Mulher esgotada: elas são maioria no RH com quadros de esgotamento (FG Trade/Getty Images)
Repórter de Carreira
Publicado em 19 de maio de 2023 às 09h00.
Em meio a times mais enxutos e excesso de cobrança, até mesmo os profissionais de gestão de pessoas, responsáveis por manter o bem-estar nas empresas, estão sofrendo com o esgotamento. Mas, segundo a 2° edição da Pesquisa Profissionais de Recursos Humanos 2023, realizada pela consultoria Mercer, um perfil em especial é o mais atingido pelas doenças mentais.
Segundo o levantamento, que ouviu 333 profissionais de recursos humanos, de diversos níveis de carreira, perfis e segmentos de atuação, o perfil de RH que mais sofre com diagnóstico de doenças mentais é mulher (73%), casada (66%) e em nível de gestão (71%).
O público feminino, tradicionalmente, é maioria entre os cargos de gestão de pessoas. Mas, para Marisabel Ribeiro, diretora Executiva de Talent Strategy Brasil da Mercer, existem outros fatores que levam as mulheres a serem também as mais afetadas psicologicamente seja no segmento de RH ou fora dele. A primeira delas, mais óbvia, é o fato de que entre elas há menos tabu em falar de saúde mental e, por isso, diferente dos homens, elas recorrem mais facilmente à ajuda profissional.
“Quantos homens não apresentaram e não se atentaram a contento ou estão com os primeiros sintomas de burnout e ainda não sabem? Podemos estar frente a um comportamento de “menosprezo” ou “autocuidado” aqui”, diz a executiva.
Apesar disso, Marisabel reconhece que questões como a dupla jornada e uma maior cobrança das mulheres para realizar tarefas domésticas também precisam ser levadas em conta. “Essa questão da dupla jornada, e as preocupações e organizações da rotina da família, como, por exemplo, as decisões que precisam ser tomadas no dia a dia, ainda exige da mulher um papel mais predominante no gerenciamento familiar, mesmo com alguns homens hoje assumindo esse papel de forma mais efetiva”, diz.
O estudo da Mercer também mostrou que gênero feminino representa 63% dos profissionais que pediram demissão, sendo 64% da geração Y (de 26 a 40 anos), e 81% atuando na área de remuneração e bem-estar.
Assim como para outras carreiras, a pandemia de covid-19 e os desafios que ela trouxe para o mercado de trabalho foi apontado como causa para piorar os quadros emocionais dos profissionais de gestão de pessoas. Segundo 67% dos profissionais de RHs que apresentam problemas de ordem psicossomática afirmaram que seu quadro piorou durante a pandemia.
“A pandemia gerou um aumento do trabalho para todos. E o RH foi protagonista das ações dentro das empresas para se adaptar a essa nova realidade. Isso foi complexo e cansativo para os profissionais”, diz Marisabel.
Para a especialista, é possível ver ganhos no cenário, apesar do esgotamento dos profissionais. “O RH sai desse período de pandemia deixando claro a sua força e relevância dentro da organização. Ele deixa de ser visto como uma área de apoio somente, passa a ser enxergado como uma área estratégica. Mas também fica o alerta sobre como estamos preparando essas pessoas que são a chave para o sucesso da organização”, afirma.
Outro achado curioso da pesquisa é que, apesar do aumento da demanda de políticas organizacionais com foco na saúde mental dos funcionários, poucos profissionais de RH se especializam no tema. Enquanto 97% dos entrevistados se dedicam a estudar novas tendências na área de gestão, apenas 43% procuram se capacitar em temas voltados à saúde emocional.
“Tem se amplificado no RH a necessidade de ter pessoas olhando os temas de diversidade, engajamento e clima. Isso é positivo porque é preciso uma jornada preventiva. Precisamos de dados para que o tema de saúde mental saia do papel e ganhe planos de ação, que sejam acompanhados e tenham o impacto mensurado”, diz Marisabel.