Jornada puxada: elas continuam em desvatagem na conquista de melhores salários e cargos
Vanessa Barbosa
Publicado em 29 de novembro de 2011 às 09h39.
São Paulo - Tão ou mais bem preparadas que seus pares masculinos, as mulheres continuam em desvantagem na conquista de espaço no mercado de trabalho . A começar pela remuneração: em média 30% menor do que a deles. Por quê? Para responder a essa e outras questões sobre a inserção feminina no mercado, conversamos com a cientista social e pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre a Mulher e Gênero da UFRGS Adriana Paz. Confira:
Exame - Em linhas gerais, como a senhora explica a diferença de remuneração entre homens e mulheres no mercado de trabalho?
Adriana Paz - O principal fator é cultural. A mulher está segmentada no mercado, em setores que a sociedade define sendo majoritariamente femininos, como os de educação, saúde e serviço social. Tratam-se de funções que remetem a esfera doméstica, ao trabalho da mulher em casa, cuidando dos filhos, do marido, enfim, de todos os familiares. Por remeterem à funções domésticas, essas carreiras são menos valorizadas e as remunerações são mais baixas também. O fato das mulheres de destacarem nessa áreas não representa um progresso significativo nem uma vitória feminina.
Exame - Nas áreas onde são mais presentes, as mulheres ganham até 25% a mais que os homens. Porém, os ganhos masculinos, nos setores onde são maioria, podem ser até 70% maiores que os femininos. O que isso nos diz?
Adriana Paz - Indica uma estratégia de discriminação e desqualificação do trabalho realizado pela mulher. As diferenças salariais por sexo são observáveis entre as carreiras e dentro das carreiras. Há uma relação direta entre concentração feminina e baixos salários: carreiras com maior presença feminina são piores remuneradas e aquelas com menor participação de mulheres são mais bem pagas. Quanto maior a participação de mulheres no contingente de profissionais de determinado campo, menores disparidades salariais ocorrerão. Por outro lado, a menor presença feminina numa profissão assegura maior disparidade salarial.
Exame - Qual a participação das mulheres nos setores majoritariamente masculinos?
Adriana Paz - Quando inseridas em áreas onde a presença masculina é maior, as mulheres, em geral, ocupam posições mais baixas, subalternas, na hierarquia da organização e, consequentemente, auferem menores rendimentos. É curioso observar que a desigualdade salarial é maior nos grupos etários mais velhos, acima de 39 anos, do que entre os mais jovens. No início da carreira, ambos estão em postos de mesma hierarquia, contudo, no decorrer da carreira elas enfrentam barreiras para ascenderem a postos mais elevados, de decisão e de direção, motivo pelo qual se estabelece a discrepância de rendimentos por gênero.
Exame - Hoje as mulheres são maioria nos bancos de escolas e faculdades. São tão ou mais bem preparadas que os homens, e ainda assim encontram dificuldades para se inserir no mercado de forma igualitária. Por que isso acontece?
Adriana Paz - Apesar dos resultados positivos e das conquistas, ainda há muito preconceito contra a mulher, e muitas dúvidas sobre sua capacidade de se entregar ao trabalho. Geralmente, os diretores de empresas enxergam que o homem tem mais disponibilidade no trabalho, para viajar e realizar hora extra. Já a mulher é vista como uma profissional que tem compromissos domésticos, e se tiver filhos, a situação complica, porque a responsabilidade dentro de casa se torna ainda maior. Muitas mulheres acabam desistindo da sua carreira para evitar prejuízos a família. Além disso, toda a estrutura organizacional das empresas é predominantemente masculina. Dessa forma, as chances de avanços nas carreiras ocorrem mais para homens do que para mulheres.
Exame - Os cargos de chefia e alta gerência costumam ser os mais difíceis para a mulher alcançar. E quando chegam lá, elas encontram muitas dificuldades..
Adriana Paz - O comando feminino de maneira geral é fato bastante recente nas organizações. Até o momento, ele requer, de um lado, a aceitação dos padrões masculinos de carreira esperados pelas empresas, por parte das mulheres que desejam desempenhá-lo e, de outro, a aceitação e a legitimação da autoridade feminina, por parte dos homens. Tanto funcionários homens quanto mulheres questionam a autoridade dela, que permanentemente tem que provar sua competência.
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