Livros sobre emprededorismo. (Kryssia Campos/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 5 de abril de 2023 às 16h39.
Última atualização em 5 de abril de 2023 às 16h47.
Toda criança que adentra uma biblioteca está sujeita a salvar, com antecipação, o seu futuro como adulto. Por mais que ela não saiba, mas o acesso a um acervo com obras criativas projetará asas naquele humano.
Ela poderá ser um pássaro. Poderá apagar, ao lado de seus colegas de floresta, o incêndio da falta de criatividade. Será amiga de leões, formigas, cigarras e terá o superpoder de transformar-se em nuvem, para chover nos terrenos áridos que irão fertilizar a mais fina educação.
Ela poderá parar o tempo, apressá-lo, colocá-lo em câmera lenta, vestindo-o com a capa e o anel da justiça. Dará voz aos que merecem, sorrindo para si: “Ela venceu!”
Diante dos superpoderes literários, aquele humano será capaz de afastar o medo maior de estar no escuro, de ser esquecido em um supermercado, de perder os entes que tanto ama. Um livro é um padrinho; uma biblioteca, uma coleção deles.
A varinha de condão é a caneta, o giz, o lápis. Os pensamentos fantásticos, depois do abraço da leitura, escorrerão diante do palco, intitulado papel. Enfim, ah!, a obra...
Ver uma criança, ainda tão novinha, produzindo e reproduzindo o pensamento, é sentir a felicidade quando um avião de papel alcança voo. E o céu se torna o limite. Uma biblioteca está sempre operando milagres; são proféticas amigas da boa-nova.
Quando a coisa vai para a voz (e a criança consegue ler em voz alta), a pronúncia ganha volume. Cantores, atores e instrumentistas passarão a visitar aquelas cordas vocais ainda em formação. Plurais, fonemas, tons, pausas, até se chegar ao orgulho: “Olha só, titio, o que eu consigo fazer!”
Ela, a criança, a partir desse momento, não se acomodará mais. Será mais respeitosa aos termos, verá a sujeira em xingamentos e terá para o seu currículo um adjetivo: interessante! De longe, é possível escutar um jovenzinho agradável. Nas festas, na igreja, na escola, no teatro...
Ah, sim! A gramática! Será a ferramenta desse marceneiro dos textos e de suas compreensões, porque ele quererá lapidar sua voz, seu saber e suas redações. Será um amigo das conjugações, não por força, mas por sede.
Uma criança que adentra uma biblioteca, pela primeira vez, está ali começando a salvar seu precioso futuro.
Nota sobre a criação acima: Gabriela Prioli e Leandro Karnal, ao liderarem uma transmissão ao vivo sobre o Clube do Livro, foram a inspiração para que eu pensasse no poder cirúrgico das bibliotecas e dos livros na minha vida.
Hoje, estou profundamente emocionado por comemorar dez anos como colunista fixo aqui na EXAME.
Muito obrigado,
DIOGO ARRAIS
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Professor de Língua Portuguesa