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O espaço que elas querem: Essa brasileira fez carreira na NASA e já descobriu 71 vulcões espaciais

A carioca Rosaly Lopes estudou astronomia na década de 70 e foi uma das 4 alunas a se formar em uma universidade britânica. Conheça a história dessa cientista que conquistou um lugar que até então era restrito às mulheres

Rosaly Lopes, cientista da Nasa, em uma missão de estudo de vulcões em Vanuatu, que é formado por 83 ilhas na região da Oceania (Rosaly Lopes/Divulgação)

Rosaly Lopes, cientista da Nasa, em uma missão de estudo de vulcões em Vanuatu, que é formado por 83 ilhas na região da Oceania (Rosaly Lopes/Divulgação)

Publicado em 12 de fevereiro de 2025 às 18h24.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2025 às 18h27.

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A Nasa prepara a americana Christina Koch para ser a primeira mulher astronauta em missão espacial à Lua. A expectativa é de que esse marco aconteça em abril de 2026 - até lá, outras mulheres vão conquistando seu espaço – inclusive estudando planetas, vulcões e asteroides.

Dados do relatório “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, lançado em março de 2024 pela Elsevier-Bori e divulgados pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, mostram que a participação de mulheres na ciência brasileira cresceu 29% entre 2002 e 2022. No entanto, a presença feminina diminui ao longo da trajetória acadêmica.

Rosaly Lopes foi uma das brasileiras que decidiu apostar na ciência. Ela foi uma das 4 mulheres, de uma turma de 31 alunos, que terminou o curso de astronomia na University College London em 1978.

"Quando me formei, apenas 24 alunos completaram o curso, e as quatro mulheres estavam entre elas. Acredito que, quando uma mulher decide seguir essa carreira, é porque ela realmente quer, porque ainda hoje precisamos incentivar mais mulheres na ciência", afirma.

Atualmente, Lopes é uma das maiores especialistas em vulcanologia planetária do mundo e uma das cientistas brasileiras mais reconhecidas na NASA. Como Vice-diretora de Ciências Planetárias no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), um laboratório de pesquisa que coordena missões não-tripuladas da Nasa pelo Sistema Solar, ela tem uma história marcada por desafios, conquistas e uma paixão inabalável pelo estudo do espaço.

O sonho de explorar o espaço

Nascida no Rio de Janeiro, em Ipanema, Rosaly cresceu fascinada pela corrida espacial. Desde pequena, acompanhava o programa Apolo e sonhava em ser astronauta. "Eu queria ir ao espaço, queria ir à Lua. Mas, sendo brasileira, míope e mulher, percebi que seria difícil", conta. Determinada a fazer parte desse mundo, decidiu seguir a carreira de astrônoma para contribuir com missões espaciais.

Em uma época em que mulheres na ciência eram raridade, Rosaly encontrou inspiração na engenheira Frances Northcutt, que ajudou a calcular a trajetória de retorno da missão Apolo 13. "Eu guardei aqueles recortes de jornal por muito tempo. Era a prova de que mulheres podiam trabalhar no programa espacial”, conta.

O primeiro voo: Reino Unido

Mesmo sem antecedentes científicos na família, Rosaly teve o apoio dos pais para investir nos estudos. Seu pai, um homem de negócios, acreditava que a educação era o maior legado que poderia deixar para as filhas. Aos 18 anos, ela ingressou na Universidade Federal do Rio de Janeiro para estudar astronomia. No entanto, sua grande ambição era estudar na Inglaterra, país pelo qual se encantou durante um curso de imersão em inglês.

Com apoio do consulado britânico, conseguiu ser aceita na University College London, uma das instituições mais prestigiadas do mundo.

Dedicada à pesquisa, seguiu para o doutorado na mesma instituição. Sua especialização em vulcanologia planetária abriu portas para um futuro brilhante, mas sua grande chance veio quando conheceu um cientista do JPL em um congresso. "A situação na Inglaterra estava difícil, não havia muitas bolsas de pós-doutorado. Esse cientista mencionou que a NASA tinha oportunidades abertas para estrangeiros. Fiz minha candidatura e fui aceita", conta.

Chegada à Nasa e grandes descobertas

Em 1989, Rosaly mudou-se para os Estados Unidos com uma bolsa de pesquisa. Dois anos depois, tornou-se cientista da NASA, onde fez descobertas que impactaram a exploração espacial. Seu trabalho na missão Galileu, que explorou Júpiter e suas luas, a tornou uma referência global. "Descobri 71 vulcões ativos em Io, uma das luas de Júpiter. Apareci até no Guinness Book", lembra a brasileira que deu a entrevista em um escritório diretamente da Nasa, em uma unidade na Califórnia.

Rosaly também sugeriu os nomes de dois vulcões na lua Io, inspirados na mitologia indígena brasileira: Tupã e Moná. Hoje, ela lidera um dos comitês internacionais de nomenclatura para luas e acidentes geográficos de planetas.

Desafios e conciliação da carreira com a vida pessoal

Rosaly é cidadã americana e britânica, mas nunca perdeu suas raízes brasileiras. É mãe de um filho de 30 anos que está estudando medicina nos Estados Unidos e sonha em ser astronauta. "Criar um filho trabalhando na Nasa não foi fácil. Tive apoio de uma au pair e, depois, ele foi para um day care. Mas acredito que o mais importante é a qualidade do tempo que passamos com os filhos", diz.

Longevidade: um requisito para ser astronauta

Atualmente, ela ocupa um cargo de liderança no JPL e participa de projetos importantes, como a missão Juno, que está observando Io. Apesar de ter tentado ser astronauta, sua idade foi um impeditivo. "Quando tentei, já tinha mais de 50 anos. Não há limite de idade, mas o processo é muito seletivo. A NASA investe anos no treinamento de um astronauta, e eles querem alguém com a maior longevidade possível para missões futuras."

Dicas para mulheres que sonham com a ciência

Com mais de 30 anos na NASA, Rosaly viu a presença feminina crescer no setor, mas ainda são minoria. "Na época em que entrei, os cargos mais altos eram ocupados por homens. Hoje, temos uma mulher como diretora do JPL, o que é um avanço", diz.

Para quem sonha em seguir carreira na ciência, ela aconselha: "Estude, tenha dedicação e paixão pelo que faz. A ciência é uma área muito competitiva, e você precisa estar disposta a estar sempre aprendendo. E tenha domínio do inglês, porque a linguagem da ciência é global."

E, para as meninas que sonham em trabalhar na NASA, ela compartilha sua mensagem que ouviu um dia do seu pai no Brasil.  "Se você quer algo, corra atrás dos seus sonhos, mas entenda que precisará de muita dedicação."

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