Carreira

Saem os humanos, entram as máquinas e os robôs no trabalho

No Brasil, médicos, agrônomos e educadores estão dando saltos de produtividade ao incorporar novas tecnologias ao ambiente de trabalho

Médicos, no Hospital Albert Einstein, de São Paulo: cirurgia de retirada de próstata com o ajuda do robô Da Vinci (Ricardo Correa / VOCÊ S/A)

Médicos, no Hospital Albert Einstein, de São Paulo: cirurgia de retirada de próstata com o ajuda do robô Da Vinci (Ricardo Correa / VOCÊ S/A)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2013 às 18h13.

São Paulo - O diretor do Centro para negócios Digitais do instituto de Tecnologia de Massachusetts, Erik Brynjolfsson, criou uma polêmica que vem repercutindo desde julho entre os maiores especialistas em tecnologia e trabalho do mundo ao afirmar que, nos Estados Unidos, a tecnologia está eliminando empregos em uma velocidade maior do que os está criando.

Em um de seus estudos, publicado pela edição de julho/agosto da MIT Technology Review, Brynjolfsson relaciona, em um gráfco, a produtividade (quantidade de valor gerado por unidade de horas trabalhadas) com o número de novos empregos originados pela economia americana.

Sua conclusão: desde a Segunda Guerra Mundial até o ano 2000, o ganho de produtividade teve como consequência o crescimento econômico, que demandou mais profissionais. A partir de 2000, a produtividade continuou aumentando ano após ano, mas a velocidade de criação de novos postos de trabalho diminuiu drasticamente.

Brynjolfsson atribui à tecnologia o incremento de produtividade associado à perda de postos de trabalho. As máquinas e os robôs, diz Brynjolfsson, tornaram o trabalho humano efciente a ponto de substituir por completo os profissionais de algumas áreas em serviços financeiros e jurídicos e em atividades na educação e na medicina.

No Brasil, esse debate ainda engatinha no meio acadêmico, e a substituição do profissional por máquinas é uma realidade, principalmente nos bancos. Veja a seguir de que forma a tecnologia afeta o trabalho de profissionais de diferentes áreas.

Medicina

O que muda com o avanço da tecnologia

Na medicina, a robótica é um campo em crescimento, principalmente na área cirúrgica. Nos Estados Unidos, 98% das cirurgias de próstata são feitas com auxílio de robôs. No Brasil, existem apenas dez máquinas desse tipo, concentradas em hospitais particulares de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Porto Alegre.

Como afeta os hospitais

Há robôs recém-adquiridos pelas escolas de medicina da USP e da Unifesp. Por isso, os hospitais precisam treinar os funcionários internamente.


No Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, que possui dois robôs para cirurgias, os médicos interessados em robótica passam por aulas em simuladores, estágio na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, e são monitorados por um profissional sênior até estarem aptos a operar sozinhos. 

Como afeta os profissionais

O computador torna o trabalho do médico mais eficiente. "Uma operação de prostatectomia com robôs dura 3 horas, metade do tempo de uma cirurgia tradicional", diz Paulo Zimmer, gerente médico do Einstein. A área de tecnologia em saúde deve gerar 35.000 empregos no mundo até 2018.

"Estudar no exterior ainda é o melhor jeito de entrar no setor", diz Rafael Coelho, coordenador do centro de cirurgia robótica do Einstein.

Educação

O que muda com o avanço da tecnologia 

As aulas remotas são uma realidade. Alunos de todo o mundo podem se conectar à internet e assistir aos ensinamentos de professores do MIT, de Harvard e de Yale.

Além disso, há uma nova geração de professores: são os Now, robôs que dão aulas, corrigem e atualizam dados dos professores de carne e osso. Existem mil desses no mundo — quatro deles estão no Brasil e um frequenta as aulas de Gil Giardelli na ESPM. 

Como afeta as escolas e as universidades

"Os alunos exigem novas tecnologias, seja no ensino fundamental seja na universidade, e as escolas têm de se preparar para essa demanda", diz Soares. A USP, por exemplo, criou o e-Aulas, portal em que compartilha aulas de professores da universidade.

"São 1.450 aulas online, e o objetivo é que alunos de dentro e de fora da USP estudem em qualquer lugar", diz Gil da Cobra Marques,
coordenador do projeto. 

Como afeta os profissionais

Os professores não foram preparados para desenvolver aulas online ou para dividir a lousa com robôs. Por isso, tanto quanto ensinar eles têm de aprender como fazer essa dinâmica. "Ainda estamos testando as melhores práticas", diz Marques.


Bancos

O que muda com o avanço das tecnologias

Nas últimas duas décadas, os bancos fizeram investimentos maciços em sistemas informatizados para tornar sua operação e o atendimento aos clientes mais eficientes. Hoje, o cliente precisa de cada vez menos contato físico com as agências. 

Como afeta os bancos

"Os maiores investimentos são para pesquisa e desenvolvimento de produtos que permitam que o cliente entre em contato com seu banco em qualquer lugar do mundo", diz Marco Tavares, executivo de operações, tecnologia e serviços do HSBC. O desafio do setor é tornar essas soluções úteis para que os clientes as adotem.

O HSBC cria facilidades, como o token (dispositivo de segurança) pelo celular, em que o cliente não precisa mais de cartão para usar o caixa eletrônico 

Como afeta os profissionais 

Em 2012, houve uma queda de 84% na criação de empregos no setor bancário em relação a 2011. A tecnologia diminuiu a necessidade de profissionais operacionais, como os caixas de banco. Por outro lado, aumentou a necessidade de profissionais de TI, cruciais para implantar as novas tecnologias.

Mesmo o profissional dessa área tem de se renovar. É o que faz Maurício Lombardi, de 45 anos, gerente sênior de TI do HSBC. "É preciso buscar novas informações sempre", diz.


Agropecuária

O que muda com o avanço da tecnologia

"Este é um dos setores que mais sofrem com a entrada de novas tecnologias", diz Álvaro Dilli, diretor de RH da SLC Agrícola. No campo, máquinas para irrigação, colheita e semeadura e satélites de controle atmosférico geram, quando bem empregados, ganho de produtividade.

Como afeta as empresas

As empresas assumem o papel de educadoras tecnológicas, já que engenheiros e agrônomos, por exemplo, saem da universidade sem saber lidar com toda a tecnologia que o setor demanda. "Os profissionais operam máquinas complexas e caras, que custam de 800.000 a 1 milhão de reais", diz Álvaro Dilli, diretor de RH da SLC Agrícola, com sede em Porto Alegre.

A empresa instituiu 30 escolas técnicas agrícolas nas regiões Sul e Centro-Oeste. 

Como afeta os profissionais

A substituição de homens por máquinas já é uma realidade. Uma nova colheitadeira de algodão, por exemplo, pode substituir o trabalho de seis homens. Mas há espaço para quem se mantém atualizado nas novas tecnologias. 

Luciano Bizzi, de 37 anos, engenheiro de mecanização da SLC, se especializou na área porque sentia que teria boas oportunidades. Hoje ele é o responsável pelos treinamentos da empresa. "Quem sabe manejar a tecnologia não será substituído por ela", diz.

Vendas e marketing

O que muda com o avanço da tecnologia

O fácil acesso à internet e às redes sociais transforma o jeito como as pessoas lidam com o consumo. A relação com as marcas é muito mais próxima e as empresas criam estratégias para vender online. "Pesquisas de consumo feitas pelas redes sociais são as mais preciosas para as marcas hoje", diz Mantovani. 

Com afeta as empresas

A internet muda tudo. Até empresas mais tradicionais têm de se reinventar para continuar no mercado. A Avon, por exemplo, conhecida por suas vendas diretas, cria inovações para aproximar clientes e revendedoras. "Fomos os pioneiros nos catálogos de venda online e desenvolvemos aplicativos para que as consumidoras testem nossos produtos", diz Luiz Soares, diretor de inovação e contact center da Avon Brasil.

Como afeta os profissionais

As inovações tecnológicas que chegam ao setor estão abrindo oportunidades para profissionais que não são, necessariamente, formados em  marketing ou publicidade. Na Netshoes, estatísticos ajudam a entender o que querem os consumidores, com base na análise dos dados da internet. "Precisamos de mais gente", diz Renato Mendes, gerente de assuntos corporativos.

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