Ana Carolina Garini, diretora-geral da ZeroDois% pela Educação
Redatora
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 09h40.
“Quando saí do hospital, pensei: não vou mais apenas existir, eu vou viver.” Foi assim que Ana Carolina Garini descreveu o ponto de virada em sua trajetória. Aos 35 anos, após enfrentar um câncer agressivo, a executiva decidiu que cada escolha profissional e pessoal passaria a ter um propósito claro.
Essa perspectiva, construída entre sessões de quimioterapia e a rotina com uma filha de apenas dois anos, se tornou a base de sua atuação como líder. Hoje, à frente da ZeroDois% pela Educação, ela transforma aprendizados de grandes corporações em impacto social direto, com foco na alfabetização de crianças em escolas públicas.
Ao longo de quase duas décadas, Ana Carolina construiu uma carreira sólida em empresas como Microsoft, Walmart e OLX. Na primeira, passou mais de dez anos no setor de produto, chegando a liderar o gerenciamento do Office, uma das maiores fontes de receita da companhia.
“Percebi que, se não saísse naquele momento, seria B2B para sempre. Eu queria conhecer o consumidor final”, contou, explicando a transição para o varejo no Walmart.
Depois de viver a intensidade do e-commerce e da Black Friday, seguiu para a OLX, onde passou seis anos em cargos de gestão, cuidando de vendas de publicidade e marketplace. Foi ali que consolidou sua visão sobre liderança.
Em 2024, Ana Carolina assumiu a posição de CEO da ZeroDois% pela Educação, ONG dedicada a difundir a filantropia estratégica no Brasil. O movimento mobiliza empreendedores e investidores de startups a destinarem 0,2% do ganho de liquidez pessoal, e não das empresas, para a causa educacional.
Hoje, a comunidade reúne cerca de 80 signatários, entre eles nomes como Fabrício Bloisi, fundador do iFood, e Edson Rigonati, da Astella.
“Já são mais de R$ 15 milhões comprometidos. Queremos chegar a 100 signatários até o fim do ano”, afirmou.
O destino dos recursos é específico, designado à alfabetização de crianças em escolas públicas até os 8 anos. A escolha tem um fundamento claro.
“Cerca de 44% dos alunos não são alfabetizados corretamente nessa idade. Isso impacta toda a vida escolar e aumenta a evasão. Aos 15 anos, muitos não conseguem interpretar textos nem fazer contas básicas, e acabam deixando a escola para trabalhar”, explicou.
Paralelamente, Ana Carolina é co-fundadora da CON, empresa voltada para conexões e conteúdos de impacto. A iniciativa nasceu de experiências pessoais e do desejo de transformar vivências difíceis em ferramentas de apoio.
“Brinco que tive a minha própria pandemia antes da pandemia. Já sabia viver de máscara, já sabia viver isolada. Isso me ajudou a entender como apoiar pessoas e times em momentos de crise”, contou.
A CON cresceu com clientes antes mesmo de sua formalização e, ao lado da sócia Marcela, tornou-se mais um espaço onde Ana Carolina alia gestão a propósito.
A passagem de Ana Carolina pelo programa Advanced Boardroom Program for Women (ABP-W), da Saint Paul, também foi um ponto de virada. A executiva destaca que o conteúdo foi relevante, mas o maior impacto veio das conexões.
O networking entre mulheres foi outro fator decisivo. “Empreender é solitário. Encontrar uma tribo faz toda a diferença. No ABP-W, percebi que não estava sozinha e minhas colegas sentiam as mesmas angústias e desafios. Essa rede se tornou um espaço de apoio constante”, contou.
Para ela, a vivência reforçou a importância de comunidades femininas no ambiente corporativo.
“As maiores vendas e oportunidades da minha carreira não vieram de pitchs formais, mas de conversas genuínas. O ABP-W mostrou isso de forma prática: conexão é ativo estratégico”, disse.
Ana Carolina resume sua jornada como uma sequência de aprendizados guiados pela busca por sentido. Para ela, empreender é, ao mesmo tempo, desafiador e solitário — por isso, defende o valor das redes de apoio.
“As maiores oportunidades da minha carreira surgiram em conversas despretensiosas. Usar o networking de forma genuína faz toda a diferença”, conta Ana Carolina.
Ana Carolina Garini, diretora-geral da ZeroDois% pela Educação
A executiva também acredita que o futuro do trabalho será cada vez mais diverso em trajetórias.
“Sou de uma geração que cresceu acreditando que precisávamos sentar em uma cadeira e ficar nela até a aposentadoria. Hoje vejo que posso ser várias coisas ao mesmo tempo: trabalhar em ONG, empreender, dar palestras. Isso amplia o impacto que posso gerar”, compartilha a diretora.
Com a vida marcada por grandes empresas, desafios pessoais e agora pela missão de fortalecer a educação no Brasil, Ana Carolina Garini carrega uma convicção que orienta suas escolhas: “Propósito não precisa ser algo grandioso como descobrir a cura de uma doença. Pode ser tornar o dia de alguém um pouco melhor. Se conseguir isso, cumpri meu papel.”