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O que significa a mudança da OMS sobre a Síndrome de Burnout?

Segundo pesquisa, 72% da população brasileira sofre alguma sequela do estresse. Entre esses, 32% tem a Síndrome de burnout

Esgotamento: como saber se você está suscetível a desenvolver burnout? (foto/Thinkstock)

Esgotamento: como saber se você está suscetível a desenvolver burnout? (foto/Thinkstock)

Luísa Granato

Luísa Granato

Publicado em 31 de maio de 2019 às 05h55.

Última atualização em 31 de maio de 2019 às 09h45.

São Paulo - Nesta semana, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou a definição da Síndrome de burnout, ou esgotamento profissional, que foi oficializada como resultante de “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”.

A organização também definiu melhor as características predominantes para o diagnóstico da síndrome.

Segundo Ana Maria Rossi, PhD e presidente da International Stress Management Association do Brasil (ISMA-BR), a mudança pode ajudar os profissionais que sofrem com o problema.

Para ela, o efeito que a definição possa ter para os trabalhadores ainda é incerto, mesmo seus colegas de profissão dos Estados Unidos, que ela entrou em contato, ainda não chegaram a um consenso sobre a alteração da OMS.

“Com o código internacional relacionando a síndrome ao ambiente de trabalho, uma decisão na área jurídica pode ter mais clareza, pois vai ser validada contra diferentes interpretações. Mesmo para especialistas da área a definição era um tanto vaga, imagina para um juiz ou desembargador. Acho também que, para os profissionais que tratam e se especializam na área de estresse, ficará mais específico”, comenta Rossi.

A especialista explica que a posição do burnout no capítulo sobre transtornos depressivos causava confusão entre a síndrome e a depressão.

Da mesma forma que o estresse negativo, ou distresse, pode causar efeito físicos, como dores de cabeça e de estômago, a depressão é um dos sintomas comuns do transtorno. A síndrome é o resultado de níveis devastadores de estresse, como define a especialista.

De acordo com pesquisa realizada pelo ISMA-BR em 2018, 72% da população brasileira sofre alguma sequela do estresse, do leve ao considerado devastador. Entre esses, 32% tem a Síndrome de burnout.

Desses, 92% declararam que sentem que não tem condições de trabalhar, mas continuam por receio de serem demitidos. E 49% também sofrem com depressão, com tendência a desenvolver a versão crônica da doença, e 90% praticam o presenteísmo, quando o funcionário está presente fisicamente, mas emocionalmente ou mentalmente distante do trabalho.

São muitos os sintomas do esgotamento, mas a presidente da ISMA-BR ajuda a esclarecer os três pontos fundamentais para o diagnóstico do transtorno. Na OMS, eles foram definidos como: falta de energia e exaustão; distanciamento mental do trabalho; e redução de eficácia.

Exaustão

“É a sensação de que você foi além dos seus limites, quando você sente que está sem recursos físicos e mentais para lidar com a situação de trabalho. Você pode tirar férias, licença ou descansar no feriado, mas não é um cansaço normal - ele se arrasta”, explica ela.

Ceticismo

“É uma falta de reação, o profissional se torna insensível ao que ocorre a sua volta. É especialmente devastador para profissionais de saúde, quando têm burnout, eles se tornam insensíveis com os pacientes, olham para as pessoas que tem que ajudar sem sentimentos ou capacidade de empatia. Também é caracterizado por confusão, reações negativas e alienação”, fala.

Ineficácia

“A pessoa se sente incompetente. Ela nota que quedas na sua produtividade e um aumento na sua margem de erros. Sua atenção se torna espúria. Ela até se puxa para trabalhar mais, mas não tem condições de recuperar”, explica.

Motivação e reconhecimento

A pesquisa da associação foi feita com 1.000 entrevistados de São Paulo e Porto Alegre que atuam nas áreas de finanças, educação e saúde - as três com a maior concentração de grande estresse.

Com o repentino interesse causado pela notícia da OMS, muitas empresas podem se atentar para o acúmulo de estresse no ambiente de trabalho.

Para a Unimed, a preocupação com o burnout já existia. Segundo Viviane Malta, diretora de Administração e Finanças da Unimed do Brasil, ele é um dos principais assuntos abordados nas rodas de conversa do programa de bem-estar da empresa.

“Como cooperativa formada por médicos, temos o compromisso de zelar pela saúde e bem-estar de nossos beneficiários e de nossos colaboradores, portanto trabalhamos para prevenir qualquer fator que possa influir negativamente na qualidade de vida das pessoas”, fala ela.

De acordo com Ana Maria Rossi, existem fatores que tornam o profissional mais propício a desenvolver a exaustão. Afinal, sob a mesma pressão, há funcionários que adoecem e outros não.

“Dois dos grandes gatilhos são a desmotivação e insatisfação. As pessoas que gostam do trabalho e se sentem gratificadas, percebendo que colaboram de alguma forma para a comunidade ou para a empresa, têm menos probabilidade de desenvolver o burnout”, alerta ela.

A diretora da Unimed vê como responsabilidade das empresas criar e colocar em prática iniciativas de prevenção e conscientização sobre o esgotamento profissional.

“Está mais do que claro que ambientes opressivos, com disputas desleais e cobranças descabidas e em excesso levam à estafa dos funcionários e, consequente desmotivação, perda de produtividade e outros reflexos na vida profissional e pessoal”, comenta a diretora.

Entre suas iniciativas, a Unimed possui o Programa Viver Bem - Saúde no Trabalho. Além de buscar motivar os funcionários com palestras, eles realizam sessões de mindfulness e aulas com um educador físico.

As ações têm como objetivo estimular o autoconhecimento, a autoestima, engajamento e saúde física e mental dos funcionários. Uma receita para a prevenção da Síndrome de burnout.

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