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"Óculos de realidade virtual podem começar a ler intenções humanas", diz Amy Webb

A futurista Amy Webb acredita que este é o real motivo por trás da disputa entre as big techs pelo melhor “computador facial”

óculos de realidade aumentada

óculos de realidade aumentada

Gabriela Cardoso
Gabriela Cardoso

Repórter na Exame Corporate Education

Publicado em 10 de março de 2024 às 12h29.

Última atualização em 10 de setembro de 2024 às 17h03.

Já imaginou andar pelas ruas com óculos que vão substituir o celular, o computador, aumentar o campo de visão externa, detectar sentimentos e até prever ações? 

Segundo Amy Webb, uma das maiores futuristas do mundo e CEO do Future Today Institute, esse cenário já começou a ser desenhado na disputa entre Meta e Apple pelos melhores óculos inteligentes do mercado, que ela prefere chamar de computadores faciais.  

“Computadores faciais estão sendo projetados para supostamente ajudar o homem a interagir com o mundo de maneira diferente, mas no meu ponto de vista, eles também estão sendo projetados para prever suas intenções. Eles podem fazer isso, em parte, lendo o movimento da sua pupila. Se você se animar ou se irritar, a sua pupila vai se mover de maneira automática, antes mesmo de você estar ciente desses sentimentos, o que significa que seu computador facial pode prever suas ações antes de você”, disse Webb no SXSW 2024. 

O que promete o novo Apple Vision Pro

O exemplo mais próximo disso é o recém-lançado Apple Vision Pro, que tem a capacidade de utilizar o movimento ocular como se fosse o mouse de um computador. O modelo tem 14 câmeras que capturam diferentes tipos de detalhes, sensores de luz para medir distâncias e criar um mapa 3D ao seu redor, câmeras infravermelhas, acelerômetros, giroscópios e muito mais. 

Durante o lançamento da 17ª edição do Relatório de Tendências Tecnológicas do Future Today Institute, um dos eventos mais concorridos SXSW, Amy revelou que por trás dessas inovações tão cheias de funcionalidades existe um super ciclo tecnológico que vai causar uma transformação sem precedentes no comportamento humano, comparável apenas ao surgimento da energia elétrica e à criação da internet. 

A grande diferença é que esse super ciclo é alimentado por três disrupções tecnológicas simultâneas e convergentes: inteligência artificial, internet das coisas e biotecnologia. E no centro dessa revolução está a Geração T, ou Geração Transição, como Amy batizou todos nós que estamos coletivamente vivendo essa transformação. 

Amy Webb (Photo by Amanda Stronza/Getty Images for SXSW) (Amanda Stronza/Getty Images)

Inteligência artificial e suas tendências

Em 2024 a IA já está nas mãos dos consumidores finais criando textos, imagens e vídeos de alta qualidade, o que Amy considera ao mesmo tempo maravilhoso e aterrorizante, dada a imunidade das grandes plataformas à responsabilidade pelo conteúdo prejudicial gerado por usuários através da IA, como deep fakes e vieses preconceituosos. 

Uma segunda tendência, denominada "Conceito para Concreto", promete facilitar a  forma como interagimos com a IA, simplificando os comandos e trabalhando também conceitos amplos, ao ponto de fazer até um brainstorming junto com o usuário.  

Internet das coisas: riscos e benefícios da unificação de dados

O termo "internet das coisas" foi criado para classificar objetos do dia a dia que podem ser conectados à internet como óculos, relógios, TVs, carros e casas, também frequentemente classificados como "smarts" no mercado.

Amy Webb levou ao SXSW a preocupação com a união desses objetos, cada vez mais comuns e rodeados por sensores que coletam  dados e comportamentos em tempo real, à inteligência artificial. A cientista e futurista acredita que vai haver uma corrida para criar dispositivos que usem essa rede de dados para alimentar o avanço da inteligência artificial. 

Você já tentou repercutir um tema muito recente com o Chat GPT? Se sim, deve ter se surpreendido com a resposta de que a última atualização de conteúdo dessa IA é de 2022. Isso mesmo, o repertório da IA generativa ainda não permite atualização em tempo real. Por essa limitação,  Amy acredita que, nos próximos dois anos, a IA pode esgotar os dados disponíveis na Internet e regredir o seu desenvolvimento.

Para superar esse desafio, empresas estão investindo em um grande modelo de ação para usar dados de sensores conectados a um dispositivo que você teria sempre consigo no bolso. 'Em outras palavras, se estamos tentando construir máquinas que possam pensar e se comportar como nós, precisamos literalmente torná-las mais parecidas conosco", disse Webb.

Biotecnologia - uma nova fase de conexão entre corpo, mente e tecnologia .

Depois da IA Generativa e da Internet das Coisas, Amy anunciou a Biologia Generativa como a terceira e última força do super ciclo tecnológico que vai transformar a maneira como a humanidade vive e trabalha. 

Descobertas recentes aceleraram a convergência entre IA e biologia (ADN, ARN e proteínas), para fazer previsões de moléculas e até genomas completos. Esses novos modelos de IA podem potencializar a criação de medicamentos, alimentos, organismos vivos e fórmulas para proteínas específicas, com potenciais impactos climáticos.

Outro avanço importante trazido dentro da biotecnologia foi a criação de organóides, que são basicamente réplicas de tecidos que funcionam e são estruturados como um órgão. Desenvolvidos por alguns pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, em 2021, os organóides ganharam a recente versão de um sistema de biocomputação, feito de células cerebrais humanas vivas. Isso mesmo,  um cérebro em miniatura que funciona como um computador e isso não é ficção científica, é real

“ A criação de biocomputadores feitos de células cerebrais humanas antecipa uma revolução na forma como abordamos a computação para além dos sistemas criados pelo Vale do Silício",  finalizou Amy Webb.

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