Melinda French Gates anota os melhores conselhos que recebe e os repete mentalmente (Jamie McCarthy/Getty Images)
Repórter
Publicado em 18 de abril de 2025 às 08h08.
Quando se sente insegura, Melinda French Gates recorre a um hábito simples - e muito poderoso: ela anota os melhores conselhos que recebe e os repete mentalmente.
“Sempre que alguém me diz algo útil, eu anoto. Assim posso recorrer a essas palavras quando mais preciso”, contou a filantropa bilionária de 60 anos em entrevista recente ao Wall Street Journal.
Entre essas frases que se tornaram âncoras em sua trajetória, duas vieram de um velho amigo: o megainvestidor Warren Buffett. Ambas foram ditas a ela e ao ex-marido, Bill Gates, ainda nos primeiros anos da Fundação Gates — e seguem como bússola em sua atuação atual na Pivotal Ventures, empresa de investimentos filantrópicos fundada por ela em 2015.
“Se eu me pego sendo dura comigo mesma em relação à filantropia, lembro-me do que Warren Buffett nos disse: ‘Vocês estão trabalhando nos problemas que a sociedade deixou para trás, e eles os deixaram por um motivo. Eles são difíceis, certo? Então, não sejam tão duros consigo mesmos’”, disse Melinda.
O conselho dado por Warren Buffett a Melinda Gates e Bill Gates é muito valioso e pode ser aplicado em diversas profissões, não apenas no trabalho filantrópico, afirma Joaquim Santini, pesquisador internacional sobre gestão de pessoas.
“É preciso valorizar o esforço empenhado, o aprendizado adquirido e os avanços obtidos, mesmo quando os resultados não são imediatos ou tangíveis. Manter o equilíbrio entre autocrítica e autocompaixão é fundamental para seguir motivado em qualquer área”, diz Santini.
Pesquisas da psicóloga norte-americana Kristin Neff, estudiosa no tema da autocompaixão, mostram que ser gentil consigo mesmo diante dos erros e desafios aumenta a resiliência, a motivação e até a performance, afirma Milena Brentan, psicóloga e consultora para Alta Liderança.
“Em qualquer carreira podemos cair na armadilha da autocrítica excessiva. Esse conselho nos lembra que se cobrar menos não é sinal de fraqueza, mas de inteligência emocional”, diz a psicóloga que já trabalhou por ano como diretora de RH da Airbnb. “Aceitar o tempo das coisas faz parte de um funcionamento emocional mais saudável e mais sustentável ao longo da vida profissional”.
Outro conselho marcante também veio de Buffett no início dos anos 2000, quando o casal Gates se dedicava à criação da fundação. Em entrevista ao LinkedIn News, Melinda relembrou:
“Warren disse: ‘Encontre o alvo daquilo em que você está trabalhando e deixe as outras coisas de lado. Você se sentirá melhor se mantiver seus talentos nesse alvo e continuar trabalhando nessas questões, e se sentirá melhor por abrir mão de outras coisas’.”
Para Santini, o foco promove clareza de propósito, facilita a tomada de decisões estratégicas e otimiza o uso de tempo e recursos. “Focar é, muitas vezes, a escolha mais difícil, especialmente quando queremos abraçar tudo e agradar a todos”, diz a psicóloga.
Mas é justamente a clareza do que é prioridade que permite avançar com consistência. Bretan lembra que Greg McKeown, autor do livro Essencialismo, defende que a verdadeira liderança está em escolher com intenção onde colocar sua energia. O essencialista não tenta fazer tudo — ele reconhece que abrir mão de projetos bons é necessário para poder investir nos que realmente são transformadores.
“Em outras palavras: fazer menos, com mais propósito, não é perder espaço, é ganhar profundidade. Esse tipo de foco não é só uma decisão de produtividade, mas uma escolha estratégica que protege a saúde e a capacidade de gerar impacto real”, afirma Brentan.