Young Caucasian sitting at the outdoor table, working with laptop and drinking coffee (Oleh_Slobodeniuk/Getty Images)
Repórter
Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 16h12.
Nos últimos anos, entre as diferentes reivindicações dos profissionais, o regime de trabalho ganhou destaque. Com a pandemia, muitas atividades foram testadas e aprovadas no home office, o que permitiu com que muitos profissionais trabalhassem para empresas dentro e fora do Brasil, criando assim um caminho para a chamada "fuga de cérebros" do Brasil.
Existe um aumento expressivo no interesse dos profissionais em trabalhar com empresas estrangeiras sem a necessidade de se mudar do país, segundo a pesquisa anual “Futuro do Trabalho: onde estamos e para onde vamos”, conduzida pela plataforma de inteligência Futuros Possíveis com o apoio do Grupo Boticário. Os dados indicam que 78% dos entrevistados têm interesse em trabalhar remotamente para empregadores internacionais, um aumento significativo em relação ao ano anterior (diferença de 8 pontos percentuais).
A busca por oportunidades de trabalho fora do Brasil é motivada por alguns fatores, afirma Marcelo Gripa, cofundador e diretor de operações da Futuros Possíveis.
“A possibilidade de uma melhor remuneração em comparação com os padrões locais, incluindo o ganho em moedas fortes como o dólar, libra e euro, é certamente um grande atrativo. Atuar sem sair de casa também é outro grande atrativo, especialmente quando boa parte das empresas brasileiras retomaram o formato presencial”, diz. “Conforme aponta a nossa pesquisa, o interesse de trabalhar fora do Brasil nesse contexto aumentou na comparação com 2013 (de 70% para 78%), um indicativo de que a volta ao trabalho presencial é questionada.”
A remuneração de profissionais brasileiros que trabalham para empresas de fora varia de acordo com a área de atuação, o cargo e o nível de experiência, afirma Gripa. “Estimativas de mercado apontam que o ganho médio mensal gira em torno de US$ 2.600, o que equivale a R$ 13.200 pela cotação atual do dólar.”
A área de tecnologia é mais aquecida para profissionais que optam por trabalhar remotamente sem se mudar do Brasil, com destaque para o desenvolvimento de softwares e aplicativos. O executivo também reforça que setores de design, marketing e comunicação também têm entrado no radar de empregadores internacionais.
Apesar do interesse crescente, a pesquisa destaca um obstáculo significativo: a falta de fluência em idiomas. Muitos profissionais não se sentem preparados para essa transição devido à barreira linguística, e a maioria desconhece processos para encontrar oportunidades de trabalho remoto em empresas estrangeiras. Entre os que não sabem o que fazer para serem encontrados por recrutadores internacionais, pessoas acima de 50 anos lideram.
Para Angelica Mari, CEO e cofundadora da Futuros Possíveis, o interesse em trabalhar remotamente para empresas estrangeiras reflete uma mudança na mentalidade dos profissionais brasileiros, que agora buscam oportunidades além das fronteiras nacionais.
“É interessante ver esse movimento em direção a uma maior conectividade global, especialmente entre mulheres e indivíduos mais maduros, que enxergam no trabalho remoto uma maneira de expandir suas oportunidades sem precisar deixar suas casas”, diz.
No entanto, é importante reconhecer os desafios que acompanham essa tendência, afirma Mari. “A barreira linguística pode ser intimidadora, mas também representa uma oportunidade para investir em educação e desenvolvimento pessoal. Neste cenário, surge a necessidade de iniciativas adequadas de capacitação e suporte para que os brasileiros estejam preparados para competir globalmente no mercado de trabalho".
Em relação à localização, a pesquisa indica que a região Norte é onde as pessoas menos consideram atuar remotamente (67%, dez pontos percentuais abaixo da média nacional).
“Além do idioma ser um entrave nacional, a conexão à internet pode ser uma barreira para este formato de trabalho na região diante das condições precárias de conectividade observadas. Conforme apontou um estudo divulgado neste mês pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), o Norte e o Nordeste são as regiões com as piores condições de conectividade significativa”, afirma Gripa.
A pesquisa também avaliou como os brasileiros enxergam a possibilidade de mudar do Brasil para trabalhar em outros países. Os dados apontam que homens estão mais influenciados pela possibilidade de mudar do Brasil para trabalhar quando buscam um novo emprego do que mulheres (55% vs 52%). Porém, em comparação com o ano passado, houve um aumento de 7 pontos percentuais na proporção do público feminino que considera esta possibilidade em 2024.
Além disso, os grupos mais impactados pela possibilidade de morar fora quando buscam trabalho são as pessoas negras (54% vs 51% brancos) e a classe C (58%). Pessoas na faixa entre 16 e 29 anos também são as mais influenciadas neste sentido, com 63%.
"O aumento do interesse em trabalhar remotamente para empresas estrangeiras surge como um potencial resposta à 'fuga de cérebros' do Brasil. É interessante observar essa tendência crescente, especialmente entre mulheres e pessoas acima dos 50 anos, que veem no trabalho remoto uma oportunidade de expandir suas carreiras sem sair de casa. No entanto, para que esse modelo de trabalho se torne de fato uma alternativa para mais pessoas é necessário haver investimentos em capacitação de idiomas, suporte adequado e divulgação dessas possibilidades de carreira”, afirma Mari.
Esta reportagem foi publicada originalmente em 1 de maio de 2024. Clique aqui para ler o texto original.