Carreira

DE FRENTE COM CEO: "Nunca é tarde para recomeçar e aprender algo novo”, diz CEO da Roche

Lorice Scalise aprendeu inglês aos 35 anos e é a 1ª mulher a liderar a farmacêutica no Brasil. No podcast da EXAME, ela traz lições de carreira e defende o digital como o futuro da saúde pública

Lorice Scalise, CEO da Roche Farma Brasil: “Quando conseguimos levar uma inovação para um paciente com câncer, o ponto final vira uma vírgula" (Leandro Fonseca /Exame)

Lorice Scalise, CEO da Roche Farma Brasil: “Quando conseguimos levar uma inovação para um paciente com câncer, o ponto final vira uma vírgula" (Leandro Fonseca /Exame)

Publicado em 28 de abril de 2025 às 09h00.

Última atualização em 28 de abril de 2025 às 10h11.

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No interior de São Paulo, entre o verde da roça e a força das comunidades pequenas, uma menina crescia cercada por um sentimento de cuidado. Cuidava-se da saúde das plantas, dos animais, das pessoas — e, mais do que tudo, da existência. Assim começou a história de Lorice Scalise, que hoje, aos 53 anos, é a primeira mulher a liderar a Roche Farma Brasil, farmacêutica suíça que desenvolve remédios para setores como oncologia e doenças raras.

Em entrevista ao podcast "De Frente com CEO", Lorice contou que não escolheu sua profissão apenas por influência familiar, mas pela vida que a atravessou. " A saúde está relacionada com o existir: ou eu existo e cuido da existência do outro, ou eu não existo. "

Ela se formou em Farmácia pela Unesp de Araraquara e chegou à Roche em 2000 como propagandista da Diabetes Care – sem ambição de ser CEO. "A minha carreira me encontrou mais do que eu busquei", conta. "A vida vai apresentando fluxos e, se estivermos abertos, eles nos levam a lugares que nem imaginávamos", diz a CEO

"O que você faz no seu trabalho está deixando um legado para a sociedade?" Lorice Scalise, CEO Roche

Quatro momentos que mudaram tudo

A primeira virada veio logo no início da carreira, quando percebeu a importância de facilitar o acesso de pacientes a monitores de glicose, ainda atuando como propagandista da Roche. Ali, entendeu que observar as necessidades reais e agir sobre elas seria seu motor profissional.

Depois, em 2014, deixou o Brasil para assumir uma posição global na Suíça, atendendo mercados do mundo inteiro. " Quando a gente amplia a consciência, a forma como a gente vê a mesma situação muda completamente. " A experiência fora do país expandiu seu repertório e seu olhar estratégico de forma irreversível.

O terceiro momento de transformação foi assumir a presidência da Roche na Argentina, tornando-se a primeira mulher a ocupar a posição em quase um século de história da afiliada. “Liderar naquele país exigiu não apenas gestão, mas também a quebra de paradigmas culturais em um ambiente tradicionalmente masculino — experiência que moldaria ainda mais sua visão de liderança inclusiva”, afirma.

Por fim, em 2023, veio o quarto marco: seu retorno ao Brasil para assumir a presidência da Roche Farma Brasil, agora com uma bagagem global e uma consciência ainda mais ampla. Voltava diferente — e via o mercado, as pessoas e os desafios também de uma nova maneira.

Disciplina: é a palavra do sucesso

A palavra que atravessa sua trajetória é "disciplina" — mas não no sentido rígido e pesado que muitos associam. Para Lorice, disciplina é suavidade. "Disciplina é transformar o complexo em possível e o impossível em fácil. "

Foi com essa filosofia que, aos 35 anos, começou a estudar inglês, enfrentando o medo e a sensação de incapacidade nas primeiras aulas. Hoje fala quatro idiomas e está aprendendo o quinto. "Se você aprender uma palavra por dia, no final de um ano terá 365 palavras — e isso já é um vocabulário inteiro."

Essa mesma disciplina a move também na vida pessoal: prática de pilates, encontros semanais com amigos, aulas de piano — uma rotina equilibrada entre o físico, o mental e o social. "Eu adoro a definição da OMS: saúde é bem-estar físico, mental e social."

Quebrando arquétipos e criando novos modelos

Ao assumir a presidência da Roche na Argentina e depois no Brasil, Lorice enfrentou outro tipo de desafio: o de ser a primeira mulher no cargo após quase um século de lideranças masculinas. " O maior desafio para as primeiras mulheres não é chegar, é construir novos modelos em que qualquer pessoa possa se ver."

Ela acredita que maternidade e carreira podem coexistir em múltiplos formatos — um aprendizado vivido na prática ao criar três filhos e enfrentar dilemas difíceis, como a distância física durante sua mudança para a Suíça.

"Não existe só um modelo de uma mãe excelente. Existem infinitos modelos possíveis e legítimos de maternidade, e cada mulher deve encontrar o seu próprio jeito de viver essa experiência," diz a CEO.

Dentro da Roche, ela luta por essa diversidade de modelos, apoiando o equilíbrio de gênero na liderança — hoje com 60% de mulheres na sua equipe direta — e defendendo que a licença-parentalidade precisa evoluir para refletir as novas estruturas familiares.

"O tempo compartilhado por uma mãe nunca vai compensar o tempo não compartilhado de um pai. Ambos têm o mesmo valor na vida de uma criança e precisamos construir modelos de sociedade em que as responsabilidades sejam realmente divididas."

Foi com esse pensamento que na Argentina Lorice conseguiu igualar o tempo de 5 meses de licença-parental para mãe e pais.

A tecnologia que muda diálogos – e a expectativa de vida

Sob sua gestão, a Roche Farma Brasil atingiu R$ 4,6 bilhões em faturamento em 2023, com destaque para o crescimento de 39% na área de inovação — medicamentos que mudam o destino de pacientes.

"Quando conseguimos levar uma inovação para um paciente, o ponto final vira uma vírgula," diz. “Em vez de ouvir de seu médico que ‘não há mais nada a fazer’, o paciente pode vislumbrar alternativas, esperança, novos caminhos.

A companhia também investiu mais de R$ 600 milhões em pesquisa clínica no Brasil e aposta em projetos que unem saúde e tecnologia, como a digitalização da jornada do câncer de mama em Curitiba.

Para Lorice, a revolução digital na saúde é uma tendência sem volta — e a inteligência artificial será peça-chave para ganhar eficiência e salvar mais vidas.

"Confesso que vivi"

Para Lorice, o que a faz levantar da cama todos os dias é a vontade de viver e deixar um legado. "Minha profissão me permite viver minha paixão pela saúde, exercer minhas causas e deixar um legado”, afirma.

A CEO também lembra de um livro de Pablo Neruda, “Confesso que Vivi”, que define bem o que ela diz todo final do dia.

“Acho incrível chegar na minha idade e poder dizer: vivi. Vivi minhas paixões, lutei pelas minhas causas e exerci plenamente o meu papel como cidadã e profissional”, diz.

Independente da profissão ou da indústria, Lorice reforça que o importante é saber que o que a gente faz no trabalho pode transformar a sociedade onde estamos inseridos.

"Sempre me pergunto: o que eu estou deixando além de mim? Qual é o legado que fica?”, diz CEO.

E para quem ainda hesita em mudar de carreira, estudar algo novo ou recomeçar, ela lembra o conselho herdado da mãe. " Todo dia traz consigo a oportunidade de um recomeço. Depende só do seu desejo."

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