São Paulo - Contar uma boa história é uma arte que se aprende e a prática de construir uma narrativa articulada para prender a atenção é também chamada de storytelling.
Utilizado em apresentações, palestras, textos publicitários, o método, queridinho entre profissionais de marketing, pode ajudar na criação de vínculo com a audiência e aumentar as chances de sucesso na comunicação.
Alguns erros, no entanto, são fatais, e podem ser associados aos pecados capitais, segundo a professora Martha Terenzzo. Ela e Fernando Palacios estão lançando o livro "O Guia Completo do Storytelling” (Editora Alta Books). Confira quais são os erros capitais das narrativas:
1. Gula
Sucumbir à gula no storytelling é contar mais do que o necessário e confundir história com histórico. “Em uma apresentação, por exemplo, significa colocar informação demais no slide, contar inteira uma história enorme”, diz a professora. As chances de perder a atenção da plateia são grandes.
Outro perigo para o narrador guloso é engasgar, segundo Martha. “A pessoa vai se perder e se enrolar na narrativa ao tentar comunicar tudo de uma vez”, diz.
Ela recomenda que narrativas tragam as informações mais importantes e de maior apelo dramático. A habilidade exigida é a de sintetizar. “Dou aula e sei que poder de síntese é uma das coisas mais difíceis. E, por outro lado, não pode ser uma síntese tão pragmática a ponto de comprometer a informação que precisa ser transmitida”, diz Martha.
2. Avareza
Avarentos querem que só eles próprios apareçam. “O pecado é inserir elementos na narrativa que mostrem que só a pessoa (ou o patrocinador, a empresa) quer aparecer”, diz a professora.
A mesquinhez fica evidente em narrativas que deixam pouco espaço para o que realmente interessa à audiência de tão recheadas de informações desnecessárias. “Acabam escondendo o jogo na entrelinha e economizando no que é, de fato, importante”, diz Martha.
3. Ira
Impulsividade e irracionalidade explicam a relação do pecado capital com o equívoco narrativo. O erro aqui é apelar para o instinto e deixar de lado o roteiro.
Para ilustrar, a professora conta o caso de um CEO que, se sentindo inspirado naquele determinado dia, rasgou o material preparado para guiar sua apresentação e achou por bem improvisar sua fala.
Sem roteiro, a sua narrativa perdeu o fio da meada e a atenção da plateia foi embora. “As vozes foram aumentando e ele pedia que as pessoas prestassem atenção. Sem sucesso, teve literalmente um rompante de ira e mandou que todos calassem a boca”, lembra a professora.
O que de pior poderia acontecer em uma apresentação do que berrar com a plateia? Nada. Por isso, recomenda Martha, planeje mais e improvise menos. É sempre necessário ter um norte: um bom conceito para desenvolver, personagens instigantes e um fim para a narrativa.
4. Preguiça
Uma boa história nasce depois de muito esforço e um bom toque de inspiração. Nada disso combina com a preguiça. Narradores preguiçosos economizam informação. Apresentadores indolentes delegam a tarefa de criação a outros e não se envolvem no processo.
Esse pecado muitas vezes vem estampado no rosto e no corpo de um apresentador. “Para falar bem, é preciso ajustar o ritmo da voz, pensar tambem na sua linguagem corporal”, indica Martha.
5. Soberba
Arrogância e orgulho comprometem a reputação do narrador/apresentador. Quem age assim, segundo Martha, geralmente, só fala do que quer falar, sem se preocupar com a audiência.
Recentemente a empreendedora Bel Pesce cometeu o pecado da soberba, diz Martha, ao não se preocupar com as péssimas contrapartidas oferecidas pelo projeto de crowdfunding para inaugurar a hamburgueria Zebeléo, em sociedade com Leonardo Young e Zé Soares.
Outros exemplos desse erro em storytelling surgem quando a boa história é preterida pelo marketing ou quando empresas pensam no plano de mídia antes mesmo de ter um conteúdo da narrativa.
6. Vaidade
Investir mais no telling (forma) do que em story (conteúdo) é se render à vaidade. Gastar uma fortuna em "pirotecnia" para uma apresentação sem se preocupar com a qualidade da informação que é transmitida é um erro muito comum, segundo Martha.
“Às vezes por insegurança, o palestrante, apresentador, narrador capricha nos slides de Power Point mas não tem argumentos tão bons”, diz.
7. Luxúria
Apostar em formatos batidos e artificiais de narração, estereótipos e clichês é uma atitude luxuriosa em storytelling, segundo a professora. “É comportamento típico de quem quer aplauso e, para isso, apela para uma fórmula fácil e sem conteúdo narrativo”, diz.
Narrativas que reforçam preconceitos usadas com único objetivo de arrancar gargalhadas são exemplos deste pecado.
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1. Sete erros da maçã
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1/7 (Jared C. Benedict / Wikimedia Commons)
São Paulo — Criadora de muitos dos gadgets mais admirados e desejados no mundo – do pioneiro Apple II a sucessos como iPhone, iPad, iPod – a
Apple também coleciona fracassos. Na lista dos produtos que não tiveram sucesso, há alguns que eram caros demais, outros que usavam tecnologias imaturas e falhas, e outros, ainda, em que Steve Jobs e sua turma sacrificaram demais a funcionalidade para privilegiar o design. Também houve
computadores poderosos da Apple para os quais não havia bons aplicativos. O resultado, em todos esses casos, foi o fracasso comercial. Um exemplo de gadget que usava tecnologias imaturas demais é linha de câmeras QuickTake, que a Apple apresentou em 1994. Parte de uma primeira leva de máquinas digitais para leigos, ela tinha um tosco sensor de 0,3 megapixel e capacidade para apenas 32 fotos. A lente tinha foco fixo, não havia zoom e a máquina só se comunicava com computadores da própria Apple. Fabricantes com mais experiência em
fotografia logo lançaram produtos muito mais atraentes e a QuickTake ficou para trás. Confira, nas próximas páginas, outros seis produtos em que a empresa de Steve Jobs investiu muito mas que não trouxeram o retorno esperado.
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2. Power Mac G4 Cube, o belo
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2/7 (Steve Shaner / Wikimedia Commons)
2000 a 2001 O atraente Power Mac G4 Cube foi uma realização do refinado senso estético de
Steve Jobs. Lançado em 2000, o Cube lembrava o NeXTCube, da empresa que Jobs havia fundado quando esteve fora da Apple. Seu aspecto arrojado, em forma de cubo transparente, colocou em evidência o designer
Jonathan Ive, hoje vice-presidente de desenho industrial da Apple. Um dos exemplares dessa obra de arte faz parte do acervo do Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York, completo com as caixas acústicas transparentes Harman Kardon criadas para ele. Mas poucas pessoas compram um computador para admirar ou usar como objeto de decoração. O Cube era mais limitado que o Power Mac G4, que também fazia parte do catálogo da Apple. Também era 200 dólares mais caro e os usuários ainda tinham de comprar um monitor separado para ele. Além disso, o Cube chegou num momento de veloz evolução no hardware dos computadores e rapidamente ficou obsoleto. Passado o entusiasmo inicial pelo design, os usuários passaram a vê-lo apenas como uma máquina fraca e cara demais. As vendas foram modestas e a Apple descontinuou o produto apenas um ano depois de lançá-lo.
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3. O caro 20th Anniversary Mac
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3/7 (allaboutapple.com / Wikimedia Commons)
1997 - 1998 Para celebrar seu vigésimo aniversário, a Apple lançou, no início de 1997, uma versão comemorativa do Macintosh com design diferenciado. Foi um dos primeiros micros de mesa a trazer uma tela de cristal líquido, além de um receptor de TV interno. Esse computador é considerado por muitos um marco estilístico, mas seu preço inicial de 9 mil dólares assustou até os fãs mais devotados da marca da maçã. O pequeno micro com tela de 12 polegadas não parecia valer o que custava. Nos Estados Unidos, um ótimo PC podia ser comprado por pouco mais de 2 mil dólares. Com mais uns mil dólares, levava-se um excelente monitor. A Apple reduziu o preço do 20th Anniversary Mac já no lançamento e voltou a baixá-lo seguidas vezes. Mas o interesse do público permaneceu fraco. O micro foi lançado em apenas cinco países e calcula-se que menos de 12 mil unidades foram vendidas.
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4. Com o Pippin, a Apple perdeu o jogo
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4/7 (allaboutapple.com / Wikimedia Commons)
1995 a 1997 No início dos anos 90, a Apple decidiu modificar o hardware e o sistema operacional do Macintosh de modo a transformá-lo num console para jogos. O mercado estava em transição dos cartuchos para os jogos em CD. A Apple viu, aí, uma oportunidade para entrar nele. O resultado dessa iniciativa foi o Pippin, que conquistou um lugar de destaque em muitas listas de piores produtos de todos os tempos. Fabricado pela japonesa Bandai com tecnologia da Apple, o Pippin tinha hardware de computador e, por isso, custava mais que os outros consoles. A Apple tentou vendê-lo como um PC amigável para a visualização de conteúdo multimídia (que, na época, era distribuído em CD-ROM). Mas os consumidores o viam como um console para jogos caro demais. Sem apelo para o usuário, o Pippin também não atraiu os criadores de jogos. A Sony havia lançado o
PlayStation em 1994, e esses desenvolvedores estavam ocupados criando títulos para ele. Assim, surgiram pouquíssimos jogos para o Pippin. Durante os dois anos em que esteve nas lojas, o console da Apple teve vendas estimadas entre 50 mil e 100 mil unidades, uma ninharia no mercado de jogos.
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5. O Newton queria ser iPhone
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5/7 (Staecker / Wikimedia Commons)
1987 a 1998 O Newton, um ancestral remoto do
iPad, foi apresentado pela Apple como um assistente pessoal digital (PDA) em 1987. Deveria ajudar o usuário a organizar, armazenar e consultar informações que precisasse ter sempre à mão. Sob o comando do então CEO John Sculley (Steve Jobs já estava fora da empresa nessa época), a Apple gastou US$ 100 milhões no desenvolvimento do produto, que foi um fracasso comercial. O Newton era grandalhão e dependia de um sistema precário de reconhecimento de escrita. A carga das baterias durava pouco e não havia um número significativo de aplicativos que pudessem ser instalados nele. São erros que a Apple só corrigiria em 2007, ao lançar o
iPhone, que finalmente cumpriu (e superou) o que o Newton havia prometido duas décadas antes.
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6. O Lisa era poderoso e quase inútil
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6/7 (Michael Vokabre / Wikimedia Commons)
1983 a 1986 Quando se fala em fracassos da Apple, o Lisa é o primeiro a ser lembrado. Em 1979, a Apple montou uma equipe de alto nível para criar o que seria seu primeiro computador com interface gráfica, usando a tecnologia que Steve Jobs copiou da Xerox. O próprio Jobs chegou a liderar o desenvolvimento durante algum tempo, até ser afastado do projeto numa disputa com outros executivos. Ele queria um computador para chamar de seu, já que o Apple II era visto como criação de Steve Wozniak. O nome Lisa era uma referência a sua primeira filha, mas ele só admitiu isso muitos anos depois. Depois de mais de três anos de trabalho e muito dinheiro gasto, o Lisa foi lançado em janeiro de 1983. O exorbitante preço de 10 mil dólares já seria suficiente para fazê-lo fracassar. Mas não foi só isso. O distanciamento da Apple dos desenvolvedores de aplicativos fez com que quase ninguém criasse programas para a máquina. O Lisa era o mais avançado computador pessoal da sua época, mas, como não havia aplicativos para ele, era quase inútil.
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7. O Apple III esquentava demais
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7/7 (Bilby / Wikimedia Commons)
1980 a 1985 O lançamento do Apple III, em 1980, foi um dos maiores vexames da história da Apple. Quando esse computador chegou às lojas, ele tinha tantas falhas que a empresa foi obrigada a fazer um recall do lote inicial para consertá-las. O Apple III foi relançado alguns meses depois e chegou a ser lucrativo para a empresa. Mas calcula-se que o número de unidades vendidas não passasse de 10% das vendas do Apple II. Em 1983, a Apple apresentou uma versão melhorada, o Apple III Plus (na foto ao lado). O desenvolvimento parou em 1984 e o Apple III foi descontinuado no ano seguinte, depois que a Apple conseguiu liquidar seu estoque. As razões para o fracasso são várias e começam com a insistência de Steve Jobs em que os computadores não tivessem ventiladores. Jobs achava os ventiladores barulhentos e deselegantes. Mas, sem um resfriamento eficiente, o Apple III esquentava demais. Sua placa eletrônica principal tinha condutores muito próximos um do outro. Com o calor, as soldas derretiam, provocando curtos-circuitos. Mais tarde, a Apple corrigiu isso alterando o desenho da placa. Embora o Apple III fosse capaz de rodar programas criados para o Apple II, havia falta de bons aplicativos específicos para ele, capazes de aproveitar plenamente seus recursos de hardware. Além disso, com preço na faixa de 4.340 a 7.800 dólares, o Apple III era mais caro que os concorrentes.