Não: o acúmulo de tarefas, além de prejudicar a qualidade do trabalho, pode ter consequências físicas (SIphotography/Thinkstock)
Luísa Granato
Publicado em 12 de abril de 2018 às 06h00.
Última atualização em 12 de abril de 2018 às 06h00.
São Paulo - Sim ou não? Ao receber um pedido de ajuda no trabalho, escolher a resposta positiva parece ser o certo. Afinal, ao se mostrar disponível, o profissional fica aberto para novas oportunidades e mantém um bom relacionamento com seus colegas.
Mas esta é sempre a melhor resposta? Para especialistas, quando a qualidade do seu trabalho e sua saúde podem ser prejudicadas, chegou a hora de dizer não.
O “sim” é um perigo quando as novas demandas entram no caminho das responsabilidades principais do profissional. Para Breno Paquelet, especialista em negociação e professor de gestão de conflitos da Casa do Saber, é importante manter um equilíbrio, respeitando seu limite sem se fechar a novos pedidos.
“Quando o profissional não consegue realizar as entregas prometidas, acaba ficando frustrado e pode tirar o avanço na carreira”, explica. O acúmulo de tarefas, além de prejudicar a qualidade do trabalho, pode ter consequências físicas, como o aumento de estresse, doenças e exaustão.
Para Renata Abreu, coach executiva e especialista em psicologia positiva, é importante observar o que leva o profissional a só dizer sim. “A pessoa pode querer evitar conflitos e parecer educada, mas também pode ser um sinal de baixa confiança ou autoestima”, diz.
A especialista destaca que mulheres têm uma maior dificuldade para falar “não”, seja por quererem se sentir mais valorizadas no trabalho ou porque acreditam que ficarão mal vistas pelos colegas. Ela justifica essa percepção com a propagação do estereótipo feminino que pressupõe uma comunicação menos assertiva e um comportamento mais caridoso.
Negar um pedido exige preparo para que o “não” seja efetivo. Antes de qualquer coisa, é essencial fazer uma auto avaliação para entender suas prioridades e metas. Assim, quando receber uma nova demanda, poderá avaliar o impacto sobre suas responsabilidades.
“A negativa pode vir de uma questão ética, pessoal ou até mesmo da falta de critério na hora de delegar tarefas. Temos que saber explicar racionalmente nossas razões e que consequências o pedido tem em compromissos anteriores”, afirma Renata.
O professor Breno Paquelet indica começar o dia fazendo uma lista de prioridades, em vez de abrir os e-mails, prática comum ao início do expediente. “Ao ler as mensagens primeiro, você já começa o dia fora do seu foco, colocando as demandas de outros antes do que precisa fazer”, explica.
Ter uma clareza do que é prioritário torna a decisão mais racional e ajuda a justificar a negação. Também cabe negociar o que fica melhor para as duas partes e o objetivo mais amplo da equipe. “Se mais importante, a nova tarefa pode substituir uma outra prioridade. Vale combinar um novo prazo e alcançar um equilíbrio”, diz o professor.
Para os dois especialistas, a forma como o “não” é dito suaviza o impacto que a resposta pode ter no ambiente de trabalho. Estar atento para a linguagem e seu interlocutor é um caminho para não errar.
“Às vezes importa mais onde e como se fala. A resposta deve ser assertiva e racional, porém adaptada a seu histórico com a pessoa, se já aceitou seus pedidos antes, e sua posição na equipe em relação a ela”, explica Abreu.
Para Paquelet, o “não” pode ser positivo se o profissional mostrar que ainda está disponível no futuro, por meio de seu posicionamento sobre a questão, a negociação e a linguagem.