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Orgulho LGBT: dicas de carreira para profissionais trans

Confira as dicas sobre busca de emprego, currículo, entrevista e redes socias

Bandeira do orgulho trans: (nito100/Getty Images)

Bandeira do orgulho trans: (nito100/Getty Images)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 28 de junho de 2020 às 09h30.

“Não esconda quem você é. Só assim vai saber como a empresa reage. Quando procurar emprego, fale que é trans, mesmo que mande o mesmo texto de apresentação sempre”, aconselha Allan Crisafulli Santos, que trabalha como engenheiro de software na Avanade.

Em sua carreira, o profissional fez a transição do empreendedorismo para a programação. Primeiro formado em jogos digitais pelo Senac, Allan já teve uma empresa na área e ingressou na Avanade em 2018.

“Foi a primeira vez que trabalhei como CLT. Entrei pelo curso do Gama Academy como engenheiro de software e no meu primeiro ano fui promovido. A Avanade foi uma empresa legal para mim desde o começo”, comenta ele.

No primeiro ano de empresa, Allan também sentiu ali a confiança e acolhimento para fazer sua transição de gênero.

“Foi muito tranquilo. Eu fui contando aos colegas um por um, conforme fui me sentido à vontade. A última pessoa que contei foi meu gerente. Ainda tinha certo receio, mas também foi sossegado. A mensagem que recebi foi de suporte e abertura para dizer o que precisava. Como para momentos que tinha que me ausentar para ir ao cartório para mudar meus documentos”, fala Allan.

Dar suporte e informar sobre inclusão e diversidade são duas ações fortes que a empresa estabeleceu para acolher seus colaboradores de grupos minorizados, mas eles não param por aí. A Avanade também tem um posicionamento firme contra discriminação em seu código de ética, dando assim a segurança de que o preconceito não será tolerado ali.

A lição mais forte para eles foi valorizar as sugestões de seus colaboradores sobre os temas relacionados às suas vivências, procurando sempre seu feedback e abrindo espaço para construírem juntos sua política de inclusão.

No Dia do Orgulho LGBT, os profissionais trans não se destacam aqui apenas como homenagem a uma das líderes do movimento que originou a data em 1969, a ativista Marsha P. Johnson, que era travesti.

Entre a comunidade LGBTI+, os Ts (transexuais, travestis e transgêneros) são os que encontram mais adversidade para ter acesso ao mercado de trabalho, de acordo com o Guia Exame de Diversidade.

Com a dificuldade para entrar no mercado formal, a população trans fica mais vulnerável. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% das pessoas trans já recorreram ao trabalho sexual em algum momento da vida.

Junto ao preconceito, eles estão mais sujeitos à violência. De acordo com a Antra, entre janeiro e abril de 2020, o número de assassinatos de pessoas trans aumentou 48% no Brasil. Em 2019, o Brasil se manteve como o país que mais mata travestis e transexuais no mundo.

Mais oportunidades dentro das empresas podem ajudar a transformar essa realidade. Para ajudar na busca de empregos, Gabriela Augusto, especialista em Diversidade Corporativa e fundadora da Transcendemos, dá algumas dicas voltadas para pessoas trans.

Para começar sua busca

“A primeira dica é procurar por empresas que tenham compromisso com a diversidade”, recomenda a especialista. “Hoje, grande parte delas coloca uma indicação de que incentivam candidatos diversos na descrição de vaga. Mas vale pesquisar no Google e nas redes sociais quais são as ações da empresa”.

Currículo

“É muito comum que coloquem dois nomes no currículo, mas isso pode acabar confundindo o recrutador, que não sabe como se referir a pessoa. Isso gera grande discussão entre os RHs, mas a conclusão é que você deve colocar o nome social”, diz ela. “Se a empresa não entende, já funciona como um filtro. E, se se sentir confortável, também pode colocar no currículo que é uma pessoa trans”.

Com muitas pessoas trans fora do mercado de trabalho, pode ser difícil redigir a parte de experiências. A dica da especialista é buscar ferramentas e exercícios online de autoconhecimento para conseguir destacar as habilidades que pode ter desenvolvido ao longo da vida.

Normalmente, a história pessoal fica de fora do currículo e é relatada durante a entrevista de emprego. Segundo Gabriela, transgêneros e travestis podem pular essa “regra” e escrever um pouco sobre si no documento.

O importante é entender como sua jornada ajudou a desenvolver pontos fortes que possam se vender para o mercado, como trabalho em equipe, empatia ou resiliência. No LinkedIn, essa introdução pode entrar na área “Sobre mim” do perfil.

Vai escrever seu primeiro currículo? Confira os modelos para baixar e preencher.

Entrevista de emprego

“Uma dica importante é sobre as roupas para a entrevista. Temos muitas pessoas que não estão inseridas no contexto corporativo e acaba sendo mais difícil acertar o dress code. Muitas vezes, eles estão na informalidade e vão fazer a primeira entrevista da vida. Aqui, a melhor coisa é olhar as redes sociais da empresa e ter uma atenção especial em como os funcionários de lá estão se vestindo”, recomenda ela. 

Para o momento da entrevista, a fundadora do Transcendemos reconhece um desafio: ter confiança, no outro e em si.

“Acho que a ideia é ir de coração aberto. Muitos ficam com um pé atrás com as empresas, achando que querem uma pessoa trans para sair bem na foto. Hoje existe um movimento global de apoio a diversidade. Não é por ser bonito ou por marketing, mas para incentivar a criatividade e inovação. Você precisa ter isso em mente”, disse.

Da mesma forma, Gabriela também recomenda chegar de cabeça erguida na entrevista, sem duvidar que merece pertencer aquele lugar. “Você deve se colocar como alguém que vai acrescentar seu valor à empresa”.

Redes sociais e WhatsApp

Em um processo de busca de emprego, a comunicação é essencial. Uma prioridade deve ser garantir que o recrutador vai conseguir entrar em contato para não perder nenhuma oportunidade. Manter um endereço de e-mail que consiga checar, com um nome adequado para o mercado, e um número de telefone atualizado é essencial.

Um cuidado extra é tomar cuidado com suas fotos nas redes e com as configurações de privacidade nas redes sociais. Como qualquer profissional, é preciso zelar pela sua marca nas redes caso os recrutadores façam essa busca.

“Sua foto no Instagram ou de contato no WhatsApp deve ser um meio termo, não precisa colocar uma foto de terno. Ao mesmo tempo, tente fugir de algo muito informal ou sensual. Essa é uma questão que pesa para as trabalhadoras sexuais. Na hora de procurar emprego, é possível tomar alguns cuidados para dividir as duas trajetórias”, fala.

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