Em 2022, mulheres recebiam 78,8% do rendimento dos homens, segundo estudo (Dusan Stankovic/Getty Images)
Repórter
Publicado em 8 de março de 2024 às 10h06.
Última atualização em 8 de março de 2024 às 10h37.
Mulheres estudam mais e ganham menos que os homens no Brasil, segundo a 3ª edição do estudo “Estatística de Gênero – Indicadores Sociais das mulheres no Brasil”, realizado pelo IBGE com dados PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) e da Pesquisa Nacional da Saúde, entre 2018 a 2022.
Em 2022, mulheres eram 39,3% dos ocupados em cargos gerenciais (variando entre as atividades econômicas). Quando o recorte é salário, homens ocupando cargos gerenciais tiveram rendimento de R$ 8.378, enquanto o rendimento das mulheres nesses cargos foi de R$ 6.600 (78,8% do rendimento deles).
Essa diferença salarial acontece com as mulheres em quase todas as atividades, apenas em duas áreas elas se destacam: saúde e educação.
A história de que a escolaridade mais elevada leva a melhores oportunidades de emprego, não reflete a realidade do mercado brasileiro. Segundo o estudo, o gênero feminino apesar de investir mais em estudos, não necessariamente tem os maiores salários.
“O estudo mostra que mesmo com escolaridade mais elevada, as mulheres não conseguem ocupar posições menos precarizadas no mercado de trabalho e acabam atuando em setores com menor nível de rendimento e em cargos menos elevados. Muitas mulheres, por exemplo, estão trabalhando com cuidados de pessoas, praticamente 90% é feminino", diz Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE.
"O estudo mostra também que ainda existe uma dificuldade de inserção das mulheres em áreas de exatas por uma questão ainda cultural no Brasil, em que há carreiras típicas de mulheres e de homens", afirma.
Em domicílios nos quais você tem crianças com até 6 anos de idade, o estudo mostra uma menor participação da mulher no mercado de trabalho.
Em 2022, o nível de ocupação de mulheres com crianças de até 6 anos no domicílio era 9,6 pontos percentuais (p.p) menor do que o de mulheres sem crianças no domicílio. Entre as mulheres pretas ou pardas a diferença chegou a 10,7 p.p.
Por outro lado, a presença de criança no domicílio aumenta a ocupação de homens no mercado.
Como a maternidade acaba impactando a vida profissional da mulher, elas estão optando em ter filhos com idade a partir de 40 anos, segundo o estudo.
A redução do número de filhos por mulher apresentou uma queda de 13,0% entre 2018 (2,94 milhões) e 2022 (2,56 milhões), com destaque para idades entre 10 e 39 anos.
Dados do SINASC/DATASUS indicam que houve redução significativa dos nascimentos no grupo de 10 a 19 anos entre 2010 e 2022: de 552,6 mil para 315,6 mil (- 42,9%).
Em 2022, as mulheres se dedicaram aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas quase o dobro do tempo dos homens, de acordo com o estudo do IBGE, com maior destaque para a região Nordeste e para as mulheres pretas ou pardas.
Em 2022, a carga total de trabalho das mulheres era maior do que a dos homens; com carga total de trabalho das mulheres sendo maior na Região Sudeste (55,3 horas semanais).
“É maior a participação das mulheres em trabalhos parciais por conta dessa necessidade das mulheres de fazerem essa divisão das tarefas entre trabalho, família e casa. As mulheres gastam o dobro do tempo com atividades domésticas e representam 90% dos profissionais que trabalham em atividades parciais, como diaristas", diz Mariano.
Em 2022, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53,3%, e a dos homens 73,2% (diferença de 19,9 pontos percentuais). Segundo o estudo, esse patamar elevado de desigualdade se manifestou ao longo da séria histórica – com destaca para as mulheres negras que apresentaram menor participação na força de trabalho.
Em 2022, havia quase o dobro de mulheres ocupadas em trabalhos parciais em relação aos homens. As maiores proporções estavam nas Regiões Norte e Nordeste. As mulheres pretas ou pardas exerciam mais o trabalho parcial do que as mulheres brancas.