Corolla (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 19 de abril de 2013 às 18h43.
São Paulo - A venda de carros no Brasil bate recordes históricos desde 2009. Em 2012, foram emplacados 3,6 milhões de automóveis, um aumento de 6% em relação a 2011. Para 2013, a perspectiva é novamente de crescimento. De acordo com Flávio Meneghetti, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a previsão para este ano é de aumento de 2,8% nas vendas.
As contas da Fenabrave consideram o retorno gradual das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja redução estimulou o mercado em 2012, e um crescimento de 3% da economia brasileira em 2013.
Parte desse crescimento se deve às empresas que compram veículos para seus funcionários trabalharem. Entre frotas e sedãs de executivos, as compras corporativas respondem por, aproximadamente, 25% do total de unidades vendidas no Brasil, segundo estimativa da consultoria Jato Dynamics, de São Paulo.
Esse número pode ser bem maior, semelhante ao de países europeus. Na Alemanha os carros corporativos representam 32% do mercado, de acordo com dados do KBA, o departamento federal alemão de transporte automotor.
Espera-se um crescimento no Brasil porque as pequenas e médias empresas começam a perceber que, se quiserem atrair profissionais de grandes empresas, devem oferecer o automóvel como benefício. “Os executivos exigem”, diz Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics.
A Toyota, que já oferecia o Corolla e a Hilux para venda corporativa, tornará disponível neste ano o compacto Etios. De acordo com Horácio Eduardo de Oliveira Pinto, gerente de vendas diretas da montadora, 2013 será um ano promissor para as vendas corporativas.
“A estratégia é oferecer um carro na faixa de 47 000 reais para atingir cargos mais baixos, como o de gerente”, diz. Num mercado em que existe disputa por profissionais, as grandes empresas têm usado o carro como isca para fisgar executivos em concorrentes.
E muita gente cai nessa estratégica. “Um automóvel funciona como sinal de status”, diz Rodrigo Redorat, gerente do Hay Group, consultoria de gestão de negócios, de São Paulo. De acordo com ele, um veículo significa, para o executivo, um benefício altamente valorizado e exigido, tornando-se, hoje, um dos itens que entram na negociação de quem está prestes a mudar de empresa.
“Para muitos deles, saber se a companhia oferece carro é mais importante do que o salário”, afirma Laura Lafayette, diretora de RH da Avaya, fabricante de equipamentos de telecomunicações, de São Paulo.
“É a primeira coisa que muitos me perguntam no processo de seleção.” Desde 2005, a Avaya oferece carros aos executivos (presidente, diretores e gerente de vendas e canais), com valores que vão de 64 000 a 170 000 reais, com todas as despesas pagas. Entre os modelos oferecidos estão Chevrolet Captiva e Honda Accord.
A única restrição é a cor: só pode ser preto, azul ou prata. Laura explica que se trata de um alto investimento, mas que a empresa não pode abrir mão dele. “Faz parte do pacote de atração e retenção de executivos”, diz Laura. “Sem ele, corre-se o risco de perder bons profissionais.”
A Nivea, fabricante de cosméticos, investiu, apenas em 2012, mais de 3 milhões de reais entre troca de veículos e gastos com combustível, impostos e manutenção. “Os executivos pedem esse benefício e nos processos de seleção chegam a perguntar modelo e marca oferecidos”, diz Mônica Longo, diretora de RH da Nivea, de São Paulo.
A partir de gerente pleno, o benefício é concedido para todos, e há duas opções de modelo para cada cargo. Nessa multinacional alemã, todo ano é realizada uma pesquisa para saber se os executivos estão satisfeitos com o carro. “Na última, identificamos algumas sugestões e trocamos um dos modelos”, afirma Mônica.
Item valorizado
O valor do automóvel oferecido depende da empresa. De acordo com pesquisa da consultoria de recursos humanos Mercer, de São Paulo, feita com 380 companhias de grande porte, 78% delas oferecem um veículo para seus executivos. Dessas, 87% oferecem para presidentes, 82% para diretores e 72% para gerentes seniores.
Na média, o valor do automóvel do presidente gira em torno de 170 000 reais; 120 000 reais o do diretor; e 73 000 reais o do gerente sênior.
De acordo com Andrea Sotnik, consultora sênior de capital humano da Mercer, do pacote total de benefícios, o valor do carro representa cerca de 40%.
Segundo Rodrigo, do Hay Group, é conveniente para as empresas oferecer o veículo a seus executivos, pois, se tivessem de dar o mesmo valor em salários, os encargos seriam maiores. Na Zambon Laboratórios Farmacêuticos, de São Paulo, há 13 automóveis executivos, que são trocados a cada cinco anos.
Em média, são investidos cerca de 200 000 reais anualmente com as despesas dos carros e sua eventual troca. “Até poderíamos substituí-lo por um adicional no salário, mas o executivo prefere o veículo e a empresa não perde todo o capital, pois pode vendê-lo depois”, afirma Davide Aprile, diretor de RH.
Diante da alta demanda do mercado, as montadoras têm investido nesse segmento com ações para aumentar a compra. De acordo com Attila Fleury, gerente de vendas a empresas da Renault do Brasil, a montadora vendeu mais de 60 000 unidades para empresas em 2012, 16% a mais do que em 2011. Hoje, a venda corporativa representa 25% do total.
As formas de concessão dependem do porte da companhia, mas uma coisa é certa: oferecer automóvel como forma de reter profissionais é uma prática consolidada no mercado brasileiro. A empresa ganha um executivo mais feliz e que a representa melhor. O executivo se sente importante num carro completo e com as despesas pagas. Só o trânsito das grandes cidades tem do que reclamar.