Benefício mais desejado é participação nos lucros

As estratégias e os cuidados na hora de desenhar um programa de participação nos lucros e resultados - o benefício que todos querem

Funcionários na fábrica da Dudalina, em Blumenau, Santa Catarina: em 2012, a fabricante de camisas pagou aos 2 489 trabalhadores seis salários (Acervo Dudalina)

Funcionários na fábrica da Dudalina, em Blumenau, Santa Catarina: em 2012, a fabricante de camisas pagou aos 2 489 trabalhadores seis salários (Acervo Dudalina)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de janeiro de 2014 às 12h53.

São Paulo - Na Dudalina, empresa do ramo têxtil com sede em Blumenau, Santa Catarina, existem alguns tipos de bonificação em dinheiro, como o prêmio de assiduidade e o de zero falta. “O objetivo é diminuir o turnover e o absenteísmo, além de elevar a produtividade”, diz Ilton Rogério Tarnovski, diretor comercial.

De todos os benefícios, o que mais enche os olhos dos funcionários é a Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). Em 2012, a fabricante de camisas pagou aos 2 489 trabalhadores seis salários. Para este ano, a previsão é que eles recebam entre quatro e cinco (dois deles foram pagos em julho e o restante será depositado em conta em abril de 2014). 

Não são apenas os funcionários da Dudalina que colocam a PLR no topo da lista dos benefícios. Esse dinheiro extra é, segundo uma pesquisa feita pela Michael Page, o benefício mais desejado pelos trabalhadores. Está na frente até do plano de saúde. Entre os diretores, por exemplo, a participação nos lucros chama a atenção de 63,3% dos respondentes.

A pesquisa levou em consideração os questionários de 6 500 executivos de nível gerencial e de diretoria, porém Marcelo de Lucca, diretor da consultoria, entende que outras camadas hierárquicas também se interessam pela bonificação. “Ela deve se popularizar cada vez mais e daqui a alguns anos pode ser vista como mais um bene­fício-padrão, como o próprio plano de saúde”, diz De Lucca.

Popular a PLR ou PPR já está ficando. Entre as 150 melhores empresas para trabalhar, do Guia VOCÊ S/A, cerca de 80% já dividem seu lucro entre os funcionários do nível operacional, gerentes e supervisores. O problema está em como desenhar o melhor programa para que tanto empresa quanto funcionário saiam ganhando.

O desafio da área de RH, dizem os especialistas, é construir um modelo alinhado à estratégia corporativa. “Além de traçar metas relevantes e bem definidas, o RH precisa dar sentido à relação produtivida­de-dinheiro”, afirma o advogado Alessandro Rangel Veríssimo dos Santos, especialista em direito do trabalho e sócio do escritório Rodrigues Jr. Advogados.

Na base da negociação

Instituída pela primeira vez em 1917, na Constituição mexicana, a Participação nos Lucros ou Resultados tornou-se obrigatória no Brasil em 1946.

Vinte e um anos depois, explica o advogado trabalhista Marcelo Mascaro Nascimento, autor de Participação dos Empregados nos Lucros e Resultados da Empresa (Editora Saraiva), a obrigatoriedade foi subtraída do texto da Constituição Federal brasileira. Hoje, o benefício tem caráter de negociação, mas, caso seja solicitado, não poderá ser negado pelo empregador.

Essa negociação pode ocorrer em dois formatos — comissão paritária ou acordo coletivo. “No primeiro, o acordo envolve um comitê de empregados, a empresa e um membro indicado pelo sindicato”, diz Alessandro dos Santos. “O segundo é um documento que tem como partes, obrigatoriamente, a empresa e o sindicato.” 

Em ambos os casos, a comissão da PLR deve ter um número equivalente entre os representantes da empresa e os dos empregados, além de um membro do sindicato (veja outras questões legais no quadro Para Não Errar).

A montadora sueca Volvo é um exemplo de empresa que entende bem de negociação. Dona de um programa de participação nos lucros de causar inveja — neste ano, cada funcionário deve levar 30 000 reais —, a companhia sempre contou com representantes dos dois lados.

Hoje, ela tem três pessoas representando a companhia, e outras três, os funcionários, além dos representantes de setor, que são responsáveis por comunicar o Plano de Participação nos Lucros a todo o time em uma assembleia. As metas e os valores da parcela de adiantamento e da PLR total só são divulgados, porém, depois do aval do sindicato.


Na Embraco, os representantes participam da fase final da negociação, mas a influência é menor. “Estudamos as metas e chamamos o comitê de funcionários para contribuir. Depois, o sindicato dá sua opinião”, diz Daniele Fonseca, diretora de RH.

O principal mesmo para a fabricante de compressores é o esclarecimento das regras do jogo. “Temos bem claro quais são os diferenciais importantes na PPR: simplicidade, clareza e comunicação eficiente.”

A melhor fórmula

A negociação é um fator fundamental para que o programa seja transparente e justo — e vale para todas as empresas. O cálculo a ser aplicado, no entanto, varia de companhia para companhia e depende da estratégia de cada negócio.

No caso da Volvo, os 30 000 reais que cada um vai receber em 2013 representam o máximo que os trabalhadores podem ganhar — a quantia final depende do desempenho deles.

“Todos têm objetivos com o mesmo norte, contudo o bônus está atrelado ao alcance de resultados”, afirma Carlos Morassutti, vice-presi­dente de RH e assuntos corporativos. Tais objetivos são divididos em três partes, cada uma delas com um peso. Em 2013, o maior percentual vem das metas de área (70%), seguido das metas gerais da empresa (20%) e das individuais (10%). 

O modelo com altas cifras aparentemente impraticáveis funciona desde 2000 e foi apresentado como case à matriz — responsável por aprovar o programa anual de PLR da unidade brasileira. “É uma ferramenta excelente, mas, se a empresa não souber usá-la, pode se tornar inviável financeiramente”, afirma Morassutti.

A Dudalina optou por uma fórmula mais simples: o valor máximo a ser distribuído é 12% do lucro líquido, dividido em 70% de adiantamento e 30% referentes às metas estabelecidas. Na Embraco, as metas são estipuladas por área e pelo desempenho individual — cada uma com um peso. 

Não importa o sistema, o que a empresa não pode deixar de fazer é explicar aos funcionários como funciona a equação do programa. Do contrário, haverá dúvidas, ruídos e sensação de injustiça.

A Embraco percebeu que seus empregados não entendiam como chegar ao cálculo final da PPR. A companhia passou a disparar comunicados periodicamente sobre a fórmula e até hoje o RH divulga mensalmente como está o alcance de metas e o que precisa melhorar. Os líderes também repassam o conteúdo em reuniões. 

Esse diálogo foi fundamental há cinco anos, quando a companhia já tinha o acordo estabelecido, mas os resultados não vieram. Sem eles, a Embraco não teve como dividir o dinheiro. Na época, o RH explicou por que as metas não foram atingidas e quais medidas poderiam ser adotadas no próximo ano. A consequência? O ano seguinte foi um dos melhores.

“Os funcionários se engajaram movidos pelo sentimento de que, se cada um cumprisse suas metas, as respectivas áreas alcançariam seus objetivos e, consequentemente, a empresa também. É um efeito cascata”, diz a diretora de RH da Embraco.

“A comunicação constante é o sucesso de nossa PPR. Nos momentos de alto desempenho ou de baixo, é ela que vai trazer clareza e organizar o processo.” Fica a dica.

Acompanhe tudo sobre:BenefíciosDudalinaEmbracoEmpresasGestão de pessoasgestao-de-negociosLucroMontadorasRecursos humanos (RH)ResultadoSaláriosVolvo

Mais de Carreira

SXSW e o potencial do Brasil como soft power regenerativo

Decisões sob pressão? Chefes estão usando esta técnica de 30 minutos para fazer escolhas melhores

Se você faz essas quatro coisas, sua inteligência emocional é mais alta do que imagina

Neurocientista criou uma regra de 5 minutos que ajuda a manter o foco mesmo sob pressão