Carreira

“O papel do líder é desenvolver, não comandar”, afirma presidente da Gerdau

Gustavo Werneck comanda há 7 anos uma das maiores companhias de aço do mundo e compartilha à EXAME sua trajetória e lições de liderança – que não precisam ser a teste de fogo

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau: “Nosso maior desafio é garantir que, daqui a 124 anos, a Gerdau continue sólida e inovadora como é hoje” (Leandro Fonseca/Exame)

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau: “Nosso maior desafio é garantir que, daqui a 124 anos, a Gerdau continue sólida e inovadora como é hoje” (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 13 de fevereiro de 2025 às 16h26.

Última atualização em 13 de fevereiro de 2025 às 16h26.

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Há sete anos como presidente da Gerdau, Gustavo Werneck tem um estilo de liderança que foge dos clichês corporativos. Para ele, ser CEO não é sobre estar no topo da hierarquia, mas sim sobre ser um facilitador para que pessoas e negócios possam atingir seu potencial máximo. “Sempre digo que meu papel é mais de Chief Enabling Officer (diretor de capacitação) do que Chief Executive Officer (diretor executivo). O foco é criar condições para que a empresa e suas pessoas prosperem”, afirma Werneck.

Nascido em Belo Horizonte, Werneck cresceu em um estado que traz no próprio nome a referência às minas que existem em abundância na região. E foi nesse ambiente que ele conheceu o setor de aço e mineração, que o ajudou a moldar sua trajetória profissional.

Com formação em Engenharia Mecânica pela UFMG, Werneck iniciou sua carreira em diferentes empresas da indústria antes de ingressar na Gerdau em 2004. Em 2018, aos 44 anos, assumiu o comando da companhia e, desde então, tem acompanhado uma transformação cultural, sustentável e tecnológica na empresa.

A cultura do fazer

Para Werneck, há dois pilares que definem sua liderança: foco nas pessoas e nos clientes. “Quanto mais se cria um ambiente seguro para que as pessoas expressem suas ideias e exerçam seu potencial criativo, melhores são os resultados. Da mesma forma, entender profundamente as dores e necessidades dos clientes é essencial para entregar valor”, conta.

Esse pensamento ele aprendeu durante um dos grandes desafios de sua carreira, que foi a experiência de viver e trabalhar na Índia por dois anos. “Lá, percebi a importância de saber ouvir de verdade. Nós, ocidentais, temos dificuldade de escutar com profundidade, de absorver diferentes contextos e respeitar as diferenças culturais”, diz. Segundo ele, essa experiência foi essencial para desenvolver uma visão de negócios mais ampla e adaptável, inclusive com o assunto é liderança.

Desde que assumiu o cargo de CEO, Werneck tem dedicado 70% de seu tempo a estar próximo das pessoas. Ele realiza encontros com funcionários em todas as unidades, responde mensagens no LinkedIn e procura conhecer seus times pelo nome. “A melhor forma de transmitir cultura não é pelo que você fala, mas pelo que você faz”, afirma o presidente da Gerdau.

Como ter tempo de sobra sendo líder?

Apesar da alta exigência do cargo, Werneck afirma que tem tempo de sobra. O segredo? Está em delegar. “Um líder consegue ter mais tempo quando ele contrata e desenvolve pessoas melhores do que ele e cria uma estrutura que funcione sem sua intervenção constante”, diz.

Ter uma vida além do trabalho também é uma escolha de Werneck, que busca dedicar tempo à família e a atividades que ele gosta, como o karatê, esporte em que se tornou faixa preta. “Se eu falo de saúde mental, preciso cuidar da minha primeiro”, diz o executivo que também se dedica a estudar temas relacionados à felicidade e bem-estar. “Inclusive viajei ao Butão para aprender sobre o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) para aplicar esses aprendizados na Gerdau”, afirma.

Mentoria e inspiração

Werneck é um entusiasta da mentoria e acredita que essa é uma das ferramentas mais poderosas para o desenvolvimento profissional. Ele tem um mentor que ajudou a moldar sua visão sobre a liderança moderna: o professor Subramanian Rangan, do INSEAD. “Foi ele quem me inspirou a ressignificar o papel do CEO, transformando-o em um facilitador do crescimento coletivo”, conta.

Além disso, ele também recorre à mentoria reversa. “Busco aprender com jovens profissionais, com especialistas em diversidade e com pessoas de diferentes áreas para ampliar minha visão e não cair na armadilha de achar que sei tudo”, afirma.

Conselhos que guiam sua jornada

Ao longo de sua carreira, Werneck colecionou conselhos que se tornaram guias em sua liderança. Uma delas reflete sua abordagem de gestão. “Mantenha o modo crise sempre ligado”. Segundo ele, empresas centenárias como a Gerdau precisam estar constantemente se reinventando para não perder relevância.

Outro conselho marcante para ele é a importância da consistência. “Sem compromisso você nunca vai começar, mas sem consistência você nunca vai terminar”.

Planos para 2025: tecnologia, diversidade e sustentabilidade

Para o próximo ano, Werneck pretende manter os investimentos da Gerdau em três frentes principais: tecnologia, diversidade e sustentabilidade.

A empresa já formou mais de 150 cientistas de dados em sua escola interna de tecnologia, o G.Data, e está capacitando uma nova equipe para supply chain.

Na área de diversidade, a Gerdau tem metas claras: até 2025, pretende ter 30% de mulheres e pessoas negras em cargos de liderança. “Não é discurso, é ação. Atrelamos essas metas ao sistema de remuneração de longo prazo dos executivos”, afirma Werneck.

Na sustentabilidade ambiental, a empresa continua investindo na rota de reciclagem de sucata, reduzindo sua pegada de carbono. “Nossa pegada de carbono já é 50% menor que a média global da indústria do aço. Sustentabilidade para nós não é marketing, é estratégia de negócios”, reforça.

Quando o assunto é sustentabilidade financeira, Werneck afirma que a companhia está preparada para enfrentar os desafios do mercado em 2025 - com um olhar atento tanto para os Estados Unidos quanto para o Brasil. "Estamos em um momento de observar e de entender essas primeiras decisões tomadas pelos republicanos, mas enxergamos de forma positiva o impacto nos nossos negócios".

No Brasil, o maior desafio da companhia está com a concorrência do aço importado da China. "O governo brasileiro tem sido um pouco lento na implantação de medidas de defesa comercial. Não queremos proteção, queremos condições isonômicas de competição. Hoje, o aço chinês entra no Brasil subsidiado pelo governo chinês e abaixo do custo, o que está contra as leis da Organização Mundial do Comércio".

Apesar dos desafios, Werneck segue otimista om os negócios para este ano. "A empresa está muito bem-preparada para navegar tanto em cenários difíceis quanto favoráveis e acreditamos que o segundo semestre de 2025 trará melhorias no mercado".

Com um olhar voltado para o futuro, Werneck acredita que a combinação de tecnologia, gestão humanizada e compromisso social é o caminho para manter a relevância da Gerdau. “Nosso maior desafio é garantir que, daqui a 124 anos, a Gerdau continue sólida e inovadora como é hoje”, afirma.

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