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O que Lemann queria ter aprendido antes na sua carreira

Confira o que o empresário mais rico do Brasil faria de diferente se pudesse voltar no tempo e as suas dicas aos jovens


	Jorge Paulo Lemann: "eu acho que sou melhor sonhador do que executor"
 (Scott Olson/Getty Images)

Jorge Paulo Lemann: "eu acho que sou melhor sonhador do que executor" (Scott Olson/Getty Images)

Camila Pati

Camila Pati

Publicado em 1 de agosto de 2016 às 11h46.

São Paulo – O empresário mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, queria ter aprendido antes a ter visão voltada para o longo prazo. Hoje, durante a reunião anual para celebrar os 25 anos Fundação Estudar (acompanhe ao vivo aqui), ele disse que se pudesse voltar no tempo iria ter dado mais atenção a isso e também à importância de agradar o cliente. “ Se tivesse aprendido antes, teria feito muito mais”, disse à plateia durante o evento, hoje em São Paulo.

Confessou também ser melhor sonhador do que executor, e disse que teve sorte de estar cercado de pessoas melhores em execução do que ele, um cuidado que, outro sonhador, como ele, o empresário Eike Batista, não teve e que pode explicar muito do seu insucesso.

A seguir, confira os principais trechos da conversa do bilionário com os bolsistas da Fundação Estudar, fundada pelo empresário dono da 3G Capital, ao lado de Marcel Telles e Beto Sicupira:

Qual o primeiro sonho grande na vida?

Jorge Paulo Lemann: “aos nove anos eu, jogando um torneio de tênis, venci e fui entrevistado. Perguntaram-me o que eu queria ser e eu disse que queria ser campeão do mundo. Nunca fui o melhor tenista, mas aos 40 anos ganhei o mundial de veteranos e aos 50 anos também. Ou seja, não fui o melhor, dei uma enrolada no meio do caminho, mas arrumei outro título. Sempre fui competitivo, sou competitivo, quero ser o melhor, fazer o melhor, é da minha natureza”

De onde vem a inspiração?

Jorge Paulo Lemann: “perdi meu pai com 13 anos e a minha mãe era muito influente na minha vida. Naquela época eu era quase como filho único porque minha irmã é 10 anos mais velha, então era muito próximo da minha mãe e ela me dava muito amor e liberdade. Fui criado em um ambiente em que podia fazer o que queria, e isso teve uma grande influência na minha vida. Minha educação no Rio de Janeiro, a liberdade que eu tinha com 13, 14 anos, ia pescar sozinho em Cabo Frio, tinha que me virar, ia jogar campeonatos de tênis e minha mãe sempre apoiando, me dizendo para tentar mais, para melhorar. Essa foi a minha primeira grande inspiração. Depois eu tentei copiar pessoas legais que eu via no exterior tendo sucesso. Tive acesso ao Goldman Sachs e ao sistema de partnership deles, ao Jack Welch, da General Eletric. O Warren Buffett é uma pessoa inspiradora e tem muito a ensinar. Eu estou sempre tentando aprender. ”

Como foram os primeiros anos de carreira e o processo de reflexão sobre o que seria?

Jorge Paulo Lemann: “até parece que eu tinha tempo para ficar pensando muito sobre o que eu queria fazer. Eram momentos de ter que me virar. Aos 26 anos, eu tinha me juntado com um pessoal da Ivy League, em Harvard, e nós falimos. Aos 26 anos eu estava falido e fui ver o que dava para fazer para sobreviver. Optei por ficar no mercado de capitais, onde tinha a melhor oportunidade. Não foram anos de grande sucesso. Em 1971, a gente conseguiu fundar o que viria a ser o Banco Garantia. De 1961 a 1971 não fiz grande coisa. Fiquei pulando de galho em galho, tentando sobreviver. Para aqueles que estão pulando de galho em galho eu digo: isso acontece, mas dá para chegar lá, dá para continuar e chegar lá.

Um sonho grande que não realizou?

Jorge Paulo Lemann: Sempre tem um pouco. Esse negócio de sonho grande, você tem uma direção, vai naquela direção e às vezes não dá, tem que andar para trás. Por exemplo, o Banco Garantia. Eu trabalhei lá 27 anos, fundei o banco e a minha ideia é que o banco fosse permanente, que tivesse longa durabilidade. Porque o que prova que o empreendedor é bom não é o quanto de dinheiro que ele ganha, mas se o negócio que ele montou vai sobreviver pelos próximos 30, 50 anos. Com o Banco Garantia, minha ideia era que tivesse longa duração, mas por uma série de circunstâncias o banco acabou. Serviu como um aprendizado, deixou legado de algumas coisas boas, mas podia ter sido melhor. Um sonho que não aconteceu não deixa de ser um aprendizado para as coisas que vieram na frente e que pude corrigir o rumo nas coisas que estou tentando fazer agora.

O que o levou a escolher os sócios que tem hoje em suas empresas. Existe fórmula para encontrar o sócio perfeito?

Jorge Paulo Lemann: “nosso processo de seleção não é milagroso, não acontece de um dia para o outro. No Garantia eu tomei um cuidado porque apareciam ‘gênios’ lá dizendo vou trabalhar aí, mas quero 10% do capital e eu nunca aceitei isso. Quer vir trabalhar conosco, virar sócio? Começa pequeno depois você aumenta, é um processo gradualista de escolha dos melhores. É aos poucos, nunca optei por sociedades assim repentinas. A única foi com os belgas (quando foi criada a cervejaria InBev). Tínhamos a cervejarias na América do Sul e decidimos nos unir com os belgas e ter paridade de votos. Foi uma sociedade que não teve tempo para ser muito estudada, examinada. Pulamos no escuro. Todas as outras sociedades foram graduais. Mas com os belgas nossa situação era sermos ou o sapo grande num poço pequeno que era o mercado brasileiro ou partir para ser um sapo grande no mercado mundial. Valia o risco, tomamos esse risco e funcionou bem esse salto no escuro na sociedade. Mas, em linhas gerais, sociedade para se cultivar aos poucos, como o casamento que você vai namorando e vai testando.

Como é a sinergia entre sonhar grande e executar bem e como aplicou isso na sua trajetória?

Jorge Paulo Lemann: “eu acho que sou melhor sonhador do que executor, francamente. Tenho sonhos grandes, gosto de pensar grande para executar corro atrás e sei o que é importante, acompanho o que é importante e tive a sorte de encontrar o Marcel (Telles) e o Beto (Sicupira) que são melhores executores do que eu e funcionou bem. Na semana passada estive com o Eike Batista. Ele é um sonhador, empreendedor, já está pensando em 10 mil projetos, para ganhar bilhões. É um espetáculo em empreender, mas não teve a sorte, não escolheu as pessoas para acompanharem. Ele pensa grande e não teve as pessoas que eu tive em volta para me acompanhar e fazer coisas. Sou mais sonhador do que executor, mas sou o primeiro a reconhecer que só ficar sonhando grande não adianta nada. Almocei com o Elon Musk, da Tesla, maior sonhador da atualidade, num sábado, às duas da tarde. É um malucão em termos de ideias e me disse: ‘ me desculpe, tenho que voltar para a fábrica, estamos tendo problemas e vou voltar para ter certeza de que vamos preencher as cotas de produção. Se não funcionar, vou dormir lá.’ Então, tem que executar, só sonhar não adianta. Eu me apoio em pessoas que são melhores executoras que eu”.

Se pudesse voltar no tempo o que teria feito de diferente?

Jorge Paulo Lemann: “ demorei um pouco para ter visão de longo prazo. Eu - como carioca, pegava onda, jogava tênis - tinha corretora, depois banco de investimento, era um negócio de oportunidades do momento. Demorou um tempo para eu realizar que aquela atividade toda, aquele turbilhão se não pensar em longo prazo, para onde vai, e incutir isso na cultura das pessoas que trabalham com você, você não vai chegar muito longe. Queria ter aprendido a ter visão de longo prazo, a estar mais disposto a investir em longo prazo e com pessoas dispostas a fazer isso. Nossa cultura de corretora, de mercado financeiro, não era de dar importância para o cliente. Ao longo dos anos, eu aprendi que se quiser montar algo maior, não há possibilidade de isso acontecer sem estar agradando as pessoas que estão comprando seus produtos ou a que você está servindo. Se tivesse aprendido isso antes eu poderia ter feito mais.”

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