Marcos Sêmola, gerente de TI da Shell, e Adrianny Siqueira, escrivã da Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro: ela voltou, ele desistiu (André Valentim/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2013 às 06h00.
São Paulo - Discutir em família um convite para trabalhar no exterior nunca foi tarefa fácil. Mesmo com os benefícios pessoais e profissionais, há questões que o casal precisa estudar, como a ocupação do outro cônjuge, a educação dos filhos e a distância do Brasil.
Esse debate cheio de angústia ganhou novos ingredientes nos últimos anos. Um deles é o crescente número de brasileiros expatriados. Além disso, as mulheres têm hoje uma nova condição profissional, que muda os termos da negociação.
Em primeiro lugar, elas deixaram de ser apenas acompanhantes do marido executivo e passaram à condição de agraciadas com a proposta de trabalho no exterior. Em segundo lugar, mesmo nos casos em que o convite é dirigido ao homem, a mulher tem uma carreira estabelecida, e renunciar ao próprio progresso profissional tem um custo maior e merece uma avaliação mais cuidadosa.
“As mulheres hoje constroem carreiras mais sólidas e com maiores perspectivas do que no passado, o que intensifica o debate quando surge o assunto expatriação”, diz Matilde Berna, especialista em gestão de carreira da Right Management, empresa de recolocação de executivos, de São Paulo.
De acordo com Matilde, antes de receber uma proposta de expatriação, o executivo (ou a executiva) precisa pensar com muito cuidado se a experiência no exterior será efetivamente benéfica para a carreira. Feito esse raciocínio inicial, em um segundo momento deve-se envolver a família. E aí começa uma etapa de olhar a perspectiva do cônjuge e ver como transformar a expatriação numa experiência boa para todas as partes.
Getúlio Canto, de 37 anos, superintendente de risco para a área de varejo do banco HSBC, de Curitiba, planejou sua temporada internacional em função da carreira de sua esposa, Ticiana, de 34, psicóloga que fez carreira em consultorias de recursos humanos e hoje é coordenadora de desenvolvimento do grupo educacional Marista, de Curitiba.
Ele sonhava em trabalhar fora, ela aceitava interromper temporariamente a profissão, desde que a pausa fosse um período de desenvolvimento. Uma condição era que o destino teria de ser um país de idioma inglês, que permitisse a ela fazer cursos. “Queríamos que a experiência não fosse boa somente para o meu desenvolvimento, mas que pudesse ser algo valioso para a carreira dela”, diz Getúlio.
Diante de uma proposta de expatriação, a recomendação é que os profissionais negociem com a empresa maneiras de facilitar a transferência. A empresa não pode se envolver no conflito pessoal do funcionário, mas pode facilitar o processo de mudança e de adaptação. A Robert Bosch, fabricante de autopeças de origem alemã, criou um programa de apoio ao funcionário.
A iniciativa oferece ao cônjuge do expatriado pagamento de despesas com estudos, coaching, recolocação e ajuda com o visto de trabalho.
“São questões que passaram a fazer parte do nosso dia a dia”, diz Silvia Jacoby, gerente de transferências internacionais de pessoal da Robert Bosch, em Campinas, interior de São Paulo. A Bosch também tenta contratar o cônjuge expatriado. “Temos histórias de vários casais empregados que já foram beneficiados por essa nova diretriz”, diz Silvia.