Carreira

O que você pode fazer por você em 2002

Convidamos sete especialistas para uma mesa-redonda. O assunto: apontar estratégias para sua vida e sua carreira. Você vai se surpreender com a opinião deles!

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h33.


MARÍLIA ROCCA
, administradora de empresas, MBA por Columbia, presidente da
Endeavor, ONG que
apóia empreendedores
"O empreendedor tem
de estar a fim de criar emprego, de construir uma organização, tem de ter
um desejo
maior que o de resolver o problema individual."


FELIPE ASSUMPÇÃO
, headhunter, presidente da Spencer Stuart
"O empregado tem de ser
um empreendedor que por acaso tenha estabilidade de receita. Ele é um consultor
com uma relação de CLT  com a empresa."


JOSÉ MONFORTE
, economista, sócio-diretor da Janos Participações, membro do conselho
de administração da Natura
"O que está acontecendo no mercado de trabalho tem a ver  com uma transformação maior
e de longo prazo: nós estamos no centro do palco agora."


MAX GEHRINGER
, colunista de VOCÊ s.a.
e Exame, palestrante, ex-presidente de empresa 
"Em 2002 nós teremos mais empregos e menos bons empregos. A taxa
de desemprego geral cairá, mas os que estão interessados nos bons empregos vão continuar procurando."


RUGENIA POMI
, presidente do Saratoga Institute, pesquisadora
e consultora de RH
"Nós, brasileiros, já estamos mais
aberto  a buscar o trabalho que faz sentido para nossa vida, a ocupação
que nos realiza como pessoa e profissional."


VICKY BLOCH
, presidente da DBM para a América Latina
"É preciso estar aberto a formas alternativas de trabalho, que podem ser o negócio próprio, a consultoria,
a terceirização ou o trabalho por projeto."


MARCIO POCHMANN
, economista, professor da Unicamp, secretário de Trabalho do município de São Paulo
"A educação é importante quando proporciona educação para o trabalho e educação para a vida. Nós estamos vivendo uma época em que viver não
é mais trabalhar somente."

Basta de só falar em MBA. Basta de jornadas noite adentro. Basta de dedicação exclusiva à empresa. O novo mercado de trabalho tem novas regras. A mensagem que ecoa neste momento é: invista em você. Invista seu dinheiro para encontrar a ocupação que lhe traga felicidade. Trate de conhecer seus limites e seus valores. Faça terapia. Procure modelos de inspiração. Vote direito. Eis algumas de suas tarefas para 2002, extraídas da 2a Mesa-Redonda VOCÊ s.a., com sete feras em carreira e mercado de trabalho. O encontro foi realizado logo após o Ano-Novo, ainda sob os efeitos da crise de 2001. Surpreendente: para nossos convidados, há mais motivos para otimismo que para pessimismo. O futuro pertence a você. Como disse Peter Drucker em artigo recente, nunca, como agora, tivemos tanto poder para decidir nosso destino. "Pela primeira vez, estamos no centro do palco", diz José Monforte, sócio-diretor da Janos Participações.

Isso não significa que estamos diante de mares calmos. Os bons empregos estão desaparecendo. Um estudo da Endeavor mostra que em 1980 53% dos empregos vinham das grandes companhias. Atualmente, eles são apenas 38%. Os números dão indícios de uma grande transformação que está acontecendo no mercado de trabalho brasileiro. Novas regras estão emergindo. Primeiro, a má notícia: os empregos nas grandes corporações continuarão em queda em 2002 e nos anos seguintes. A expectativa na DBM, presidida por Vicky Bloch na América Latina, é que as demissões continuem no mundo
- e no Brasil. Trabalhadores de empresas globalizadas ou de multinacionais serão os mais afetados. A expectativa é confirmada por Marcio Pochmann, economista e professor da Unicamp. "Quando a Motorola, a Lucent e o Merrill Lynch decidem demitir nos Estados Unidos, nós sofremos o impacto aqui", diz. A demissão coletiva sempre custa muito caro, mas ainda vale a pena para as empresas que querem cortar despesas no médio prazo. "Veja o caso do Merrill Lynch: o banco vai desembolsar 2,2 bilhões de dólares com a demissão de cerca de 9 000 funcionários. Mas no primeiro ano diminuirá sua folha em 1,2 bilhão", diz Felipe Assumpção, presidente da Spencer Stuart. Se a pressão por custos continuar, as corporações serão cada vez mais enxutas.

Agora, a boa notícia: redução nos empregos não significa redução de trabalho. "Haverá espaço para aqueles profissionais dispostos a olhar outras formas de trabalho além da carteira assinada", diz Vicky Bloch. As alternativas podem ser encontradas num negócio próprio (consultoria ou terceirização), nos trabalhos por projeto ou em contratos por tempo determinado. Isso já é fato no Brasil. O Saratoga Institute, de Rugenia Pomi, constatou em pesquisas que o desligamento voluntário (aquele em que a pessoa pede demissão) tem crescido: passou de 2,8% de todos os desligamentos para 4% nos últimos três anos. O pessoal do setor de serviços, em geral, é o mais propenso a abandonar seus empregadores. "Estamos mais abertos a buscar de fato o que é que faz sentido para nossa vida, em vez de manter o emprego", diz Rugenia.

Autônomo. Eis o modelo desse novo profissional, na definição de Vicky. Pense num trabalho por seis meses, apenas para instalar uma empresa ou para resolver um processo tecnológico. Para ser um autônomo é preciso encarar a vida sem a segurança do emprego. É preciso empreender. Ter a mente aberta para novas experiências. É preciso enxergar que estamos sendo testemunhas de uma transformação muito maior e de longo prazo. Monforte encontrou a resposta na história. Constatou que cada época desenvolve um tipo de mentalidade, que, por sua vez, gera ações que se pode tentar explicar, no seu conjunto, por meio de um verbo. Na cultura da industrialização era "transformar". Na sociedade rural, "extrair".

A sociedade de hoje se move para a cultura da informação, na qual produzir bens será relativamente fácil e terá cada vez menos intervenção humana. Os verbos da nossa era, portanto, mudaram. Para Monforte, eles são "conhecer", "cuidar" e "criar". Explica-se. Estamos assistindo ao florescimento do desejo do ser humano pelo conhecimento; sua alma também tem revelado uma forte vontade de criar, de inovar, de se empenhar nas artes; momentos como o nosso são, ainda, reveladores de maior sensibilidade, o que aguça o espírito de cuidar e manter as pessoas e as coisas que nos dão suporte (meio ambiente, velhos e crianças). "Os sinais estão por aí para quem quiser ver: a multiplicação de ONGs, a dificuldade crescente de colocação de mão-de-obra superqualificada, as descobertas científicas e o crescimento da espiritualidade", diz Monforte.

Conclusão: a mudança no mercado de trabalho é uma das conseqüências da transformação da sociedade. O profissional autônomo, por sua vez, é filho dileto de uma sociedade que coloca o indivíduo no centro do palco. Isso significa que você precisa ser autônomo também para continuar empregado. O profissional que vai sobreviver nas corporações é aquele que se apropria do trabalho
- seja ele empregado ou não. "A palavra emprego nos engaiola e não nos deixa discutir uma coisa muito mais importante. O foco não está mais no processo, no cargo, na definição do conteúdo. Está no indivíduo", diz Vicky. Pense que sua vida útil será preenchida por uma sucessão de trabalhos. Não por uma sucessão de empregos. Para isso, você precisa ser um empreendedor que "por acaso tem estabilidade de receita", diz Assumpção.

Se você é empregado, tenha um planejamento estratégico para a carreira no qual conste onde você agrega valor à empresa e o que espera receber em troca. Quando essa troca se esgota, vá para outra empresa que o ajude a alcançar sua estratégia. "Isso é ser um co-empresário, um empreendedor dentro da empresa. É o que o acionista também espera", diz Assumpção. "O empregado que age como empreendedor é o que vai ficar, porque ele move a roda."

A NOVA NATUREZA
DO TRABALHO

Emprego é relacionamento. Por isso, as demissões são frustrantes, doloridas. Se você vier a passar por uma situação dessas, a equação dos próximos anos, diz Vicky Bloch, está em entender que o trabalho continuará sendo feito. E você pode assumi-lo mesmo não estando na folha de pagamento. Portanto, o que você fará para conquistá-lo? E, depois, como o manterá? Na própria DBM, Vicky faz essa experiência. Alguns funcionários estão na folha, outros vão e vêm conforme o projeto. Quando não estão na DBM, prestam serviços em outros lugares. Na Natura, ex-funcionários estão assumindo a central de atendimento, considerada a jóia da coroa da empresa de cosméticos paulista.

Processos de terceirização, como o da Natura, têm feito que pequenas e médias companhias assumam trabalhadores que antes eram registrados nas grandes corporações. Veja o exemplo de uma empresa apoiada pela Endeavor. Aparentemente, a companhia de quatro anos e meio e faturamento de 70 milhões de reais tem 500 funcionários. Um olhar mais aprofundado, porém, mostra que não se trata apenas de uma empresa. São três no mesmo local. A Tecsis, de Sorocaba, interior de São Paulo, trabalha num esquema conhecido como co-engenharia com duas empresas parceiras. Sozinhas elas não teriam valor algum. Juntas, as três fabricam hélices para geradores de energia eólica e exportam quase 100% da produção. Aqueles 500 funcionários, na verdade, já vivem a nova realidade do mundo dos negócios.

Você tem esperança de que tudo continue como sempre foi no seu emprego? Lamento, mas não será possível. Para entender o tamanho da encrenca, veja a história contada por Vicky Bloch. Ela foi chamada para fazer uma palestra numa grande empresa estatal no Nordeste prestes a ser privatizada. Era a palestra de abertura de um programa, organizado pela companhia, que discutia empregabilidade. Vicky falou sobre o mercado, sobre essa história de tomar conta da carreira, de ser o responsável pelo próprio futuro. Quando abriu a sessão para perguntas, lá no fundo, se levantou um funcionário e disse: "Deixe eu entender o que você está falando. Você está dizendo que eu tenho de pegar aquele camarada que sobe no poste para fazer os fios de alta-tensão e dizer para ele assim: 'Ô Zé, você precisa cuidar da sua empregabilidade?' " O pior é que era exatamente essa a mensagem que Vicky e a empresa que a contratou para a palestra queriam passar. "O camarada que sobe no poste lá no meio do sertão nordestino para botar um fio de alta-tensão tem de entender que a condição de trabalho vai mudar para ele também", diz Vicky.

Quer saber o que você precisa fazer para comandar essa revolução em vez de ser comandado por ela? Veja as recomendações dos nossos convidados da mesa-redonda.

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