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Os 3 motivos que estão acelerando o novo fluxo de nômades brasileiros para a Espanha

O estilo “work-life balance” é um dos motivos que está provocando a nova rota de trabalhadores brasileiros para o país europeu

Camila Coutinho, de 33 anos, é profissional de marketing e nômade digital. Se mudou para Madrid este ano para viver uma nova experiência pessoal e profissional  (Camila Coutinho/Divulgação)

Camila Coutinho, de 33 anos, é profissional de marketing e nômade digital. Se mudou para Madrid este ano para viver uma nova experiência pessoal e profissional (Camila Coutinho/Divulgação)

Publicado em 29 de setembro de 2024 às 08h08.

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Nos últimos anos, a Espanha tem se tornado um destino cada vez mais atraente para brasileiros, com um aumento significativo de imigrantes em busca de novas oportunidades profissionais, educacionais e de qualidade de vida. No último ano, mais de 161 mil brasileiros se mudaram para o país europeu, seja por motivos de trabalho ou estudo, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores.

O governo espanhol, atento às mudanças no mercado global de trabalho, implementou políticas que facilitaram a entrada de estrangeiros qualificados no país após a pandemia. Uma dessas mudanças são os novos tipos de visto, como o de nômade digital, que permite a profissionais trabalharem remotamente de território espanhol para empresas estrangeiras, o visto de estudo de idioma, que permite que o estudante possa trabalhar legalmente por 30 horas semanais, e o chamado "visto não lucrativo", voltado para aposentados e pessoas que vivem de renda.

Renata Barbalho se mudou para a Espanha para fazer um mestrado e acabou ficando no país após ver uma oportunidade de empreender em 2007, ano em que fundou a “Espanha Fácil”, consultoria de imigração voltada para pessoas que buscam estudar, trabalhar ou viver na Espanha. Em 2023, ela recebeu cerca de 5.112 solicitações de vistos, sendo que mais de 10% foram para o visto de nômade digital, o que colocou a companhia no ranking Exame Negócios em Expansão este ano, com crescimento de 329,85%, alcançando mais de 8 milhões de reais em 2023.

"Desde a pandemia, temos observado um aumento significativo no número de nômades digitais vindo para a Espanha. Esse público traz não apenas sua expertise, mas também contribui para a economia local, gastando e investindo no país”, afirma a executiva.

Renata Barbalho, fundadora e CEO da Espanha Fácil, visitando Jaén, uma comunidade autônoma da Andaluzia, Espanha. (Renata Barbalho/Divulgação)

Camila Coutinho, de 33 anos, é profissional de marketing e trabalha como digital nômade há alguns anos. A decisão de ir morar em Madrid aconteceu neste ano, com objetivo de expandir o seu portfólio e de aprender um novo idioma.

“Estou aqui a poucos meses, mas já posso falar que estou apaixonada pela cidade,” afirma.

A mudança para outro país causou a Coutinho a sensação de começar a trajetória profissional do zero, mas para ela, já está valendo a pena, apesar dos desafios, como se adaptar a uma nova cultura, ter que começar amizades do zero enquanto está longe de família e amigos, aprender uma nova língua e ter condições para viver em um país que tem outra moeda.

“Se mudar para outro país não é uma decisão fácil, especialmente quando você já tem tudo ‘certo’ em outro país, porém as oportunidades são infinitas. É uma oportunidade de crescer profissional e como pessoa”, afirma Coutinho.

Camila Coutinho se mudou neste ano para Espanha e trabalha como nômade digital. (Camila Coutinho/Divulgação)

O que atrai nômades para a Espanha?

Imposto baixo

Um dos fatores que mais contribui para essa migração de nômades digitais para a Espanha é a questão do imposto. No país europeu, a tributação varia bastante, e Madri é uma das regiões onde os impostos são mais altos, especialmente para residentes – mas curiosamente, nômades digitais e estrangeiros com visto de trabalho qualificado pagam menos impostos nos primeiros anos, afirma Barbalho.

“Isso atrai muitos profissionais estrangeiros, mas é importante estar ciente de que, com o tempo, essa tributação aumenta, e os residentes acabam pagando mais”, afirma a fundadora da “Espanha Fácil”.

Oportunidades de trabalho

A crescente flexibilização dos vistos de trabalho para estrangeiros qualificados, especialmente nas áreas de tecnologia, engenharia e segurança de dados, acaba sendo outro ponto de atração para os brasileiros – além do famoso “catálogo de profissões”.

“Houve uma ampliação do "catálogo de profissões" que lista as ocupações mais demandadas pelo governo espanhol, permitindo que profissionais de diversas áreas possam aplicar para vagas no país”, diz.

O catálogo foi atualizado recentemente, segundo Barbalho, incluindo novas profissões menos qualificadas, o que também atrai trabalhadores estrangeiros para funções operacionais – mas a carência por profissionais de Tecnologia da Informação (TI) segue em alta.

“A área de TI continua sendo uma das mais procuradas, especialmente devido ao avanço tecnológico. Para esse público aplicamos o visto de trabalho de profissional altamente qualificado, quando ele recebe uma oferta de trabalho de uma empresa espanhola que cumpre os requisitos do governo”, afirma.

Leandro Fujii, de 37 anos, é gerente de suporte e se mudou para a Espanha em 2022 em busca de oportunidade de trabalho e melhores condições de vida, como segurança e oportunidade de conhecer outros países.

“Devido à localização, quem mora na Espanha consegue viajar por toda a Europa, além de ser mais acessível ir para África e Oriente Médio, o que possibilita conhecer diferentes culturas e lugares”, afirma o brasileiro.

A cultura de trabalho do brasileiro pode ser um diferencial para quem deseja viver no país europeu, diz Fujii. “Os brasileiros possuem um cuidado maior com pequenas coisas que resultam em um maior valor agregado, e aqui vejo que o que é entregue é a apenas o serviço que foi lhe contratado”.

Leandro Fujii, de 37 anos, é gerente de suporte e se mudou para a Espanha em 2022 em busca de oportunidade de trabalho e melhores condições de vida para a família. (Leandro Fujii/Divulgação)

Qualidade de vida

Barcelona e Madrid estão entre as 5 cidades que os milionários mais estão buscando para viver. O motivo? A qualidade de vida e segurança.

Fujii buscou e encontrou a qualidade de vida que esperava para ele e sua família no país europeu. “Na minha percepção, a cidade como um todo possui um ritmo mais lento em comparação à São Paulo, onde todos vivem com pressa e estressados. Aqui, sinto que as pessoas levam a vida de uma maneira mais leve.”

Assim como Fujii, a brasileira Coutinho escolher viver no país este ano para aproveitar a cultura “work-life balance” europeia.

“Podemos aprender muito com a cultura espanhola. O work-life balance aqui é maravilhoso especialmente quando se compara com Brasil ou Estados Unidos”, afirma a profissional de marketing.

Os desafios dos imigrantes

Apesar das facilidades, há desafios que os imigrantes brasileiros precisam enfrentar, especialmente relacionados ao mercado imobiliário. Com o aumento da demanda por imóveis, impulsionado pelo fluxo de novos residentes, o valor dos aluguéis tem subido significativamente, dificultando a busca por moradia.

"O aluguel de imóveis na Espanha aumentou nos últimos anos, especialmente em cidades como Madri e Barcelona. Além disso é comum que os proprietários prefiram inquilinos com uma renda comprovada e sólida, o que pode ser um obstáculo para quem está começando a vida no país", afirma Barbalho.

Outro desafio destacado é o câmbio, uma dor de cabeça para muitos brasileiros que planejam se mudar para o país europeu.

"O euro está em alta, o que torna o planejamento financeiro essencial. Quem trabalha remotamente, mas recebe em real, precisa estar preparado para essa desvalorização cambial", diz a fundadora da Espanha Fácil.

Para o brasileiro Fujii o impacto cultural na forma dos espanhóis se expressarem pode causar um desconforto. "Eles são muito mais diretos, enquanto os brasileiros tendem a ser mais sutis, o que pode causar um estranhamento em algumas pessoas, mas como em todo o lugar, é possível ser feliz respeitando as diferenças".

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