Rachel Maia, conselheira e empresária: “Na Tiffany’s nós descartávamos o mínimo possível da pedra. Encontrávamos o corte ideal para que ela brilhasse. É isso que faço comigo, com meu time e com outras mulheres” (Germano Lüders/Exame)
Repórter
Publicado em 25 de maio de 2025 às 08h41.
Última atualização em 25 de maio de 2025 às 10h23.
Errachidia, Marrocos - "Meu currículo mostra a fortaleza, mas ele não mostra as minhas fraquezas." A frase da empresária Rachel Maia resume a potência e a vulnerabilidade de quem foi a primeira mulher negra a ocupar o cargo de CEO em uma multinacional no Brasil.
Com passagem pela presidência da Lacoste Brasil, Pandora Brasil e Tiffany & Co., Maia é uma das palestrantes do ‘Desert Women Summit Brasil’, evento que reúne nesta semana mulheres empresárias e executivas em Marrocos para debater liderança e impacto social.
“Estamos falando de um país (Marrocos) em que 60% das mulheres ainda são analfabetas”, afirmou Maia. “Desse total, 70% vivem em zonas rurais, o que agrava ainda mais a situação de exclusão”, diz.
Seu discurso traz um dado social para lembrar o quanto a mulher avançou e o quanto ela pode avançar na sociedade, especialmente no mercado de trabalho.
Maia hoje lidera a consultoria RM Cia 360 (empresa focada em impacto social e ambiental) e é conselheira de gigantes como Vale, Banco do Brasil e Grupo Pão de Açúcar, além de presidir o Conselho do Pacto Global da ONU no país. Sua experiência a levou a compartilhar no evento DWS Brasil 2025 os 5 pilares fundamentais para mulheres superarem desafios e prosperarem em seus negócios.
Rachel enfatiza que só é possível ocupar espaços de poder com consciência de si mesma.
“Antes de ser presidente da Tiffany, Pandora ou conselheira da Vale, eu precisei me conhecer. Precisei parar de me sabotar”, diz. "Esse pilar envolve reconhecer os próprios talentos, entender os limites e aceitar as vulnerabilidades."
Ela destaca que manter o equilíbrio emocional, especialmente em ambientes hostis ou majoritariamente masculinos, é essencial, assim como uma rede de apoio.
“Nem sempre a autoconfiança vai vir do seu pote — muitas vezes ela vem do olhar de outra mulher ou de um homem que está na liderança. Tenha uma rede de apoio”, diz.
Para Maia, propósito é o que sustenta a trajetória de uma líder, especialmente nos momentos mais difíceis.
“Não estou aqui para ser a única. Estou aqui para abrir caminho. Liderar é também transformar socialmente”, afirma. “Se você nunca fez uma ação inclusiva, está contribuindo para a exclusão. Inclusão se faz com atitude.”
Mesmo depois de décadas de experiência, Maia segue estudando. Atualmente, cursa seu quarto MBA. Para ela, é essencial se atualizar diante de um mundo que muda rapidamente.
“Esse novo mundo não pede licença para te tirar do jogo. Então, senta de novo na carteira e aprende", diz
No mercado de trabalho se destacam aquelas que não recuam diante das exclusões e barreiras estruturais, mas que buscam formas estratégicas de entrar nos espaços e fazer a diferença.
“Às vezes você não vai entrar pela porta da frente, mas vai achar um jeito de entrar e transformar por dentro”, diz Maia. “Se o seu negócio não gera impacto social, ele não é um case de sucesso. Empresas, usem incentivos fiscais para educação. Enquanto você que é uma líder, traga talentos invisibilizados para o centro do jogo.”
Em referência aos anos na Tiffany, Maia compara sua trajetória à lapidação de uma pedra preciosa.
“Na Tiffany’s, nós descartávamos o mínimo possível da pedra. Encontrávamos o corte ideal para que ela brilhasse. É isso que faço comigo, com meu time e com outras mulheres. Toda mulher é uma pedra preciosa que precisa descobrir seu corte ideal.”
*A jornalista foi convidada para cobrir o evento ‘Desert Women Summit Brasil’, em Errachidia, Marrocos.