Carreira

O fardo da liderança é subestimado nas empresas

Há muita teoria sobre como ser um bom líder, mas pouco se fala do peso emocional que o novo cargo provoca no profissional e como viver esse período de transição

Linda A. Hill: “Quanto mais alto o cargo, mais as pessoas sentem medo, pois dependem 
de mais gente para ter seu trabalho bem-feito” (Divulgação / Stuart Cahill)

Linda A. Hill: “Quanto mais alto o cargo, mais as pessoas sentem medo, pois dependem de mais gente para ter seu trabalho bem-feito” (Divulgação / Stuart Cahill)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 13h44.

São Paulo - Os livros ensinam que, para ser um bom líder, é preciso saber gerenciar uma boa rede de relacionamentos, chefes e pares e, principalmente, conduzir a equipe, para que ela se sinta motivada a cumprir as metas da melhor forma possível.

Afinal, dizem as teorias de gestão de pessoas, um líder só tem sucesso por meio dos outros. O que pouco se lê por aí e quase ninguém conta é que para assumir uma posição de liderança o profissional precisa gerenciar suas emoções. Sim, porque ser chefe é uma tarefa emocionalmente difícil.

Quando assume uma nova função, o profissional ainda está preso à forma antiga como realizava o trabalho, em que o sucesso final dependia apenas de seu esforço e de sua competência. E, de repente, tudo muda.

Ao virar chefe, esse profissional vai depender dos outros para alcançar os resultados e obter sucesso. E, ao se ver preso, o novo líder começa a questionar a validade daquela promoção e se ele tem mesmo um perfil adequado para o cargo.

Em conversa com a VOCÊ RH, Linda A. Hill, professora de administração empresarial e chefe da cadeira de liderança de Harvard, fala do fardo emocional da liderança e dá dicas para o RH ajudar as pessoas a vencer nessa transição.

Em seu livro Being the Boss (Editora Harvard Business Press Books, 2011), a senhora diz que muitos chefes nunca fizeram a transição psicológica para ser um bom líder. O que isso significa?

Linda Hill - A mentalidade que você precisa ter quando vai ser um bom líder é diferente da que tem quando é um profissional individual. E fazer essa transição de indivíduo para líder de grupo ou organização exige mudanças. Eu acho que a maioria não consegue fazer essa transição.

Em parte porque liderar sempre foi difícil, mais do que as pessoas imaginam — e tem se tornado mais difícil ainda. E, em parte, porque as pessoas não aprendem a ter satisfação em seu novo trabalho. Ser líder exige um novo jeito de encarar e gostar do que se faz. Algumas pessoas talvez nunca consigam fazer essa transição — e talvez nunca sintam prazer em fazer o trabalho como um líder. 


Por que está mais difícil liderar?

Linda Hill - Porque o mundo está mais competitivo. Vemos negócios morrendo mais rápido do que de costume. Isso faz com que a velocidade de inovação apenas aumente. Temos uma economia global dinâmica. E todos nós trabalhamos para manter o nosso trabalho. Nos Estados Unidos, todo mundo está trabalhando duro, e tem mais incerteza sobre seu emprego. É desgastante as pessoas viverem nessas condições. E acho que isso está acontecendo por causa da competição.

Por que a satisfação no trabalho muda quando se assume a liderança?

Linda Hill - Quando você é um funcionário individual, tendo sucesso ou não, as coisas dependem apenas de você. Você sente que, se fizer bem-feito, vai produzir boas coisas. Está tudo mais ou menos sob seu controle. Mas não é isso o que acontece quando você se torna um líder. Outras pessoas têm de fazer seu melhor para você ter sucesso. É difícil medir o impacto de seu trabalho quando ele depende dos outros.

Uma das coisas que os líderes me perguntam é: como eu sei que aquelas horas que eu gasto com os subordinados, treinando-os, aconselhando-os, realmente servirão para algo, trarão algo positivo? E, quanto mais alto o cargo, mais as pessoas sentem medo, pois dependem de mais gente para ter seu trabalho bem-feito. O CEO de uma companhia pode ter um empregado que ele nunca viu nem nunca irá conhecer. E esse funcionário pode fazer alguma coisa que leve a empresa a parar nos jornais, mas é o CEO quem responderá por isso.

As empresas ajudam os novos líderes a fazer essa transição?
Linda Hill - Das companhias em que nós damos cursos de educação corporativa, nenhuma fala com as pessoas sobre as emoções ao se tornar um líder. Ninguém antecipa isso. Ninguém fala das expectativas e dos sentimentos negativos que vêm com a promoção. Todo mundo parte do princípio de que a pessoa quer a promoção, quer a oportunidade, quer ter equipe.

Você também acha isso — e seus amigos, e seus pares, e seus familiares. Todos partem do princípio de que é uma coisa boa. Que é uma continuação do que você faz. Mas quando você vira líder não é assim que experimenta a transição.

É possível preparar os profissionais para essa transição?

Linda Hill - Eu acho que só se aprende com a experiência. O profissional tem de vivenciar pessoalmente. Quando começa esse sentimento de “essa promoção foi um erro” ou “eu acho que isso não é para mim”, a pessoa pode entender que isso é um processo de aprendizado, uma etapa. É preciso entender que ninguém nasce sabendo ser um grande líder.

Líderes são feitos. E todos passam por esse processo, ganhando responsabilidade antes mesmo de saber como agir, como fazer. É igual quando você se torna pai ou mãe. Você pode ler todas as publicações do assunto e ficar bem informado. Mas quando o bebê nasce você diz “Oh, meu Deus, o que eu faço agora?”.

Não podemos ensinar as pessoas a lidar com suas emoções. Elas têm de aprender sozinhas. O consolo é que isso é uma experiência comum a todos. Todos passam por emoções ruins. O que pode ajudar é discutir o assunto. 

Então, o RH não tem como ajudar um novo líder?

Linda Hill - A experiência é a melhor professora. Mas uma das coisas que estamos tentando fazer na universidade é exigir dos alunos projetos fora de seu país, onde tenham de conviver com outras pessoas, leis, negócios. Pode até ser um projeto social, mas eles têm de desenvolver um plano para conhecer um mercado diferente.

Esse aprendizado na prática é algo mais próximo da experiência em si, deixa a pessoa psicologicamente protegida. Acho que o RH pode desenhar experiências desse tipo para ajudar as pessoas. O profissional de RH deve pensar também em ser mais inclusivo. Sei que a área precisa pensar em custos, mas você não pode criar programas de liderança que sejam exclusivos a altos potenciais.

O que fazem com os de nível B? Precisa investir neles também. Uma dica: as pessoas estão mais abertas a aprender logo quando mudam de trabalho, de cargo. O RH deve ficar atento a essa transição de carreira e aproveitar melhor essa oportunidades para formar as pessoas. 

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